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domingo, outubro 12, 2008 

Quem não tem cão caça com gato

Em dificuldades nas sondagens o ticket Republicano recorre ao que melhor tem para oferecer: o ataque pessoal, a calúnia barata e os "escândalos" de última hora.
Isto na mão direita. Na esquerda, planos mirambolantes para "salvar a economia", tão mais radicais e "esquerdistas" quanto menos são para cumprir.
Os conservadores mais sofisticados, em particular os europeus, deleitam-se com o arrepio que provoca aos democratas americanos e à esquerda europeia, o fascínio que uma populista reles como Palin causa ao labrego da chamada "América profunda", um eufemismo que de resto tem o seu lugarinho à parte na história do talentoso e bem sucedido marketing conservador.
É um fenómeno recorrente, em Portugal acontece o mesmo com o Alberto João Jardim, ainda que, para sermos rigorosos, este faça figura de Nobel da Literatura perante a Governadora do Alaska, mas intriga-me ver esses conservadores sofisticados indiferentes, apenas por motivos de puro oportunismo ideológico, ao facto de a presente candidatura republicana se ter transformado num exercício de arqueologia cultural, particularmente perigoso porque se trata de disputar o poder na mais poderosa nação do planeta.
A escolha torna-se cada vez mais entre a América "normal" personificada por Obama, com todas as suas qualidades e defeitos, sem lugar para as disparatadas expectativas da esquerda europeia, e algo de imprevisível e sempre para o pior.
O consulado de Bush foi sinistro e sinistro é o seu legado.
Mas Bush foi o semi-idiota útil nas mãos de um grupo de personagens intelectualmente estruturados e com ideias bem claras quer quanto a política interna como a externa. Pode entender-se o fascínio que a seita do Bush exerce sobre alguns conservadores europeus.
Mas McCain procurou descolar da imagem de Bush da forma mais literal e portanto mais oportunista e reveladora da sua própria incapacidade para criar um conteúdo alternativo e estruturado dentro do espaço conservador. A sua escolha de Palin, a criatura que ameaça engolir o criador e cujo sucesso ilustra a ambiguidade da telegenia, revelou inconsciência pessoal e política.
McCain tornou-se num zero, e Palin tornou-se na campanha e no programa, sintomaticamente incensada por personagens como o Rush Limbaugh.
Que McCain surja ainda com hipóteses nas sondagens é um sintoma preocupante.