Doença infantil
Graças ao Rogério da Costa Pereira, tive os meus cinco segundos de fama, o que se reflectiu nas visitas ao Bidão.
Acho que bateu o record diário.
O Rogério, a quem daqui devolvo o abraço, teve a simpatia de recuperar um comentário que eu fiz a um post dele sobre os últimos desenvolvimentos da chicana política e promoveu-o a post no Jugular.
Os comentários que fiz situam-se na linha do que escrevi ontem aqui sobre o absurdo de um Primeiro Ministro estar desde há meses refém de uma campanha nojenta, e simultâneamente ser alvo de um processo por ter emitido uma opinião negativa sobre a qualidade do trabalho de um órgão de comunicação.
Em muitas crónicas e comentários nota-se uma convicção quase infantil de que o Primeiro Ministro, por ter sido eleito em eleições livres, e neste caso particular com maioria absoluta, deixou de ter direitos como cidadão e deve permanecer encurralado a um canto perante todo o tipo de ataques.
Qualquer um tem o direito de exprimir da forma como quiser o seu desagrado pelas políticas do Governo. Embora alguns defendam mais "respeitinho", defendo o direito de pessoalizar as críticas e fazê-lo de forma agressiva por palavras e por vezes, também, porque não, por actos. Está nesta linha, por exemplo, a observação rasca do "Xico Esperto"que Marcelo Rebelo de Sousa fez há uns tempos num programa de televisão.
Ora, tanto quanto eu saiba, o Primeiro Ministro não processou ninguém por injúria ou delito de opinião.
O que me parece absurdo é que quem formula acusações concretas gravíssimas sobre o PM, e exige que ele "clarifique" os factos de que é acusado, se admire depois que a forma mais clara dele "clarificar" essas acusações é, precisamente, processar por calúnia quem as faz.
Nem outra coisa esperariam certamente todas as pessoas governadas pelo Primeiro Ministro e é sintomático que um dos sujeitos com quem esgrimi argumentos no Jugular tenha perguntado, "porque é que ele não processou o Charles Smith?". Primeiro desafiam-no a "processar" por calúnia, depois criticam-no por processar sendo Primeiro Ministro, porque, acrescentou o tal sujeito, "não está na Constituição que o papel do Primeiro Ministro seja "processar"" e o que realmente ele devia fazer era demitir-se. A atitude é tão infantil que dói.
É bom notar que tudo isto se passa no contexto de um processo que se encontra ao abrigo do chamado "segredo de justiça" e o segredo de justiça, já sabemos, é o pretexto para calar alguns enquanto outros podem ir doseando a informação de forma a manter um clima prolongado de desgaste.
Nunca é demais lembrar o caso Casa Pia e a forma como Ferro Rodrigues foi continuamente enxovalhado até ser posto fora do tabuleiro.
Lembremo-nos também de que o caso Freeport tem anos e que a fase actual da libertação de informação a conta-gotas já dura há vários meses.
Alguns ingénuos, no grupo dos quais me incluo, têm guardado alguma distância sobre o caso, evitando deixar-se envolver pela balbúrdia pseudo informativa esperando que se terminem as investigações e se faça um julgamento. É pois com alguma surpresa que se constata que o julgamento já foi feito, na praça pública, o que justifica a arrogância com que uma misturada de alarves semi analfabetos e oportunistas políticos com cabeças de cartaz do tipo da inenarrável Manuela Moura Guedes falam do caso.
Uns porque não toleram um partido de esquerda no Governo, outros porque fazem umas contas de aritmética de merceeiro com os resultados de sondagens e julgam que uma hipotética queda de Sócrates lhes vai trazer a tão ansiada Revolução.
Vi há minutos o final do Eixo do Mal e deprimiu-me constatar que o mais entusiasta (o único?)defensor da "normalidade" de tudo isto era o ... Daniel Oliveira. Dizia ele que nos outros países da Europa (não sei se se trata da "europa neoliberal" ou outra), tudo isto é "normal", o resto é "vitimização" do Primeiro Ministro... Dói.