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domingo, abril 26, 2009 

Perplexidade

É dado adquirido em democracia que um responsável político pode ser achincalhado em praça pública em nome da liberdade de expressão, opinião e informação.
É normal e até saudável num regime democrático.
Alguns extrapolaram daqui a noção de que esse responsável político pode ser impunemente repetidamente caluniado.
Não se trata já de dizer que "Sócrates é um bandido que traiu o povo", ou sequer de saber se fez ou não um bom negócio quando comprou a casa. Trata-se de escarrapachar por tudo quanto é sítio que "Sócrates recebeu x milhões de euros para aceitar um relatório que viabilizou a aprovação do Freeport".
Sócrates, e muito bem, evitou o alarido público que esperavam os que lhe pediam capciosamente "explicações" e fez o que minimamente lhe era exigido, processando judicialmente quem considera que o caluniou.
Para os "extrapoladores", porém, Sócrates deve ouvir e calar, isto é, aguardar que se terminem as investigações do caso Freeport, que se encontra num estádio conveniente ironica e hipocritamente designado como de "segredo de justiça".
Mais, segundo luminárias do calibre de Vasco Pulido Valente, Sócrates nem sequer pode reagir enquanto for Primeiro Ministro. Alguns, vão mesmo ao ponto de defender que se Sócrates "fosse sério", deveria demitir-se primeiro e depois ir para os tribunais. Esta última proposta daria uma boa estratégia política. Para desmontar um Primeiro Ministro com maioria absoluta basta chamar-lhe "filho de uma grande puta" no jornal, e se não bastar, informar que "esse sacana falsificou a minha assinatura e roubou as minhas poupanças". Das duas uma, ou o homem se demite, ou, não o fazendo, prova inequivocamente que "não é sério", ou não tem fibra para ser, precisamente, Primeiro Ministro.
Se estas interpretações da liberdade de expressão (não podemos em verdade classificá-las como "liberdade de informação" a menos que estejamos dispostos a considerar o Gato Fedorento como um programa de informação) podem ser questionáveis, onde este recente ataque ao Primeiro Ministro me deixa perplexo é quando evolui para uma inversão dos conceitos de liberdade.
Depois de ser avacalhado da forma mais acintosa durante meia hora por uma figurinha grotesca num programa de pretensa informação, Sócrates é processado pela figurinha e pelo marido desta que por acaso é o director da estação onde ela trabalha, por, numa entrevista a outro canal, emitir uma opinião desvaforável sobre o conteúdo informativo da emissão em que foi atacado .
Não se trata já de um Primeiro Ministro de quem muita gente não gosta não ter direito a emitir uma opinião. Trata-se de um sujeito qualquer, PM ou não, poder ser processado por emitir opinião desfavorável sobre um órgão de comunicação.
Quais são as consequências disto para a liberdade de opinião? Alguém pensa nisto? Fico pois perplexo quando leio este tipo de coisas.