Estado de confusão
A prestável justiça inglesa vai cumprindo o seu dever cívico e, tal como insistentemente se lhe pedia, engavetou sem caução o que parece ser o inimigo público n.º 1 do momento. Não é reconfortante comparar com o tratamento que teve o bom Pinochet, e, a um nível mais comezinho, a forma como essa justiça tem lidado com um personagem como Vale e Azevedo?
À procura de ideias claras sobre o que se passa, topei com o que até agora me pareceu o texto mais sensato sobre a questão, o editorial da Wired de que transcrevo a passagem seguinte:
O estado de confusão da opinião pública mais informada é exemplificado pelos comentários de Rui Moreira na passada segunda feira à noite na RTP2, depois mais uma publicação de documentos pela Wikileaks, comentando a possibilidade de ser uma maquinação americana a acusação de violação feita a Julian Assange pela justiça sueca :
"As pessoas podem acreditar nisso, que se calhar foram os EUA que mandaram violar as senhoras que dizem que foram violadas por ele, também há pessoas que acreditam que foram os EUA que mandaram colocar bombas explosivas nas torres gémeas."
Pouco depois, comentando a revelação pela Wikileaks de que os americanos espiam o Secretário Geral da ONU:
"Com certeza, isso são as condições naturais, certamente que Bah ki moon é espiado porque as pessoas que estão no lugar dele são espiadas, é espiado seguramente pelos EUA, e como de ve ser pela Russia, pela China, e como deve ser por outros."
Seria bom perguntar a Rui Moreira se acha que a resposta que um governante americano inquirido se os EUA espiam o Secretário Geral da ONU, será:
"Com certeza, isso são as condições naturais, certamente que Bah ki moon é espiado porque as pessoas que estão no lugar dele são espiadas, é espiado por nós, pela Russia, pela China, e por outros."
No caso negativo, quais são as razões que o levam a duvidar da existência de métodos pouco ortodoxos dos serviços secretos americanos para lidar com gente incómoda e simultaneamente achá-los "normais" noutras circunstâncias.
Bastou mudar ligeiramente o enfoque para que Rui Moreira, sem se aperceber da contradição, com toda a candura achasse não só "normal" a "conspiração", como até, JUSTIFICÁVEL.
Bastou mudar ligeiramente o enfoque para que Rui Moreira, sem se aperceber da contradição, com toda a candura achasse não só "normal" a "conspiração", como até, JUSTIFICÁVEL.
Mais adiante, Rui Moreira afirmou que Julian Assange tem de ser parado por se tratar de um perigo para a democracia e para a administração Obama, para seguidamente nos tranquilizar que a Wikileaks não revelou nada "embaraçoso para os EUA", qualquer coisa como, por exemplo, provas de que conspiraram ou conspiram para derrubar um Governo.
Quero dizer, Rui Moreira respira aliviado porque afinal nada transpirou que beliscasse, a seu ver, a imagem pacífica dos EUA que ele tem, referindo algo que subconscientemente (ou conscientemente) ele sabe que é um dos pratos do plausível menu em cima da mesa, isto é, a participação conhecida dos EUA ao longo do último século em actividades dessa natureza.
E que dizer da necessidade tão aguda de parar alguém que afinal não revela nada de particularmente importante?
E que dizer da necessidade tão aguda de parar alguém que afinal não revela nada de particularmente importante?
A relevância destas declarações de Rui Moreira advém de se tratar de uma figura pública conhecida, típica de uma "elite" comentarista que surge frequentemente nos nossos meios de comunicação, e representante de um certo "bom senso", e "equilíbrio" .
Como diz o editorial da Wired, é perturbante verificar que numa época em que os meios de vigilância dos governos e em particular de certos governos, em relação aos seus cidadãos, crescem de forma cada vez mais permanente e imparável, há um sentimento geral de conformidade e anuência, e até escândalo por qualquer ínfima perturbação ao exercício desse poder.
Dizem que os EUA saem mais prejudicados desta situação do que a Coreia do Norte. Será? E será que nós queremos viver num mundo em que um governo é tão impenetrável quanto o governo da Coreia do Norte, ao escrutínio do que faz por detrás da porta ?
Dizem que os EUA saem mais prejudicados desta situação do que a Coreia do Norte. Será? E será que nós queremos viver num mundo em que um governo é tão impenetrável quanto o governo da Coreia do Norte, ao escrutínio do que faz por detrás da porta ?
Não foi nada disso que o senhor disse...o que escreve aqui são fait divers, numa clara conveniência relativamente àquela que é a sua interpretação, que revela ser perigosamente enviesada a um qq e indeterminado extremo...
Posted by Anónimo | 10:36 da tarde
hmmm...o estado de confusão parece ser o seu...porque raio implicam apenas os EUA?
Donde esta Venezuela?
Onde está a Rússia, a China, as Coreias... only USA...why? are you prepared do answer...guess not.
Posted by Anónimo | 10:38 da tarde
ena, e é logo, não foi "nada" disso que o senhor disse... o que foi que disse o senhor, então? Só por curiosidade, porque não me dei ao trabalho de transcrever quase palavra por palavra o que ele disse.
o segundo comentário? Igualmente irrelevante, independentemente de a suposição ser falsa, isto é, as informações divulgadas pelo Wikileaks não se limitam "aos Estados Unidos".
Mas o que está em causa são as democracias coartarem a liberdade de informação, não é se o sr assange é uma boa alma, e se até agora conseguiu ou não informações sensíveis sobre a Coreia do Norte.
Posted by rui | 4:45 da manhã
já agora, para tranquilizar-te (um pouco, porque eu já sei como estas coisas de obstinações são como chover no molhado) quanto ao desiquilibrio informativo, aqui fica um link para uma notícia sobre o Chavez elaborada a partir da fonte Wikileaks.
Posted by rui | 10:02 da manhã