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domingo, março 20, 2011 

A doença infantil da estupidez

No Vias de Facto, Miguel Serras Pereira assina um post de antologia sobre a presente intervenção internacional na Líbia.
Independentemente de eu ter uma perspectiva idêntica quanto à justificação da intervenção e dos problemas e insultos que esta tomada de posição de invulgar lucidez (não inédita no autor) certamente lhe trará, penso que é de destacar a capacidade de encarar questões complexas de frente com honestidade intelectual e coerência política.
Com efeito, é de gargalhada, não fosse a situação trágica no terreno, verificar que os "jihadistas" da treta e revolucionarescos de manif de geração à rasca e fãs dos Homens da Luta do tipo um-diz-mata-e-o-outro-diz-esfola que pululam no que passa na blogosfera por "esquerda", dizem cobras e lagartos de um ditador e incensam qualquer movimento que se lhe oponha, mas desde que este seja "pacífico" e, sobretudo, desarmado e que conte com a benevolência do exército daquele para sobreviver.
No momento em que os opositores ao ditador pegam em armas, ai Jesus! assustam-se os prolixos produtores de "exigências" e proclamações inflamadas e é escrutinada ao milímetro a composição político ideológica dos grupos opositores para aquilatar se merecem realmente o generoso apoio que lhes prestam a partir da blogosfera ou se será preferível manter o ditador no seu posto.
Os revolucionários por correspondência exigem que a oposição ao ditador respeite escrupulosamente a "legalidade"! Querem revoltas armadas sim, mas desarmadas, e que o ditador seja "expulso" mas pelo seu pé, e quando achar conveniente!
Entre "anti-imperialismo", nem que seja nominal e mera palavra passe da ditadura para ganhar respeitabilidade internacional e a brutalidade que o regime corrupto exerce sobre os seus cidadãos, prevalece sempre o putativo "anti-imperialismo". A populaça que se lixe em nome da "luta mais geral".
Numa demonstração de inominável hipocrisia, ou no mínimo estupidez, "exigem" as condições mais absurdamente irrealizáveis para que se concretizem as suas próprias "exigências".
"No fly zone", sim, desde que nada se faça para a impõr, apesar de se saber que por definição, não há forma de impôr uma "no fly zone" sem utilização efectiva de força militar.
Esta gente pretende do conforto da civilização decadente a que dizem opôr-se, mas de que são produto acabado e fora da qual seriam incapazes de sobreviver, manter intacta a sua ridícula boa consciência, indiferente às consequências inevitáveis da revolta.
Querem-se em paz com a sua consciência "apoiando" os revoltosos e até apoiando medidas militares que os protejam.
Querem-se em paz com as suas conscienciazinhas opondo-se a qualquer acção que torne essas medidas efectivas, que só querem "efectivas" no papel.