« Home | Nuclear? Sim! Obrigadinho! » | Uma forcinha » | Líbia, Portugal, a mesma "luta" » | Deolinda e os homens » | Escorregadio » | Mal me quer, Bem me quer » | Avante camaradas » | Geme mais » | Agarrem-me que eu mato-o » | Moralistas » 

sábado, março 12, 2011 

Penetras

"sim nós, partido xpto apoiamos estas causas porque sempre foram nossas. Estamos contentes por ao fim de tantos anos gente que não tem simpatias partidárias concordarem connosco."
Escrevia um amigo meu do Facebook, tentando enquadrar a participação partidária depois de ter postado uma notícia sobre o apoio do Bloco à Manif.  de hoje e a intenção de se fazer representar.
O enquadramento tornara-se necessário para responder a alguns comentários contra a participação partidária que surgiram no seu painel.
Por mais que ela seja negada, até pelos organizadores, é inequívoco que o sentimento anti-partido veiculado nos referidos comentários é sintomático de uma percepção que existe e é suficientemente alargada e até diversificada para não poder ser ignorada (assim como o facto destas "insatisfações" e mau estar social a que a manif pretende dar voz serem um "sintoma" de mal estar, sem expressão "objectiva" até agora nos actos eleitorais normais da democracia, mas impossível de ignorar, nas suas multiplas manifestações, ).
Este sentimento anti-partido, expresso em muitas circunstâncias como "anti-política", revela o equívoco persistente do BE e do PC quanto ao que grande parte da opinião pública têm do seu papel, por muito que lhes custe interiorizá-lo.
O PC e o BE são vistos como parte integrante do "sistema". Como seria possível de outra forma, tratando-se de partidos com estável representação parlamentar, contribuição para a produção legislativa e ampla presença mediática?
Por muito "fair play" que o PC e o Bloco agora demonstrem - que esconde a esperança de não alienarem um potencial mercado de recrutamento- como é possível que os partidos que se têm assumido desde há muito tempo como portavozes, pelo menos de diversas das "queixas" agora em evidência, acabem como "convidados" e não, como seria expectável, como actores centrais e agregadores?
O "movimento" (se é que assim se lhe pode chamar) nasceu e cresceu independentemente deles, à margem deles, ignorando-os.
O que falhou (porque é incontornável que falhou) na sua apregoada ligação ao "povo" e aos seus problemas?
Daí que, sendo inevitávelmente político, e potencialmente portador de uma reconfiguração do sistema político, eu me interrogue até que ponto os partidos que agora se associam à manif (com mais ou menos probabilidade são, em teoria, todos, ainda que com menor dose, por razões conjunturais, o PS) julgam estar afastados do cerne do mal estar que originou a Manif e imunes à potencial transformação que ela poderá (não acredito muito nisso, pelo menos numa perspectiva positiva mas...) desencadear.
E até que ponto podem e querem fazer algo de realmente efectivo para alterar essa situação.