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domingo, fevereiro 27, 2011 

Moralistas

A história gloriosa dos salvadores da pátria, ao contrário do que poderão sugerir as enlevadas e continuadas remissões para um suposto passado glorioso e impoluto da nação lusa, vem de muito longe.
É lugar comum a obsessiva replicação do Eça e de outros ilustres cultivadores da autoflagelação nacional.
Ao contrário do habitual populismo rasca, hipócrita e bafiento dos seus admiradores, mais ressentidos com as suas circunstâncias particulares do que com "os destinos da Pátria", o Eça ainda podia fazê-lo de um ponto de vista cosmopolita e sofisticado. E distante.
Mas já antes, outras figuras, reais ou míticas, tinham iluminado a nossa grandiosidade moral.
A dimensão épica das barbas de Dom João de Castro, a nobreza titânica de Egas Moniz vestindo o burel e pondo a corda ao pescoço... a si e à família...
A árvore dessas atitudes exemplares, esconde da visão distorcida dos inúmeros moralistas de pacotilha que espreitam atrás de cada porta, a floresta densa de um universo fundamentalmente brutal e "corrupto" em que emergiram. O da vida de todos os dias, desde sempre.
Às tropelias de um nobre mentiroso que queria ser o primeiro rei do território onde vivemos, respondeu Moniz da forma exemplar, real ou enfabulada.
À corrupção desbragada (e à necessidade de financiamento, sim, já nessa época... quem raio diria...) grassando no nosso Império de além-mar, respondeu Dom João de Castro empenhando as suas barbas.
Na actualidade, leio e oiço diariamente discursos inflamados sobre a bravez dos portugueses de antanho.
Mas são tantos, tantos, a protestar a sua seriedade contra "os outros" corruptos, que dá para perguntar, quem sobra?
O que é certo é que não vi até agora, nem Egas nem Castros.
Nem um Jan Palach.
Um  simples Mohamed Bouazizi...