No Le Monde, no contexto de uma interessante série de artigos sobre o nuclear, Isabelle Stengers, interroga-se: "Nous l'avons appris, engagement a été pris d'organiser un audit sur la sécurité des centrales nucléaires en Europe. On est heureux de l'apprendre, quoiqu'un peu surpris - on nous avait tellement répété qu'elles étaient sûres ! ".
Se bem que interessante, o artigo de Stengers, intitulado "Comment n'avaient-ils pas prévu" e aparentemente escrito sob o efeito da surpresa e da indignação, não coloca, quanto a mim, a questão nos seus devidos termos.
Com efeito, descontando os inumeráveis atropelos e trafulhices de que tem sido acusada a TEPCO, não se pode acusar os projectistas das centrais nucleares de imprevisão. Eles previram um número imenso de coisas. Até previram tsunamis.
O problema é que é impossível prever tudo.
E as consequências da "imprevisão" pagam-se muito caro com esta tecnologia como se pôde ver neste caso.
O tsunami que veio, era maior do que tinha sido previsto (era um tsunami "impossível").
Mesmo com o imprevisto de um tsunami maior, houve reactores que reagiram de uma maneira e outros, supostamente iguais, e supostamente controlados e preparados exactamente para as mesmas eventualidades e não eventualidades, de outra... e bastou que um, dois, três, quatro, tivessem problemas, para se iniciar uma sequência de eventos cujas consequências ainda estamos longe de poder avaliar na sua extensão.
Essa impossibilidade de previsão absoluta não se resolve, como propõe Stengers, exigindo "que les groupes qui contestent l'énergie nucléaire fassent partie des audits de sécurité, avec la capacité d'en faire des enquêtes sans concession", o que apenas resultaria em mais corrupção e hipoteticamente em falsa sensação de segurança, ou em inaceitável e desonesta criação de falsas expectativas aos promotores.
A única forma de prever tudo, é não construir, pelo menos enquanto não for descoberta uma forma de obter energia a partir dos átomos que não envolva um tão elevado grau de perigosidade.
Os esforços (e abjecta insensibilidade perante o desespero das populações evacuadas ou confinadas às suas casas numa área vastíssima e preocupação com contaminações que ninguém consegue efectivamente avaliar, em áreas ainda mais vastas) de muitos dos defensores do nuclear, para tentarem minimizar a gravidade do acidente não ajuda. É que se isto é para eles um "pequeno acidente" que lhes merece esta indiferença aristocrática, ficamos a saber até que ponto se predispõem a brincar com as vidas alheias e não vamos querer imaginar o que seja um acidente grave.
De todo. E isso só é impossível de acontecer quando não existirem nem centrais nucleares nem arsenais nucleares no activo.