« Home | Edificação » | Falha » | Compressa » | O fardo do homem brando » | O regresso do filho do Nuclear » | O partido do Povo » | Sublimações » | Os novos monstros » | Jogos infantis » | Impotência » 

sábado, dezembro 30, 2006 

Estertores de 2006

Noites de desassossego.
Não sei a propósito de quê, vejo-me envolvido numa luta reinvindicativa de agricultores franceses.
Faço de chofer.
Encontros em cruzamentos mal iluminados a meio da noite.
Frio.
O representante dos homens do Alto Loire, de cabelo preto e encaracolado, usa um cap aos quadrados, um casaco de bombazina verde, e ostenta patilhas de ribatejano.
Acompanho um sujeito da Alsácia, alto revolucionário, má catadura, agitado, estilo Depardieu em "Les valseuses", num périplo de contactos em barracões e armazéns à margem de estradas tortuosas.
Apercebo-me de uma luta surda entre várias facções.
Num encontro, o meu pendura atira que uns camaradas não divulgaram informação adequada sobre um tal assunto.
"Comment?" responde um outro malabar sobraçando uma pasta de sindicalista a abarrotar de documentação.
De regresso a um ponto nevrálgico atravessamos uma aldeia.
Um vulto suspeito aproxima-se do meu carro. O alsaciano entra em stress. Começa a tremer.
Entreabro o vidro e o outro passa ao meu companheiro um pacotinho discreto.
Num frenesi, o sindicalista tira um elástico do bolso, faz um garrote no braço e desata a injectar-se nas minhas barbas.
Belas lutas...