« Home | Falso alarme » | ooops...rewind » | Upside Down, ou Down Under » | Não vás, escuta » | Influenza » | Anestesia geral » | Tiro no porta-aviões » | O meio na ideologia » | O emplastro » | Elementos de Estudo (V) » 

sábado, outubro 13, 2007 

Fantasmas

De acordo com uma crónica recente escrita depois da emissão de mais um vídeo em que um psicopata da Al Qaeda faz umas ameaças tão ridículas como apocalípticas, parece que o Vasco Pulido Valente descobriu agora que afinal sempre existe uma "guerra das civilizações"... pior, parece acreditar sinceramente que a derrota relativa dos Estados Unidos no Iraque tem um significado "estratégico"... e que a partir das declarações delirantes do Bin Laden e seus sequazes a partir de um buraco qualquer, acha que a guerra "entrou numa nova fase", e vê já os islamitas a reconquistarem a Europa.
Vá lá que ao menos não vem com as teses originais e tresloucadas do "dois em um" em que os terroristas islâmicos ora estão "enfraquecidos" "graças" à invasão do Iraque e apenas ganham fortíssimo alento graças à complacência do Ocidente manietado pelo "politicamente correcto" e "pela culpa do homem branco", mas não se percebe em que medida é que entrámos "numa nova fase".
Talvez houvesse gente com outras ilusões, mas não se vê como é que o terrorismo islâmico é agora menos ou mais irredutível do que há vinte anos atrás.
Do que quando eram apaparicados pelo tal Ocidente nos tempos da invasão soviética do Afeganistão, se calhar a tentar expiar "culpas de homem branco".
Achará alguém que se os islâmicos pudessem não teriam feito Madrid uns anos antes e repetido a dose depois? Quererá ele meter-se pela discussão bizantina sobre se ataque de Madrid se deveu devido ao apoio de Aznar a Bush ou por causa do Al Andalus?
Acho estranha esta forma de discutir as coisas em função de acontecimentos raros ou únicos.
Os bushistas vão ao ridículo lapalassiano de defender que graças ao Bush nunca mais houve um atentado do tipo 11 de Setembro, significando com isto que se não tivesse invasão do Iraque, atentados na América era assim como amendoins, de hora a hora lá ia mais um Empire State Building, mais um avião e um ground zero, mas esquecem-se de referir que antes do Bush também não houve nenhum atentado.
Depois falam de Londres e Madrid. Londres aconteceu para castigar o apoio na invasão do Iraque, mas poderia ser por outra coisa qualquer, tivesse ou não havido invasão, e foi controlado porque a polícia foi eficiente, não porque o exército inglês tivesse contribuído para invadir o Iraque ou o Afeganistão.
E acreditará ele que os islâmicos, embora potencialmente capazes de terríveis actos terroristas terão alguma vez oportunidade de "conquistar" o Ocidente? Não perceberá que numa guerra "a sério" em que estivesse em causa uma real ameaça, acabavam-se num fósforo as "liberdades e garantias" dos muçulmanos na Europa e nos Estados Unidos e qualquer suspeito de ser árabe ou paquistanês era deportado ou preso num fósforo?
O Martim Moniz ficaria vazio na hora e quanto à resistência árabe, do Irão ou de quem quer que fosse, evaporar-se-ia entre os escombros das primeiras vagas de bombardeiros estratégicos. O que aconteceu ao aguerrido Iraque foi uma amostra que só descambou porque havia de ocupar o terreno e fazer um show off de nation building.
Já se percebeu que não gostamos de fundamentalistas, qual é então o interesse de andar a alimentar fantasmas?
Se nós na nossa enorme superioridade nos achamos "ameaçados" por razões tão fracas, o que não se passará com os muçulmanos de todo o planeta cujos países estão realmente ao alcance de gente que para eles já deu provas de instintos assassinos em dose mais do que suficiente, que entra onde quando e como lhe apetece sem qualquer hipótese de resposta, lhes dá em certas zonas quotidianos tenebrosos e ainda por cima lhes exige que achem bem porque "nós" somos melhores do que eles? Recusar ver estes simples factos é o quê? É tão básico que nem me parece que seja, sequer, guerra de civilizações.
Somos todos iguais no comportamento primário, o que difere é que actualmente somos nós quem tem as armas. Muito mais armas.