Não vás, escuta
O tal artigo do Sol que referi nos dois posts abaixo, permite perceber a bandalheira a que se chegou com as escutas telefónicas.
Se não me engano, era para ser um processo usado em circunstâncias excepcionais, para permitir à polícia combater casos de grande criminalidade como o terrorismo.
Mas, o que fazer? A tecnologia permite, a ética é fluida, todo o polícia quer apresentar serviço e quando damos por nós andam a ser escutados governantes a propósito de casos relativamente banais e a serem revelados detalhes doentios como a forma como o sr. X trata no seu círculo de amigos o sr. Y.
Mais grave ainda, a transcrição e o seu aproveitamento indiscriminado tornam-se uma banalidade, um pool de potencial informação que pode a qualquer momento vir a ser utilizada para tudo e mais alguma coisa por quem quer que se apresente como "jornalista".
É, na realidade, um "banco de dados" pidesco abrindo caminho a formas de pressão ilegítima.
Expliquem-me o que é que isto tem a ver remotamente com o "dever de informar".
Ora se andam a ser escutados governantes e as suas conversas transpostas para a praça pública por dá cá aquela palha, o que não se passará com o vulgar indivíduo?
Qualquer um remotamente ligado a qualquer caso polémico pode ter a certeza de que anda a ser escutado, incluindo as conversas que tem com a mulher ou com o pessoal do grupo da pesca. A transcrição e correspondente divulgação em praça pública serão uma questão de oportunidade ou de azar.
A lei pode ter vindo por encomenda ( Rui Pereira, um dos intérpretes desta valsa esteve envolvido no seu processo de aprovação), mas quem é que pode defender este tipo de jornalismo?
Quem pode aceitar a situação a que se chegou com as escutas telefónicas?