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sábado, março 29, 2008 

Eterna cegueira

Nos tempos de Guterres, respirou-se uma lufada de liberdade consumista que mostrou a todos e de vez as vantagens de viver num certo tipo de sistema capitalista.
Foi quando toda a gente comprou casa, o IC 19 entupiu de vez e as mulheres a dias foram passar férias a Porto Rico. Os bancos, insuspeitos de preocupações sociais, ficaram credores de metade do País.
Compreensivelmente, este deboche populista aterrorizou alguns.
Passou a ser mais difícil circular no IC19, e penoso foi observar nas salas de embarque dos aeroportos o pessoal das barracas embarcando alegremente e aos magotes para as Caraíbas a caminho de férias de sonho compradas a crédito.
Para alguns analistas, não colheu, sabe-se lá porquê, o argumento de que esta euforia hedonista e despesista "cria postos de trabalho e dinamiza a economia", argumento tão útil quando se trata de justificar certos gostos caros dos ultra ricos: uma pulseira de diamantes, um Maybach, coisas indispensáveis sem as quais algumas pessoas de valor não podem sair à rua.
Vaticinou-se o desastre e ele chegou sob a forma do déficite.
Segundo alguns, ainda estamos a pagar o preço da farra.
Para outros, não há meio de deixarmos de pagá-la.
Só vamos lá ( independentemente de se saber quem está incluído neste vamos tão abrangente) com medidas... "dolorosas"... para "todos", claro...
Este estado de coisas contaminou a Europa.
A França, a Alemanha, na mais calamitosa tragédia, tudo por culpa do estado social e das benesses indevidas que daria ao trabalhadores, por definição aqueles com menor "iniciativa" e "criatividade".
Nos EUA tudo foi sempre de vento em popa.
Foi o tempo da Nova Economia, a NEP dos ultraliberais e da euforia do Nasdaq.
Isto agora ia ser sempre a subir, a subir... iamos todos ficar ricos na Bolsa a bem ou a mal.
A euforia foi tanta que transbordou numa guerra declarada depois de um processo inqualificável.
A guerra fez disparar o déficit, tal como alguns, logo apodados de traidores, tinham previsto.
Um desastre previsto ao milímetro, New Orleans submersa, revelou a fragilidade do Estado americano fora dos campos de batalha e das bases militares.
Uma percentagem apreciável de americanos, com tendência para subir, estão pura e simplesmente arruinados apenas por depesas com a saúde.
A bolha do imobiliário anunciada há uma década pelos sabotadores da economia do costume frementes de raiva ao "american way of life", explodiu finalmente arrastando consigo um grave problema social e a estabilidade financeira do mundo, sem esperar que alguém se lembrasse de começar a coligir para utilização futura os artigos dos especialistas negando a existência do problema.
Para todos e cada um destes problemas sempre houve na imprensa e na blogosfera "especialistas", a garantir que no pasa nada, o problema é que a Europa está velha enquanto não copiar as receitas previstas no modelo económico "conservadores apiedados" para os Estados Unidos.
O espectáculo está à vista, mas a sua visão não produz qualquer efeito.
Nada de estranho, as pessoas estudam e criticam os comportamentos das anteriores gerações mas são incapazes de tirar ilações lógicas.