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domingo, março 30, 2008 

Sem saída

O desenvolvimento dos meios de comunicação e a disponibilização de potentes instrumentos de análise a um conjunto alargado de pessoas dá-nos a sensação de que é possível abarcarmos o curso dos acontecimentos em todo o planeta. E a cada um a possibilidade de efabular sobre as suas consequências.
Ao contrário do que seria de supor, essa sensação mais ou menos assumida pelas mais antagónicas correntes políticas e sociais, não permite à nossa espécie adaptar-se a novas circunstâncias de forma racional e que nos proteja o futuro.
Esse desnorte faz, talvez, intimamente parte das caracteristicas da vida e das suas manifestações. Talvez revele os limites do "racional", como mecanismo de reflexo colectivo.
Não é afinal o estádio em que nos encontramos o resultado de uma sequência de acontecimentos em que os erros e as serendipities fizeram parte integrante do processo?
Quando supostamente estariamos equipados para uma evolução "sem sobressaltos", seja lá o que isto signifique, encontramo-nos entalados entre duas concepções antagónicas e irracionais.
De um lado os negacionistas que encaram com displicência os sintomas de degradação do meio em que nos desenvolvemos, em nome da defesa intransigente de principios políticos que habilmente identificam com a palavra "liberdade" mas que têm bem definidos os limites dos seus interesses.
Do outro os alarmistas para quem mudar de paradigma de consumo energético é possível num prazo limitado e propõem como "salvação" a adesão "voluntária" e colectiva a modos de vida indistintos dos efeitos da catástrofe que anunciam e só "apresentáveis" quando minoritários e enquanto vigorar o actual paradigma de que directa ou indirectamente dependem.
Essa adesão voluntária e generalizada exigiria da espécie humana um grau de disciplina totalitária apenas ao alcance de certos insectos gregários como as formigas e as abelhas, precisamente por serem irracionais. Nada de humano haveria já a defender nesse cenário.
Se essa situação vier a verificar-se por impossibilidade de adaptação razoável e progressiva, a transição será caótica e catastrófica e revelar-se-ão inoperacionais cenários idílicos de vidas colectivas "em comunhão com a natureza".
Será apenas o regresso à barbárie.
A memória destes tempos persistirá como uma referência e a espécie eventualmente recuperará a sua influência, mas em cenários diferentes e possivelmente fora do nosso horizonte histórico.
nota: a ilustração é um excerto de um quadro de Florbela Moreira

Naturalmente que se a História nos dá registo de outras civilizações que decairam depois de largos periodos de prosperidade, não se percebe porque deveria a nossa eternizar-se...ou percebe-se...quando se constacta que há muito quem tenha transferido o lado mistico da fé nos Deuses pela fé na ciência e na técnica.

Claro que não será por isso que a terrinha deixará de girar...:))

Bom post !

Caro Manuel, obrigado pelo seu comentário.
O ideal seria que a nossa civilização, ou o melhor dela, conseguisse manter-se e aprofundar-se, aprendendo com os erros do passado e evitando escolhos do presente e do futuro ( excluindo eventualmente o meteorito ou a expansão do sol).
O que me parece é que esse objectivo será impossível de deixar às mãos dos "optimistas cegos" ou sob o berreiro histérico dos alarmistas. Será que entre esses dois polos conseguiremos encontrar um caminho?

Não sei !
Mas tentemos !
Podemos começar por fazer como tem tentado por aqui, desmistificando os optimismos saloios e os pessimismos pacóvios e "semeando as margens" com outras ideias...
:)

Caro Manuel fico espantado com as virtualidades que você encontra no Bidão ;)

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