« Home | Mascarada grotesca » | Marry Christmas » | Patrícios » | Sur le passage de quelques personnes a travers une... » | Eduardo Nogueira - O Lúcio » | Desvios » | Mensagem de Natal » | Palmeiras e camelos » | Ao papel » | O espírito Stasi » 

domingo, dezembro 20, 2009 

Ainda "o" tema


Pois o Governo cumpriu o prometido no programa eleitoral e aprovou os casamentos homossexuais.
Parece simples, sobretudo quando os graves problemas de que padece o País fariam supôr que passada a discussão sobre o tema e aprovada a lei, assunto encerrado, vamos para as questões realmente importantes.
Infelizmente, como frequentemente acontece com a legislação cá do burgo, o governo aprovou mas não aprovou bem, isto é, aprova-se o casamento, mas "deixa-se de fora" a adopção. O governo fez uma interpretação rigorosa do seu compromisso e não quiz assustar demasiado as mentes sensíveis que preferem ver uma criança apodrecer num asilo (sujeita, já se viu desde o caso Casa Pia, a toda a sorte de abusos) a submetê-la à supostamente catastrófica experiência de ser acolhida por uma família de pessoas do mesmo sexo. Mas, como sublinhou Ana Drago, mantém uma discriminação e vai criar complicações legais desnecessárias, visto que pelos vistos será necessário alterar o Código Civil, e já se sabe mais ou menos o que resulta das alterações às leis para resolver problemas particulares.
Claro que o Governo andou bem do ponto de vista táctico: fundou a sua aprovação do casamento no "compromisso eleitoral", e evitou tomas decisões para as quais "não está mandatado". E não estava mandatado porquê, pergunta-se. Não estava mandatado porque não se quiz perder votos à custa do espantalho da adopção. Pois se ao ver aprovado o casamento não assestou parte da direita baterias sobre a "agenda" da adopção escondida, mal disfarçando a desfeita que sentiram por não lhes ser permitido (com um mínimo de lógica, I mean...) invocar a ausência de mandato?
O problema é que do ponto de vista estratégico vamos ficar com uma situação coxa que se vai prolongar indefinidamente e que vai dar aos grupos "pró-vida" que agora se transmutaram automaticamente em defensores de uma proposta idiota de referendo, manterem durante uns tempos algum protagonismo e impedirem, de facto, de par com uma lei maneta, a concretização plena do casamento apesar de aprovado.
Quanto ao assunto em si, achei sintomático o discurso do João Pereira Coutinho (isto para me fundamentar no sujeito de direita do tipo mais de direita não há que anda por aí - não confundir com o idiota presunçoso e semi analfabeto em ascenção que substituiu o JPC na partilha da página do Expresso com o Daniel Oliveira) no programa da Constança Cunha e Sá, agitadissimo com a "trapalhada" que é a lei e a aprovação, e tudo. Pois se segundo ele, na Inglaterra até há uma coisa chamada "união civil", que é um casamento que só não tem o nome de casamento, se há já por aí diversos casos de crianças educadas por pais (agora há o caso de um tio...) homossexuais vivendo ou não em uniões de facto, só não sendo é casados, não tendo vindo até agora, mal ao mundo por isso, andamos a discutir o quê? Tenham paciência.