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sábado, novembro 19, 2011 

Qual é a crise?

O arguto Xatoo, autor do blog com o mesmo nome, que é indiscutivelmente uma das guardas avançadas do proletariado blogosfério e intransigente espigão binário cravado no flácido dorso electrónico da burguesia, concluiu que o que se está a passar é o fim das “vacas gordas” para “ a imensa nova-rica burguesia que tem vivido a expensas dos subsidios da União com resultados sociais Zero.
A frase é ligeiramente ambígua e não deixa perceber se “imensa nova-rica burguesia”, se refere a um número imenso de burgueses que de repente ficaram ricos (ou outros pacóvios que se aburguesaram renegando as suas saudáveis origens de classe operário-camponesas), ou se foram apenas alguns burgueses que já o eram mas que ficaram imensamente ricos à custa dos subsídios.
O essencial, no entanto, é que para o Xatoo, os “resultados sociais” (o que quer que isto seja), foram Zero com letra grande. Isto é, nas últimas décadas, o povo, (os que se mantiveram povo, não os que deixaram de o ser e hipoteticamente se aburguesaram), ficou exactamente na mesma, regredindo, até, com a inflação.
Zero. Népia. Falar em Portugal em 2008 (antes de Passos e a Troika), em termos sociais, é, para o Xatoo, o mesmo que falar em Portugal em 1980. Se não antes...
Não sei qual é o referencial usado pelo Xatoo para avaliação de resultados sociais, mas talvez seja possível intuí-los a partir da opinião abalizada do proletário Bernardino Soares.
Soares, que recentemente afirmou que o actual Ministro da Economia é uma “sequela”, política, por supuesto, do ex-Ministro Manuel Pinho (que Bernardino classifica como o “anterior Ministro”, certamente um lapsus politicus revelador das cicatrizes pessoais provocadas por um desleal gesto de dedo em riste apontado, em dia particularmente difícil, ao seu peito em pleno Parlamento), assim considerando que no essencial , apesar de algum alarido "indignado", “nada mudou” nos últimos meses, colocou em tempos em causa que a Coreia do Norte não fosse uma democracia.
Um Portugal em que à custa “de subsídios” se criaram burgueses novos-ricos com resultados sociais Zero, teria assim muito a aprender com os avanços sociais do “modelo” norte coreano e os ensinamentos do incontornável Pensamento Zuche, a saber: não se criam novos-ricos (sobretudo burgueses!), mas aumentam os misteriosos "ganhos sociais" em flecha!
O bizarro disto tudo, é que tirando o episódio da Coreia do Norte, que umas correntes políticas substituiriam de bom grado por um outro país avançado onde não há segurança social, décimo terceiro mês, subsídio de férias ou férias pagas, como os Estados Unidos, a tese de Xatoo pode ser facilmente subscrita pela extrema esquerda, os saudosos do anterior regime e os apóstolos da Ordem Nova neste momento na crista da onda.
Com efeito, todos coincidem no reconhecimento da tragédia de resultados sociais Zero que foi o “regime” instituído pós 25 de Abril (Xatoo e Bernardino aproveitarão, sei lá, os meses que medearam entre 11 de Março de e 25 de Novembro de 1975). Desde Novembro de 75, segundo o Xatoo, o progresso foi Zero e quem beneficiou foi uma “imensidão de burgueses novos – ricos” cuja “mama” está a acabar. O tom do “amigo do povo” trai mesmo uma secreta satisfação por finalmente alguém esmagar os tomates aos “novos-ricos”. Os outros, “o povo”, nada têm a temer e a perder. É-lhes indiferente o impacto das medidas da troika e nada disto justifica particulares apreensões.
Compreende-se assim o papel desempenhado pela chamada "extrema-esquerda" no derrube de um Governo social democrata, de centro esquerda, quando a sua óbvia alternativa seria (como foi) um Governo de direita. 
Para quê, então, a amargura relativamente à Troika? Por puro nacionalismo chauvinista, bonita posição de princípio face ao Imperialismo, incontinente necessidade de "criticar".
Os extremos - e a insanidade - tocam-se. Mesmo.