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quarta-feira, julho 26, 2006 

Trabalhinho sujo

Ligo a televisão e está o inevitável Pacheco Pereira a explicar que o Hezzbollah costuma transportar armanento em Ambulâncias da Cruz Vermelha.
A repugnância e o pudor obrigam-me a desligar a televisão.
Há limites para a abjecção.
Mas o que é isto?
Esta gente está doida?
Sabemos que diariamente milhares de criminosos, muitos deles perigosissimos embora não reinvindiquem causas políticas, circulam pelas nossas cidades. Vamos bombardeá-las para "limpar" o País?
Resta um detalhe que Pacheco deve achar pequeno para referir.
Menor.
Os atingidos pelos ataques de Israel a ambulâncias da Cruz Vermelha, ao que consta não são membros do Hezzbollah.

Sem concordar com o Pacheco Pereira (que nao tem razao) fico espantada com a tua defesa do Hezbolah. Acaso te esqueces que sao terroristas? Que têm uma visao da religiao completamente deturpada? Como se pode apoiar gente assim? Não é preciso fazer a diabolizaçao do pacheco para saber que nao sao pessoas de bem! O mito que eles comem crianças ao pequeno almoço, bem, esse come-o quem quer.

Pelo menos estamos de acordo num ponto. O Paceco Pereira não tem razão.
Estando de acordo neste ponto, não percebo onde vês a minha defesa do Hezbollah.
Se eu até chamo a atenção para o facto de que os atingidos em ambulâncias nem pertencem ao Hezbollah!
É que se pertencessem, ainda poderiamos imaginar que sim, é uma guerra, e então esses sujeitos (admitindo que não são feridos transportados pela ambulância) tinham arranjado lenha para se queimar ao violarem eles próprios, leis da guerra.
Mas se o padrão parece ser:
há terroristas do hezbollah a usar ambulâncias e então temos legitimidade para atacar TODAS as ambulâncias que por um motivo qualquer sejam suspeitas, de acordo com qualquer critério, o que deve pensar uma pessoa mais ou menos normal? Não terá legitimidade para pensar que isto TAMBÉM É TERRORISMO?
O que eu tenho dito aqui, e pensava que estava claro, depois de diversas apreciações e comentários da repulsa que me inspira o fundamentalismo islâmico (em particular o Hezbollah e o Hamas), como me inspiram repulsa o fundamentalismo judaico e o cristão, ou ateu, é que "gente de bem" não concorda com estes métodos de "luta anti-terrorista" que acabam por assassinar sobretudo civis e destroem impiedosamente tudo à sua passagem.
Não colhe o argumento de que os terroristas "se escondem" entre a população civil.
Se o conseguem fazer, isso deveria no minimo fazer pensar pelo menos os não israelitas.
Mas podes ter a certeza de uma coisa:
se um terrorista qualquer se refugiar num prédio palestiniano ou libanês, ou o que seja, o prédio é arrazado sem hesitações doa a quem doer. E, pasme-se, ISTO NÃO É, OFICIALMENTE, TERRORISMO!
Mas se o mesmo terrorista se refugiasse por hipótese num prédio habitado por judeus, podes ter a certeza que a actuação do exército israelita seria completamente oposta. E porquê? Por racismo.
A grande lição que se reforça desta "acção militar", eufemismo com que podemos classificar esta bestialidade é que ninguém condena o terrorismo "em si", como pareces pensar. O "terrorismo" que se condena com requebros de indignação nos media, é UM terrorismo. Porque outros, são legitimados sem qualquer rebuço pelos nossos "democratas".
Vê a sorte dos sérvios bósnios. Tentaram fazer o que fazem os israelitas, mas foram vítimas quer do contexto pós-guerra fria e de não terem a bomba e agora andam fugidos a um tribunal penal internacional que à vista da impunidade destas acções de israel se revela uma triste fantochada.
Depois destas acções, de que reservas morais dispomos para pregar civilidade aos outros?
Sim, os fins justificam os meios, deixemo-nos de retóricas moralistas.

há cerca de duas décadas, um avião civil da Korean Airlines, foi abatido quando sobrevoava o espaço aéreo soviético por engano.
Foi a indignação geral.
Hoje, sabe-se que se tratava mesmo de uma provocação, e que o avião desobedeceu deliberadamente às ordens para se afastar. Será que isto diminui a responsabilidade moral de quem mandou abater um avião civil de passageiros causando dezenas de mortos?
Não!
Mas se o avião fosse abatido pelos israelitas "para protegerem o seu espaço"?
Evidentemente que teriam toda a legitimidade.
O horror, para os nossos democratas que tentam nos jornais discutir estas cenas em função de esquemas geoestratégicos abstractos, completamente idiotas e de coisas de que não sabem nem percebem nada para fugir às realidades que se observam no terreno, é apenas função de quem comete os actos, é isso que determina a crítica ou a compreensão.
O avião abatido pelos soviéticos nos anos 80 foi mau, porque os soviéticos eram o império do mal.
O bombardeamento indiscriminado de civis no Líbano e a destruição rancorosa de infra-estruturas porque sim, são "necessários" (o sentido de marketing não lhes permite ainda assumirem publicamente que "são bons"), porque Israel defende "a liberdade e a democracia".
É isto precisamente, o "relativismo moral" a que a direita proclama opor-se a torto e a direito.

Rui: concordo contigo. Pareces see uma pessoa de bom senso, embora às vezes me parece que, sem querer, no teu discurso anti-Israel, acabas por branquear o terrorismo islâmico (enquanto outros, como o pacheco, branqueiam as acções de Israel).
Um pormenor: que os estados unidos apoiem Israel nao me faz confusao nenhuma - é, enfim, o prato do dia desde à decadas. Mas ver (na 4ª) o porta-voz do governo dos estados unidos a fazer de porta-voz de Israel por causa dos observadores sa ONU mortos. Apoiar sim, mas tornar-se porta-voz e advogado permanente de defesa é um bocado humilhante (devia ser, para os USA). Mas não! Tudo tem limites!

Rui: concordo contigo. Pareces see uma pessoa de bom senso, embora às vezes me parece que, sem querer, no teu discurso anti-Israel, acabas por branquear o terrorismo islâmico (enquanto outros, como o pacheco, branqueiam as acções de Israel).
Um pormenor: que os estados unidos apoiem Israel nao me faz confusao nenhuma - é, enfim, o prato do dia desde à decadas. Mas ver (na 4ª) o porta-voz do governo dos estados unidos a fazer de porta-voz de Israel por causa dos observadores sa ONU mortos. Apoiar sim, mas tornar-se porta-voz e advogado permanente de defesa é um bocado humilhante (devia ser, para os USA). Mas não! Tudo tem limites!

Bom, admito que pelo facto de eu denunciar mais frequentemente Israel pelo desprezo e prepotência com que trata os povos dos territórios que ocupa e por outras razões que decorrem da condenação moral básica, possa nascer alguma confusão.
No entanto, volto a dizer, já aqui referi várias vezes a repulsa que me causam os métodos, as ideologias e os personagens que corporizam essa espécie "fascismo tradicionalista" que é o fundamentalismo islâmico.
Já defendi por diversas vezes a firmeza perante as pressões dessa corja, como durante a "crise" dos cartoons, e a "crise dos véus islâmicos", em que apoiei ( não neste blog, que ainda não existia) a posição do governo francês que na altura foi duramente criticado por vários dos "democratas messiânicos" que passam a vida a salivar por novas aventuras militares.
Já escrevi isto num post mas é bom sublinhá-lo:
obviamente não me regozijo com raptos de soldados, nem com bombardeamentos de povoações israelitas.
Mas um mínimo de atenção às realidades não me permite embarcar na história de que estas situações, num quotidiano de agressão e ocupação, constituiram algo de novo.
A "novidade" aqui é que os israelitas aproveitaram umas acções que embora condenáveis no contexto deste conflito mais pela expressão que são da ideologia sinistra do Hezzbollah do que pelos actos "em si", e que são uma ínfima parte do que os israelitas fazem diariamente nos territórios ocupados, para "resolverem" um problema.
No fundo o problema que eu vejo, é que o "estilo israelita" de resolução de problemas irá provavelmente conduzi-los de vitória em vitória à destruição final, arriscando-nos nós, já actualmente reféns dessa situação por via da transformação do grupo que controla o poder político nos estados unidos em títere da chefia israelita, a ser arrastados na onda.

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