O Bom Pastor
Para além das cogitações sobre o PSD, a revista Atlântico de Setembro, vale a pena pelo esforço quase detectivesco de alguns dos seus colaboradores em busca de personagens obscuras a quem a humanidade muito deve no seu caminho para a felicidade.
Foi este o caso de Nuno Martins que, sabe-se lá porque perigos e guerras esforçados, foi descobrir "no seu gabinete de uma das principais artérias da capital belga", um tal Emanuele Ottolenghi.
Em boa hora o fez porque temos feito mal em ignorar Ottolenghi, um homem que já foi, entre outras coisas, "Scholar do American Enterprise Institute, em Washington".
Homem de bem, "dirige, desde Setembro de 2006, o Transatlantic Institute, um think-tank sedeado em Bruxelas e cujo objectivo é o de fortalecer as relações entre a Europa e os Estados Unidos da América".
Óptimo, exclama o leitor... que causa nobre, finalmente vai acabar esta rivalidade estúpida entre a Europa e os Estados Unidos, agudizada pela forma como a Administração Bush decidiu unilateralmente invadir o Iraque com os resultados que se conhecem.
Ora Ottolenghi, informa-nos o jornalista, é "autor do livro Auto da Fé, em que se critica a Europa de hoje e as suas dificuldades em lidar com Israel e com o sionismo existente no Velho Continente".
Bom, parece que afinal tudo isto faz um (certo) sentido: um think-tank que pretende "reforçar as relações entre a Europa e os Estados Unidos", não tem mais nenhum sítio por onde começar do que"criticar a Europa"... à cause de... Israel.
Afinal o "reforço" significa convencer o rebanho europeu a confinar-se ao redil do pensamento único dos neocons.