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domingo, outubro 14, 2007 

Nuance

Hoje de manhã cedo assisti a parte de uma entrevista televisiva com um dos "decanos" dos "liberais" portugueses, Pedro Arroja.
Quando me apercebi do que se tratava, preparei-me mentalmente para me indignar.
Felizmente, infelizmente, as minhas expectativas sairam frustradas.
Pelo menos durante os minutos em que o ouvi, Pedro Arroja não se saiu com nenhum daqueles raciocínios silogísticos e primários ao ponto da debilidade mental que são o habitual apanágio dos "liberais". Pelo contrário, baseado nas suas vivências em vários locais do planeta, teceu em tom optimista uma série de observações que me parecerem bastante ajustadas sobre a vida no nosso país.
Talvez o que tenha sobressaído mesmo foi o tom optimista, mas a passagem mais inesperada surgiu quando o entrevistador lhe perguntou quais considerava os países mais livres do mundo. Traindo as minhas expectativas pavlovianas, pois no meu cérebro tomou instantaneamente forma um determinado acrónimo, ele respondeu: Espanha em primeiro e Portugal em segundo e deu alguns exemplos para explicar porquê.
Para quem pense um bocadinho, Portugal é, de facto, um país onde vigora um grau razoável de liberdade em qualquer das acepções da palavra incluindo a que lhe é dada pelos neoconservadores.
Arroja deu um exemplo: no Canadá, onde ele viveu, se um restaurante fecha às onze da noite, às onze da noite o empregado mete-nos na rua. Em Portugal, o restaurante pode fechar às onze mas o empregado fica, se for necessário, até às três da manhã à nossa espera.
A diferença, eu arriscaria a dizer, está em que até no "liberal " Canadá o empregado está sindicalizado e em Portugal é um desgraçado isolado e com contrato precário que se tugir é despedido na hora.
Certa ou errada a minha interpretação maniqueísta, foi... refrescante ouvir por uns minutos ( não sei o que ele disse no resto da entrevista e até prefiro nem saber para não desfazer esta boa impressão temporária) um ultra-liberal dispensar o habitual discurso semeado de clichés apocalípticos sobre o "peso do Estado", "o comprimento da Constituição" "socialista", da "vergonha", "ao que isto chegou" e no "bateu no fundo", da "ineficiência" e da "falta de produtividade" que só se resolve miraculosamente com a "necessidade de maior flexibilidade laboral", etc...
Contra alguns cronistas chatos que passam a vida a repetir-nos com cenho carregado e tom severo que a salvação se encontra no fim de um negro túnel habitado por terríveis sacrifícios, sangue, suor e lágrimas, "rigor"... e que teremos de pagar com lingua de palmo breves momentos passados em que abrandámos a labuta pela miragem do hedonismo, Arroja teve a coragem de dizer que alguns dos nossos defeitos que diminuem as nossas competividade e produtividade, garantem, afinal de contas, um certo equilíbrio e uma "qualidade de vida" ausentes no quotidiano do profissional médio em países a que os frios "índices" atribuem um nível superior de "desenvolvimento". Esta foi um must.
Até sobre a segurança... ele reconheceu tranquilamente que somos um país relativamente pacífico com baixos índices de criminalidade. Uma coisa que é banal senso comum mas totalmente inesperada na boca de um "liberal".
Pode ser que a minha surpresa tenha apenas a ver com o facto de ouvir por uma vez um personagem com clara ascendência sobre uma geração com sensibilidade política mais à direita que emergiu nos últimos anos em Portugal, primeiro na blogosfera e actualmente em processo de passagem por osmose para a imprensa escrita, a falar como eu em tempos ingenuamente imaginei que poderia ser um liberal.

os meus parabens pela boa qualidade so seu blogue.
Quem quer ter uma visão diferente do que se passa tem aqui uma boa alterntiva.
Fiquei frequentador
abraço

João, muito obrigado pelo comentário.

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