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domingo, janeiro 06, 2008 

Adeus obscuro ao gigante maldito

Foi há muitos anos, é assim que estas histórias começam para acabar sempre.

Depois de uma viagem mágica por território que os mapas insistem em situar nas Beiras mas que na memória ainda contaminada pelas brumas daquele amanhecer na cidade mais alta se incrusta em obscuro reino psicadélico só palidamente vislumbrado em certos cenários Tolkianos, aportámos a uma terreola discreta com o singular nome de Régua, na margem de um rio caudaloso.
Régua, nome de rigor.
Uma semana rigorosamente inesquecível de aventuras pontuadas pelas obrigatórias paragens no Stop para recarga alcoólica. O Stop, era para parar.
De rigueur.
Descidas em ponto morto desde Vila Real na escuridão das altas horas , gestão optimizada das trajectórias a exigir o recurso à contramão como método standard de condução, faróis desligados para mais fácil detecção de objectos indesejados em sentido contrário na via, visitas à choça após intervenções criativas em sinais de trânsito, os paliativos de uma época negra mas que paradoxalmente fizemos sem regras.
Demarcámos um pequeno, fugaz e efémero território. Lobos.

Dobrado no bolso, no lugar "d'O Livro", "O libertino passeia por Braga a idolátrica, o seu esplendor", um pasquim impresso em conspícuo azul sobre papel pardo que ainda não sei como ali foi parar nem que rasto seguiu depois.
De onde tinha saído aquele gajo? Que escrita era aquela que rompia com toda a moleza pestilencial que nos impingiam como literatura e modelo de conduta?
Tentei depois seguir aqui e ali as obras desse autor, Figura tornada mítica.
As literárias e as outras. Confundiam-se, aliás.
O mito era relapso às historietas passíveis de equívocos glamorosos. Era rigoroso o relato de vivências marginais e nessas vivências, íntimas, dolorosas, não cabiam figuras de pacotilha saídas de anúncios de jeans.
Num breve período de boémia no Bairro Alto, lembro-me de o ver chegar ao Expresso Bar. Sobretudo cinzento puído, óculos de fundo de garrafa, ar prazenteiro, dedo indicador em riste imediatamente dirigido ao decote da rapariga que estava à porta.
A chegada causou escândalo e estupor. Parece que um tal Cabeça de Vaca, infelizmente também já desaparecido, passara as semanas anteriores a fazer um peditório entre os boémios, "para o Luiz que estava no hospital às portas da morte"...
Luiz seguiu depois as suas aventuras e desventuras. Até ontem.

É verdade o nosso escritor surrealista, partiu...
A obra ficou, paz para ele!

Belissimo este texto-sentido !

Caro Manuel, sentido, eu sei que é.
O belissimo é que já é da sua exclusiva responsabilidade.
Obrigado e um abraço
rd

fotógrafa, muito obrigado pelo comentário.

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