Ardeu
O Dakar.
É uma vitória política da Al-Qaeda, a única de que se podem gabar nos últimos anos, tirando o atoleiro iraquiano.
O estupor provocado pela anulação da prova deu lugar às reacções mais inesperadas.
Carlos Sainz comentou que é uma pena que acontecimentos políticos influenciem acontecimentos desportivos, como se os acontecimentos desportivos não fossem, até à medula, factos políticos.
No Público, a cosmopolita Teresa de Sousa escreveu, dando voz à amargura do mais básico adepto de base, que se a prova (ainda hoje, recorde-se conhecida como Paris - Dakar) partisse de Paris, o governo francês não teria sido tão insistente no cancelamento. Qual é o interesse disto? Ela acha que o governo francês anulou de bom grado uma prova que é também um veículo de propaganda? Nem parece a Teresa de Sousa.
O Presidente da Câmara de Portimão, esse, quer inevitavelmente ser "indemnizado".
Largassem-nos, deixassem os gajos partir, que a haver atentados muito provavelmente aconteceriam já passado Portimão e encaixado o investimento. Atentados é coisa dos árabes, Marrocos e por aí abaixo.
A aventura é aventura, e não é raro haver mortes de pilotos ou espectadores.
Porém, se resultasse um morto que fosse, de alguma acção da Al-Qaeda, não faltariam as vozes acusadoras das "falhas de segurança", seria um escândalo cujas proporções o governo francês não quiz, e bem, enfrentar.
Se calhar é tempo de as pessoas reflectirem um pouco.
A imagem romântica do Paris-Dakar, simultaneamente manifestação de empatia paternalista de uma geração pela imagem mitificada de um terceiro mundo inóspito e subdesenvolvido mas exótico, está enterrada.
Garantir a segurança do Dakar nas presentes condições, obrigaria à ocupação militar temporária por forças de confiança, isto é, ocidentais, de uma enorme região, ocupada por vários países.
Sem sequer contabilizar os custos e os problemas logísticos de tal operação, seria politicamente inaceitável .