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quarta-feira, abril 30, 2008 

Surge

o "surge" foi a fuga para a frente inevitável para a seita do Bush.
O corolário das vitórias parciais festivamente assinaladas com regularidade diária e dos objectivos parciais cumpridos com a precisão de um cronómetro ao longo de vários anos de presença no Iraque.
É que se tornou impossível uma encenação de vitória mais retumbante do que pôr Bush a fingir que ia comer um peru estragado a bordo de um porta-aviões estacionado no Golfo Pérsico...
Essa impossibilidade persistirá pelo menos enquanto não for assegurado o total controlo dos media ou enquanto não for desencadeada uma devastadora operação de bombardeamentos maciços com carácter de genocídio em total contradição com os apregoados fins.
Uma retirada, por outro lado, seria impensável e um absurdo.
Depois do fracasso de gestores civis como Rumsfeld, obcecados pelo schock and awe e iludidos quanto ao poder da superioridade tecnológica sem outros pressupostos, a guerra teve de passar a ser conduzida de forma mais responsável pelos militares especializados nesse tipo específico de gestão de conflitos.
O general David Petraeus, responsável pelas novas orientações estratégicas, foi promovido a grande doutrinário por adaptar à intervenção americana no Iraque novidades já conhecidas há quarenta anos pelos comandos militares portugueses que fizeram a Guerra Colonial.
É uma revisitação, com mais meios à disposição, dos princípios que Spínola tentou pôr em prática na Guiné.
No Iraque isto passa simultaneamente por maior presença militar, pelo suborno e armamento de chefes de clã que se opõem à al-Qaeda, por uma maior sensibilidade aos problemas das populações nas zonas mais ou menos controladas e pela brutalidade mais indiscriminada contra as zonas onde se suspeita que se acoitem os rebeldes, longe da vista da imprensa acantonada na zona verde.
A ferro e fogo, na boa tradição torcionária dos franceses na Argélia, dos israelitas na Palestina ou dos russos na Tchetchénia.
O problema das soluções militares é que elas, por mais sensíveis que sejam aos múltiplos aspectos de que se reveste a situação no terreno, são incapazes de inverter a realidade. Ou seja, se é um absurdo deixar os políticos gerir a guerra, é também uma ilusão julgar que ela se resolve exclusivamente pelos militares e sem a coordenação do poder político.
Foi assim na Guerra Colonial, será assim no Iraque.
Tal como a Guerra Colonial acabou da melhor forma que poderia ter acabado, pesem os ressentimentos justos de muitos refugiados das ex-colónias e as histerias tardias dos reaças da blogosfera, o surge, como não poderia deixar de ser, vê-se confrontado com o atascanço.
É assim que na sequência dos excelentes progressos que foram sendo anunciados, Abril foi o mês mais mortífero para os soldados americanos desde há sete meses.
Como MacCain é um Bush de rosto humano, o pide bom da história, e Clinton e Obama são também reféns do lobby pró-israelita, torna-se indiferente para o resultado da aventura iraquiana o resultado das próximas eleições americanas.
Qualquer que seja o vencedor, será em breve confrontado com a necessidade de um surge ao quadrado.
Algum dia há-de dar resultado?