Burocracia informativa
Relativamente à notícia da SIC e à forma como a imprensa em geral tratou este caso da interpelação da Comissão Europeia ao Governo sobre os projectos no litoral alentejano, colocam-se outras questões:
A primeira é a da passividade. Como se se desse de barato que o Governo e administração pública erraram.
A imprensa e sectores da opinião pública noutras circunstâncias tão preocupados em afirmar, por vezes até aos limites da parolice, extremosas preocupações relativamente à nossa eventual perda de soberania face a uma Comissão em geral suspeita de "neoliberalismo", aceitaram uma comunicação feita em termos genéricos e sem qualquer tipo, que se saiba, de justificação detalhada, como se não estivessem em causa decisões importantes do nosso governo e como se fosse líquido que este tenha errado.
Como se estivessem constrangidos pela má consciência e fizessem fé nas catilinárias maniqueistas de um Sousa Tavares para quem tudo o que cheire a construção fede corrupção.
A segunda é a indigência burocrática como se tem tratado do caso.
Num caso desta gravidade, que lança suspeitas sobre a competência e idoneidade de Governos, autarquias, técnicos e organismos da administração pública, esperar-se-ia que pelo menos um de entre as centenas de jornalistas fosse estudar o tema, compulsando dossiers, triando a floresta de legislação e analisando documentos de projecto, entrevistando os diversos intervenientes e elaborando uma perspectiva de forma independente. Dá muito trabalho, para um tema que não mete sangue nem sexo.
Pelo contrário, as "notícias" editam "reacções", reproduzem uma ou outra passagem de algum documento e repetem parágrafos já mais do que esgotados e que nada acrescentam ou atrasam para a compreensão da questão, só palha.
Onde está o jornalismo de investigação em Portugal?
Abafado por um jornalismo funcionário e bajulador que se habitua à condição de "angariador" de "patrocinadores" de cadernos temáticos.