Fuga para a frente
Ainda não arrefeceu o súbito estupor de Governos e comentadores com as consequências dramáticas da concretização da panaceia dos biocombustíveis, e já se perfilam, quase como corolário, os OGM como solução milagrosa para os problemas de abastecimento de cereais causados por aqueles e o nuclear como "solução inevitável" como declarou Carlos Monjardino.
Os biocombustíveis são um caso típico de emenda pior do que o soneto causado pela humana "procura de soluções inovadoras" e ausência de reflexão adequada.
Ainda há poucos anos eram bandeira de uma minoria preocupada em encontrar alternativas energéticas, unindo ambientalistas iluminados e adeptos da "autonomia energética".
Bastou o início do presente choque petrolífero para que se tornasse uma solução "viável" para os grandes produtores e, com a procissão ainda no adro, num desastre económico e ambiental.
Mas parece que este exemplo não é suficiente para os adeptos das soluções "inevitáveis".
Enquanto a imprensa portuguesa procura manter-se numa posição "equidistante" e "equilibrada", significando na prática que anda a reboque dos comunicados dos vendedores de OGM, torna-se recomendável a leitura do artigo "Monsanto's Harvest of Fear" publicado no número verde de Maio de 2008 da Vanity Fair, por duas razões: lembrarmo-nos do que é o jornalismo de investigação numa grande revista americana (este número traz outros artigos excelentes, como uma investigação sobre os responsáveis do processo que levou à adopção da tortura como método de interrogatório patrocinado pela actual administração americana), e dos métodos dos vendedores de OGM.