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terça-feira, setembro 29, 2009 

Os nois pelos Bomes

Por outras palavras, e em resumo:
Não votei neste Presidente e não tenho por ele simpatia. Considero que nalguns casos até se portou bem, mesmo em confronto com o Governo. Não parece ser uma pessoa particularmente inteligente mas é, sem dúvida, hábil.
Mas hoje, francamente, não me lembro de ver um responsável político português fazer uma análise tão disparatada e incoerente. E não foi por ele não ter tido tempo para pensar...
Que cada um tire as suas conclusões: o que leva um Governante a fazer uma declaração completamente incoerente como esta? O facto de... não ter argumentos? De não ter onde se meter?
É à conta disto que vamos ter outra personagem brilhante, o Duque de Bragança, a murmurar que "numa monarquia não se passaria nada disto", excitando uma horda de forcados com problemas para lidar com o excesso de testorerona e obrigados, para aplacar o descontrolo hormonal, a trepar a paus de bandeira?
O ponto 1 refere que "não existe em nenhuma declaração ou escrito do Presidente qualquer referência a escutas ou a algo com significado semelhante". Se houvesse um mínimo de lógica, isto, só por si, deveria fechar o assunto. Todas as notícias sugerindo a existência de escutas são falsas ou provêm de fontes não autorizadas. Porque é que o Presidente não disse logo isto em Agosto?
Porém, no ponto 2..."destacadas personalidades do partido do Governo exigindo ao Presidente da República que interrompesse as férias e viesse falar sobre a participação de membros da sua casa civil na elaboração do programa do PSD (o que, de acordo com a informação que me foi prestada, era mentira)"
Até aqui tudo bem, pode aceitar-se que foi um abuso de personalidades do PS, uma calúnia política, mas Porque é que o Presidente não disse logo, claramente, em Agosto, que fossem bugiar, que ninguém tem nada a ver com o facto de personalidades da sua Casa Civil participarem ou não na elaboração do Programa do PSD e que ainda por cima isso é (foi) mentira?
O ponto 3 é a interpretação de fundo que o Presidente fez desta história: que o PS o tentou colar ao PSD e que não queria discutir os problemas do País.
Esta interpretação, respeitável, seria possível em 17 de Agosto de 2009, mas apresentá-la em 29 de Setembro de 2009, quando a questão da elaboração do programa do PSD foi rapidamente secundarizada e o que dominou a agenda mediático-política foi a questão da acusação levantada no Público de suspeitas de escutas, é intelectualmente indigente.
No ponto 4, embota-se totalmente o raciocínio:
Muito do que depois foi dito ou escrito, diz o Presidente, envolvendo o meu nome interpretei-o como visando consolidar aqueles dois objectivos. (lembremos, colar o Presidente ao PSD e fugir aos problemas do País)
Incluindo (incluindo onde? na prossecução dos objectivos?) as interrogações que qualquer cidadão pode fazer sobre como é que aqueles políticos sabiam dos passos dados por membros da Casa Civil da Presidência da República (Mas o que é que o qualquer cidadão pode deduzir sobre o que os políticos do PS sabiam, quando a Presidente do PSD disse na altura - e o Presidente agora reforça - que o que os políticos sabiam era falso?).
Incluindo mesmo as interrogações atribuídas
(as declarações foram atribuídas? Atribuídas por quem?) a um membro (afinal não haviam várias fontes? Afinal EXISTE UM MEMBRO!) da minha Casa Civil , de que não tive conhecimento prévio e que tenho algumas dúvidas quanto aos termos exactos em que possam ter sido produzidas (afinal foram "atribuídas", ou foram PRODUZIDAS, mesmo que duvidando-se dos termos em que foram produzidas? Será assim tão difícil ao Presidente chegar ao pé do Sr Fernando Lima e perguntar-lhe, ó Shôtôr, o que é que o Sr. andou a dizer nos jornais?). Porque é que o Presidente não chamou logo a fonte, esclareceu os termos em que as tais declarações foram produzidas e não desmentiu os jornais? OK, o PS poderia ter tentado tirar dividendos do caso em relação à questão do papel da imprensa e em particular do Público no mito da "asfixia democrática", mas do ponto de vista do Presidente, o caso tinha ficado resolvido.
Mas onde está o crime de alguém, a título pessoal, se interrogar sobre a razão das declarações políticas de outrem? Sim, onde está o crime? Mas o "alguém" inclui o Presidente? Então porque é que o Presidente não desmentiu o Público quando o jornal escreveu que a fonte estava autorizada a revelar a suspeita?
Porque é que o Presidente não disse logo,na altura, que "a fonte" tinha exorbitado as suas funções?
Repito, para mim, pessoalmente, tudo não passava de tentativas de consolidar os dois objectivos já referidos: colar o Presidente ao PSD e desviar as atenções. (Não se percebe: o "tudo" eram as notícias do Público ou a reacção que estas, justificadamente, sabe-se agora, suscitaram? Mas se o "tudo" são as notícias, porque é que foi o PS quem fez "uma campanha"?
O ponto 5 é indigente:
"Desconhecia totalmente a existência e o conteúdo do referido e-mail (era suposto conhecer? Eu acho que o Senhor não está bem...) e, pessoalmente, tenho sérias dúvidas quanto à veracidade das afirmações nele contidas. (respeitável)
Não conheço o assessor do Primeiro-Ministro nele referido, não sei com quem falou, não sei o que viu ou ouviu durante a minha visita à Madeira e se disso fez ou não relatos a alguém.
Sobre mim próprio teria pouco a relatar que não fosse de todos conhecido. E por isso não atribuí qualquer importância à sua presença quando soube que tinha acompanhado a minha visita à Madeira.
"
Isto é assombroso. Será que o Sr. Presidente da República não lê os jornais nem mesmo em diagonal? Ou não tem quem lhos leia? Será que o Sr. Presidente não sabe que o tal assessor já é referido na notícia do Público de Agosto? Porque é que não disse isto na altura?
O ponto 6 é incompreensível. É autista. Fala como se ignorasse as notícias do Público...
O ponto 7, é uma desculpa totalmente esfarrapada.
"o e-mail publicado deixava a dúvida na opinião pública sobre se teria sido violada uma regra básica que vigora na Presidência da República: ninguém está autorizado a falar em nome do Presidente da República, a não ser os seus chefes da Casa Civil e da Casa Militar. E embora me tenha sido garantido que tal não aconteceu, (o próprio Presidente "garantiu", no ponto 4, que tal aconteceu, considerando-a uma dúvida normal que terá sido produzida em circunstâncias quiçá não fielmente reproduzidas na imprensa) eu não podia deixar que a dúvida permanecesse.
Foi por isso, e só por isso, que procedi a alterações na minha Casa Civil.
"
O Presidente sai da sua Olímpica ignorância e reclusão, e age com base numa suspeita, apesar de "lhe garantirem" que ninguém falou em seu nome...
Isto é, gozar com o pagode. Pura e simplesmente. Ou então algo de grave se passa com a saúde do Presidente.
O ponto 9, deixa qualquer um boquiaberto:
A segunda interrogação que a publicação do referido e-mail me suscitou foi a seguinte: “será possível alguém do exterior entrar no meu computador e conhecer os meus e-mails? Estará a informação confidencial contida nos computadores da Presidência da República suficientemente protegida?” (Questão teórica? A propósito do e-mail no DN? Mas porquê? Porque o Zé Manel foi fazer queixinhas? Assombroso! Ou Ridículo?)
Foi para esclarecer esta questão que hoje ouvi várias entidades com responsabilidades na área da segurança. Fiquei a saber que existem vulnerabilidades (Olha a dicazinha para o Expresso) e pedi que se estudasse a forma de as reduzir ( já algum dos imbecis que investigam o preço das solas dos sapatos do Primeiro Ministro se pôs em campo para saber quem foi o felizardo que impingiu ao Presidente um reforço dos antivirus?).
Enfim, patético, uma vergonha.
O Presidente declara que nunca falou em escutas nem autorizou alguém a falar sobre as escutas.
Mas toda a sua intervenção demonstra o contrário da justificação que deu para o prolongado silêncio.
O Presidente esteve calado, pura e simplesmente para proteger o PSD.
Só isso. Que venha agora atacar o PS só mostra até que ponto está comprometido.