Venha a instabilidade
Quem lê a crónica de Vasco Pulido Valente no Público de hoje fica com a sensação de que o Partido Socialista chegou ao Governo por golpe de Estado.
Talvez que a frase "vontade de libertação" seja na realidade uma forma de admitir que esta é a única característica que podemos designar como "política" desta campanha que tem tido a ver menos com "projectos" ou "argumentos" políticos do que com o descontentamento difuso de diversos sectores da população afectados pela crise mas incapazes de articulação de projectos políticos coerentes e consolidado por uma campanha de destruição da imagem pessoal do Primeiro Ministro.
De outro modo não se compreende a forma como os comentadores, quando admitem o óbvio, a abissal, embaraçosa, e quase aterradora, pelo que anuncia para os próximos meses, diferença de preparação demonstrada entre o actual Primeiro Ministro e os restantes candidatos, na ronda de debates televisivos das últimas semanas, explicam o facto com questões "de imagem", e "técnicas", do ponto de vista da eficácia da linguagem televisiva.
Segundo Pulido Valente, desta vontade de libertação resultará um Governo dependente dos equilíbrios que consiga alcançar num Parlamento que recuperará assim a sua dignidade e a instabilidade consequente gerará o interesse dos cidadãos comuns pela política, mesmo sabendo dos perigos das tentações autoritárias em Portugal como forma de resolução de instabilidades políticas em tempos de crise grave.
Caso o resultado das eleições não permita a recomposição de um Governo PSD/PP, o que resolveria só por si o problema do "déficit democrático" para parte significativa dos crocodilos lacrimejantes que actualmente o lamentam, vamos ver como essa recuperada dignidade será tratada por Pulido Valente nas suas crónicas dos próximos meses.