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domingo, outubro 18, 2009 

Big Brother eleitoral

Pegando no mote de um Santana Lopes semi turvado por uma vitória que tinha como matematicamente certa, o impagável arquitecto Saraiva aproveitou a semana "de reflexão" até à publicação da edição do seu semanário subsequente às eleições autárquicas para usar a máquina de calcular e nos revelar a sua "tese científica" sobre o resultado eleitoral em Lisboa.
A tese, que se desculpa quando enunciada por Santana em desnorte momentâneo e a quente, é a seguinte:
O PS ganhou as eleições em Lisboa graças a um acordo secreto de transferência de votos com a CDU e o BE.
Saraiva, após matutar maduramente sobre a questão expõe a teoria do seguinte modo no número de hoje do Sol:
Independentemente de considerações que se passam fazer a partir de manipulações de números, será concebível que alguém com uma noção mínima do que são os processos eleitorais, possa imaginar que mesmo existindo um acordo entre as direcções partidárias, um partido, qualquer que ele fosse, poderia dar, não à totalidade, mas a PARTE dos seus eleitores, secretamente, instruções no sentido de transferir, mais ou menos exactamente o número de votos que fez a diferença entre os dois principais concorrentes?
Esta concepção dominante no submundo da "análise política", do "eleitorado" de cada partido concebido já não como correspondendo a interesses de determinadas classes ou grupos da população que em determinadas circunstâncias se revêem neste ou naquele partido, mas como uma espécie de gado em que cada bezerro transporta consigo um chip do partido ou manada a que "pertence" e que se "desloca" de um lado para o outro "transferindo-se" de rebanho em rebanho como se errando de pastagem em pastagem, subjaz, infelizmente, não só às análises políticas mainstream de analistas que não se sabe como encontraram o seu caminho para os ecrans de televisão ou as colunas dos jornais, como à própria esquerda supostamente detentora de ferramentas conceptuais mais sofisticadas. E dá este resultado.
O PC, um partido que toda a gente reconhece como estando em declíneo, teria uma espécie de controle sobre todos os seus votantes. Sabe quem são todos, e dá ordens a cada um como votar de acordo com os interesses momentâneos da sua direcção.
Visto de outra maneira: se nem o PC, nem ninguém, nem as empresas de sondagens, tem ideia dos votos que vai ter, como é que se pode conceber que esse partido pode assumir acordos "secretos" para ceder uma "parte" precisa do seu eleitorado? Será que o arquitecto imagina que os votantes no PC são uns zombies que estão ligados por um sistema de comunicações à sede do Partido que escolhe o número dos que vão votar noutro partido para viabilizar uma determinada estratégia? É absurdo.
E é absurdo tanto mais que os números de votos no PC, no BE, no PS e no PSD e CDS flutuam de vários milhares para cima ou para baixo em cada eleição.
Se por exemplo, o Santana Lopes tivesse feito o pleno do PSD mais o CDS nas legislativas em Lisboa, teria tido cento e trinta mil votos, isto é, mais quase 22 mil votos dos que obteve o que tornaria o putativo esforço do PC, inglório porque não teriam sido suficientes os tais quinze mil votos "do PC".
Mas antes da votação ninguém poderia saber que meia dúzia de votos da CDU bastariam, já que a diferença de votos entre PS e a coligação foi de mais de quatorze mil votos.
Os tais quinze mil votos "da CDU" só se tornaram úteis DEPOIS da votação, e nada podia prever a sua importância absoluta ou relativa para a vitória do PS.
A necessidade mesquinha de minimizar, ou "explicar" de qualquer maneira a vitória da lista de Costa sem lhe conceder mérito próprio, obriga a diversos "mabalarismos" mas quando se pensa que a imaginação tem limites, eis que o inacreditável arquitecto Saraiva nos lembra que há valores de referência em obtusidade que são difíceis de igualar.