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domingo, setembro 16, 2007 

Apocalípticos e Messiânicos

Continuo sem perceber bem por que fronteiras subtis se destrinçam na mente dos cépticos os tipos de vanguardas de acordo com o seu potencial totalitário.
Falhos de outras referências lexicais, pessoal com mais em que pensar e muita areia para enterrar a cabeça não tem dúvidas em classificar quem recuse a contaminação pelos organismos transgénicos na gaveta dos "neoluditas" e dos "apocalípticos".
Este meme deve ter-se propagado a partir de um número qualquer do Almanaque Borda d'Água e agora temos de aguentar todo o pacóvio que se arraste do mais remoto buraco da Serra da Lapa até ao teclado do computador mais próximo a repeti-lo mecanicamente até à exaustão.
O defeito, ao que parece, é não haver nenhuma multinacional ou político americano mediático a dar caução à luta anti-OGM.
Se alguém disser que a actual capacidade de produção de alimentos daria para acabar com a fome no mundo desde que fossem postos em prática os mecanismos de regulação e distribuição adequados, tratavam-no como perigoso inimigo do mercado e logo da liberdade.
E nem é sequer pela exequibilidade da proposta, mais ou menos lunática. É pelo programa.
Por outro lado, acha-se natural que os defensores dos OGM os apresentem como "os alimentos humanos mais controlados", "correctores dos defeitos da natureza", e até a "solução para resolver o problema da fome no mundo" a ser adoptada "urgentemente", antes que seja tarde.
A demência destas pretensões messiânicas passa aparentemente despercebida aos mais acérrimos defensores da "liberdade" e "da vida", aos mais refractários a "controles" e aos mais cépticos quanto à "natureza humana" apesar de implicar a sujeição da humanidade aos ditames de um reduzido número de multinacionais que eufemisticamente se diz que são "controladas" pelos seus accionistas, gente e pobre e desvalida, já se vê.
Apesar de ser um evidente atentado à liberdade de quem quer produzir e consumir alimentos não contaminados e uma destruição irreversível da biodiversidade à escala planetária.
A única explicação é que os OGM não são propostos à força de manifestações por justiceiros que pretendem "decidir por nós". São introduzidos sem "jacobinismos", à socapa, à nossa revelia e sem necessidade de nos chatear a pedir-nos a nossa opinião, por Drs. Strangelove de colarinho branco e postura mansa.
O único dinamismo envolvido é o empresarial e a busca de lucro e controlo por uma minoria irresponsável, mas respeitável. E como o dinamismo empresarial parece ter-se tornado em mais um "valor sagrado" independentemente das suas consequências, é isso que conta.