Cabra-cega
Parece que finalmente, à última hora, o Governo lá se chegou à frente com o milhão e meio de euros necessário para manter o quadro de Tiepolo na posse do Estado.
Para alguns, terá um sabor a prenda de Natal.
Nas colunas dos jornais e nas cartas ao Director, passado o choque da surpresa, é hora do espaço ser ocupado pelos críticos.
Teremos as habituais categorias: a constatação de que foi tarde, o que "obrigou" toda a gente a um stress desnecessário com reflexos devastadores na produtividade do País, a crítica arrasadora à forma como o Estado gasta o "nosso" dinheiro sem rei nem roque em obras "menores" e o auto-elogio de um ou outro líder da oposição congratulando-se com a firmeza própria que originou o "recuo" in extremis do Governo.
O mais cómico é que se alguém se desse ao trabalho de ir comparar o que se tem publicado na imprensa desde que se levantou esta celeuma, arriscar-se-ia a ter a surpresa de encontrar alguns críticos da aquisição entre as mais vociferantes vozes que ainda há dias se levantavam contra a incúria que esteve prestes a deixar de sair do património do Estado uma obra de tal valor estético e cultural.
Embora haja quem leve isto a sério, parece, e é, um jogo.