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quinta-feira, novembro 29, 2007 

Matar a fominha

Numa crónica recente, o ubíquo Pacheco verberou o anti-americanismo da resistência anti-OGM de uma forma que se julgaria expressa por um incompreendido adido comercial da Embaixada Americana em Lisboa.
O remoque, relembro, era de que da oposição aos OGM estava ao serviço dos fins "obscuros" de "certos" "interesses económicos" a quem interessa proteger artificialmente os produtos agrícolas europeus da concorrência dos produtos agrícolas americanos (esta, por definição, leal, tanto para o Pacheco como para o tal adido).
Numa pirueta argumentativa pouco compreensível mas já vulgarizada, parece que prejudicar o entendimento que os americanos têm do que são os seus direitos inalienáveis, implica matar à fome um ror de gente espalhada pelo vasto mundo.
Se os interesses anti-OGM são obscuros, os dos pró são "cristalinos".
Uma passagem de um artigo de ROBERT FALKNER intitulado "The Global Biotech Food Fight: Why the United States Got It So Wrong" e publicado última edição do Brown Journal of World Affairs, mostra quem são os pobrezinhos que saem prejudicados deste "affair".
Segundo Falkner, as diferentes atitudes reguladoras prevalecentes na Europa e nos Estados Unidos, deram vantagem inicial a um pequeno grupo de grandes firmas americanas como a Monsanto, a Dupont e a Dow que se tornaram dominantes no mercado.

Porém, "as soon as US farmers began to adopt the first line of GM crops, Europe’s more restrictive stance on bio safety came to cast a shadow over the global expansion of GM products – including in the United States.
The first shipments of GM crops to Europe provoked a fierce anti-biotech campaign the late 1990s and led to the complete closure to the European market for most of the United States’ corn and soybean exports by the late1998. The European Union’s approval system for GMO imports ground to a halt as more European governments bowed to public pressure and forced a moratorium on new GM products. Because of the high adoption rate of GM varieties in US agriculture and the absence of appropriate infrastructure for segregating GM from non GM crops, the US farm sector lost an estimated $300 million in annual exports to Europe. After losing a protracted WTO trade dispute brought by the United States, the European Union lifted its moratorium in 2004, but new GMO labeling and traceability requirements and hostile consumer reactions have kept GM food imports at bay.
To make matters worst for US farmers, GMO market restrictions quickly spread from Europe to other countries. Partly inspired by the European Union’s hardline stance on risks, a growing number of Asian, African and Latin American countries have created their own bio safety regulations and imposed restrictive import and labeling requirements. In particular, those countries with an interest in preserving access to non-GM agricultural markets in Europe have resisted the growth of GM crop varieties. Trade related market opposition has emerged against the introduction of GM rice in India and GM soybeans in China, among others
".
Em resumo... fiados nos Canhotos e Fevereiros locais, os agricultores americanos aceitaram um risco e agora somos nós os chantageados para que os riscos da Monsanto & Cia sejam minorados.

Ninguém anda aqui para matar a fome a ninguém, trata-se de fazer-nos aceitar uma porcaria porque se não, para além dos prejuízos directos, nem sequer os produtores do terceiro mundo que para sobreviver precisam de vender ao mercado europeu lhes compram as sementes. Do que se trata aqui é apenas de abrir o mercado mais abastado e lucrativo, não é de caridade. Neste contexto, Fevereiro e comparsas assumem o papel importante de disseminar o mais possível a peste para que deixe de fazer sentido regulação que impeça a entrada dos produtos americanos contaminados. Quando isso acontecer vamos ver a evolução dos ganhos que os agricultores portugueses que têm aderido aos OGM apresentam.