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quinta-feira, novembro 29, 2007 

Tutti frutti

Mais um estudo para a localização do aeroporto corroborando das conclusões já previamente anunciadas pelos seus promotores.
Não se vislumbra quando é que um estudo "independente" encomendado pelo senhor X concorda com outro estudo "independente" encomendado pelo senhor Y.
Se isto não revela a venalidade do mundo das consultorias e a vacuidade da pretensão dos autoproclamados decisores eficazes ...
Por este andar passarão décadas antes de se tomar uma decisão.
E quando chegar a altura de tomá-la alguém demonstrará que os actuais estudos já estarão desactualizados...
O que vale é que enquanto o pau vai e vem folgam as costas e talvez acabe por se concluir, "by default", que afinal não é necessário mais aeroporto nenhum .
E a realidade comprova-o a cada dia que passa com o actual aeroporto a funcionar e sem se tomar decisão nenhuma.

São preisamente este tipo de dinâmicas que me causam imenso incómodo.
Repare, Rui:
- Proclama-se e iminência de uma crise energética;
- Proclama-se o aqueciemnto global e as alterações climáticas como o problema do século:
- Ao mesmo tempo adjudicam-se mais 500 km de auto-estradas e embora se discuta onde, raras são as vozes que se atrevem a colocar em causa a necessidade de um nopvo aeroporto.

Um artigo da Luisa Schmit sobre energia na revista do expresso da semana passada, dava conta de dinâmica semelhante nesse sector.

E eu concluo que este é o resultado óbvio de não se discutir um modelo de sociedade alternativo e de em vez disso se discutir apenas alternativas para o modelo existente!

O Rui falava há dias de algo como vencer batalhas para ganhar a guerra. O que eu acho é que andamos a lutar na guerra errada.

Manuel, o que se designa vulgarmente como "o progresso", é uma locomotiva imparável. Repare que nós andamos anos a discutir a construção de um determinado empreendimento turístico e no Dubai, aumentam-se num fósforo 70 kilómetros de costa com ilhas artificiais, está em cosntrução o segundo maior shopping mall do mundo, ao lado do maior, e prevê-se a construção (no meio do deserto) de uma áerea coberta para desportos de inverno que inclui pistas de ski (Eu bombardeava estes gajos antes do Saddam, mas eles são "nossos "aliados).
Andamos aqui a discutir 1 aeroporto e os chineses constroem o equivalente a uma central eléctrica por semana...
Nós, em Portugal, quer queiramos aceitá-lo ou não, até somos, no meio da javardice, relativamente privilegiados.
É uma questão que nos ultrapassa completamente. Por isso é que me parece que devemos tentar limitar danos, concentrar-nos em questões um pouco mais concretas e enquanto há capacidade de intervenção. No momento em que os agentes dos produtores de OGM americanos (e não me parece que seja altura para se estar com tibiezas com a utilização da palavra "agente")consigam impôr-nos essa solução, será o descalabro. Claro que "o resto" não pode ser esquecido, mas sem grandes ilusões. Repare que há pelo menos quarenta anos que existem alertas ambientais e quem acabou por receber os louros foi o sr. Gore. É mau, é injusto mas sempre é alguma coisa. Mas sendo alguma coisa, só o é, em medida porque também a questão ambiental "amadureceu" o suficiente para se tornar numa oportunidade de negócio.
A alternativa? Uma revolução que imponha pela força uma alteração drástica? se nos abstrairmos dos resultados da generalidade das revoluções, quem a fará e quais seriam as suas consequências imediatas? Provavelmente tão danosas para uma espécie humana refém de si própria como não fazer nada.

Rui:

Além de tentar gerir danos na realidade diária que nos rodeia, coisa que cada um vai fazendo na medida das suas possibilidades o melhor que sabe e pode, talvez uma porta das traseiras da alternativa de que falo, pudesse ser a educação.
Desde logo os valores que nós próprios como educadores transmitimos aos nossos filhos, que como todas as crianças se revêm mais fácilmente nos modelos de comportamento do que nos discursos.
Depois, poderiamos agir mais como cidadãos. É confrangedora a falta de participação nas assembleias de pais, de freguesia, de câmara, onde a demissão das pessoas mais informadas entrega de bandeja as decisões que a todos afectam aos interesses mais imediatistas. Se em lugar de uma cidadania reactiva fossemos mais activos, mas de um activismo alinhado com a frase de Morim " pensar global, agir local", talvez a alternativa se viabilizasse. A história está bem recheada de revoluções que começaram com menos, mas adiante.
Se precisar de um porta cartaz contra OGM's, conte comigo. Mas saiba que odeio ser colocado na contigência de ter de escolher o mal menor. Além disso sempre me incomodaram os consensos, porque derivam inevitavelmente para os menores denominadores comuns ás "certezas" do tempo.

Manuel dou-lhe toda a razão embora confesse participar no défice de cidadania que bem caracteriza. Sou mais um dos que vivem sob a ditadura do casa trabalho trabalho casa.
Quanto aos OGM que têm servido de mote para esta conversa, a minha militância limita-se para já a exprimir a minha opinião, entre os que me conhecem e aqui, na net, o "espaço" da artificialidade por excelência, também ele cada vez mais a necessitar de consumir muita energia. A contingência do mal menor, julgo que é uma constante na nossa vida e nem é das piores. Viver em sociedade implica estabelecer compromissos. Não todos, claro...

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