Contemporânea
Numa discussão sobre arquitectura, alguém me diz que é ridículo pastiche a reprodução de modelos arquitectónicos "do passado" e que cada construção deve exibir as marcas da época em que é construída.
Esta opinião parte do princípio de que a época em que se vive "produz", por si própria, "modelos".
Como o "tempo" fosse uma espécie de condicionante técnico.
Como se uma lei quântica qualquer tornasse inaudível um Stradivarius se ouvido para lá do espaço de validade temporal em que foi concebido e construído.
Como se alguém que precisasse de construir hoje, um violino, tivesse de o fazer em plástico, cartão, silicone ou metal e com uma forma qualquer à medida da "criatividade" do construtor.
Como se uma casa construída em taipa caísse ou não fosse superior na relação solidez/força estética/conforto térmico/custo de execução/sustentabilidade ecológica, a qualquer outro processo de construção corrente.
Como se um edifício pombalino, consensual como um bom modelo de arquitectura de cidade, digno de ser vivido e habitado mesmo por muitos artistas e arquitectos contemporâneos, só pudesse, por motivos de natureza técnica, ser construído nos séculos XVIII ou XIX.
Estas pessoas esquecem que grande parte da produção arquitectónica actual não passa, ela sim, de pastiche, não de época, mas geográfico, cultural, de contexto e usos, baseado em equívocos estéticos e técnicos.
As palas metálicas que no modelo copiado são processo de ensombramento, são meramente decorativas na cópia.
A fachada de vidro absurdamente cara mas de eficaz resistência térmica, do modelo, torna-se estufa e ruína energética no projecto de baixo orçamento esteticamente "igual" ou "parecido".
Recusam-se como "pastiche" modelos tecnicamente e esteticamente comprovados por séculos de utilização como se fosse a época obrigasse a copiar tiques e imagens veiculadas por fotografias das revistas de arquitectura.