Tantas explicações para a elevada abstenção das eleições europeias, e no entanto há uma coisa que me parece evidente: a maior causa é a falta de educação cívica dos europeus, não há volta a dar-lhe. E também, pese embora a histeria "explicatória" dos analistas e da necessidade mórbida de perorar sobre a "crise" daquilo a que eles chamam depreciativamente de "sistema", da noção de que tudo se manterá relativamente estável, relativamente bem, e não se esperam para os próximos tempos crises catastróficas que alterem significativamente a vida das pessoas para o bem ou para o mal.
Repare-se no Irão: a sociedade urbana iraniana é provavelmente tão cosmopolita e blasé, como a nossa. No entanto, está condicionada por um regime político que é um arremedo de democracia, tem um grunho revisionista do holocausto como Presidente e conta com a inqualificável instituição de uma polícia nojenta ao serviço de uma casta religiosa corrupta, hipócrita e repugnante que vigia questões importantes como os centímetros de cabelo que as mulheres podem mostrar na rua.
Será que lá há menos corrupção? Menos "clima brutal de condicionamento da opinião pública" do que cá? Lá há menos descalabro económico, expectativas frustradas, desigualdade, desamparo?
Não. Lá há um problema sério e as pessoas vão votar com a intenção de resolvê-lo, oxalá o consigam.
O importante é que as queixas irresponsáveis de muitos descontentes CÁ, e a falta de educação cívica de muitos outros para quem a "impossibilidade de mudar o que quer que seja com o voto" é uma desculpa airosa para o seu egoismozinho mesquinho que não lhes permite levantar o cu da cadeira num Domingo para irem à Assembleia de Voto porque estão a fazer uma merda qualquer de fundamental importância para a puta que os pariu ou nem isso, não acabem por dar razões a um qualquer iluminado populista ou a um qualquer partideco de iluminados populistas de uma qualquer extrema para "dispensar" um direito e um dever fundamental da Democracia, dêem a volta que lhe quizerem dar.