sábado, maio 15, 2010 

Grande


Uma das coisas mais inspiradoras no Saldanha Sanches foi a coerência do percurso.
No tempo certo foi uma referência para todo o movimento estudantil, mesmo para quem nada tinha que ver com o MRPP.
Depois, o assumir descomplexado do seu passado sem reconversões a novos fanatismos, solução fácil que foi seguida por muitos, o que lhe valeu, ainda recentemente, novas perseguições.
Por último a simplicidade. Senhor de quem era, nunca o vimos puxar dos galões e credenciais do "lutador antifascista" que foi, como poucos.
Toda a partida é inevitável. Esta foi muito cedo demais.

 

À nora

Quando já se percebeu que neste momento ninguém tem grande condições de ir para a cabeça do touro e os revolucionários do PC e do BE esboçam as suas "alternativas" ao sistema capitalista tornando-se nos mais indefectíveis animadores duma comissão de inquérito a não se sabe bem o quê, torna-se preocupante que se tenha tornado impossível ter um mínimo de confiança no que dizem o Primeiro Ministro e o Ministro das Finanças sobre a economia. A situação é volátil, mas será assim tão necessário este espectáculo em que o governo anuncia coisas, os jornais outras que o governo desmente num primeiro momento para as confirmar passados poucos dias, para recomeçar o processo na semana a seguir?

sexta-feira, maio 07, 2010 

Brincar com fósforos

A controversa discussão sobre a segurança nuclear choca na incapacidade dos cépticos anti-nuclear perceberem que hoje são tomadas todas as medidas de segurança na construção das centrais.
A que propósito vem, agitar hoje o papão de Chernobyl? Não é já chover no molhado?
Qualquer menino de escola conhece causas para o maior acidente em centrais nucleares ocorrido há 24 anos em Chernobyl:
Chernobyl aconteceu há 24 anos, numa central projectada há 35 anos, sem casamata de confinamento nem nenhum dos modernos sistemas de segurança. O que só foi possível por culpa do corrupto e ineficiente sistema soviético, acrescentam os mais informados.
Claro que como em todas as discussões existem pequenas nuances.
Nesta, a pergunta lógica é:
Será que as centrais nucleares de há 35 anos eram projectadas por incompetentes formados na Universidade Independente e desconhecedores dos perigos da utilização do nuclear para fins pacíficos?
Quem projectou, construiu e operou Chernobyl estava convicto de que a central iria operar sem ser sob rigorosas condições de segurança?
Onde estavam e o que disseram sobre segurança há trinta anos, antes do acidente de Chernobyl, os crentes da utopia nuclear?
Onde estavam, não já, meninos da escola com a resposta a posteriori na ponta da lingua, mas cientistas de gabarito, avisando para a ausência da casamata de confinamento e para a falta dos "modernos" sistemas de segurança?
União Soviética nos anos setenta, estamos a falar de um País que projectava o seu poder por todo o mundo e disputara a corrida ao espaço com a nação tecnológicamente mais desenvolvida, os Estados Unidos, tendo nessa corrida alcançado vitórias significativas.
Fala-se por vezes da ineficiência do Estado e dos entraves que coloca à actividade económica. Neste caso, porém, um Estado forte definiu o nuclear como política e avançou com os conhecimentos técnicos mais avançados que havia à época para a resolução do problema energético apesar de não ser pobre em recursos como o petróleo e o gás natural.
Depois de todas as dificuldades da construção do socialismo, eis um caminho, um atalho que se abria, directo à utopia via independência energética.
Como parte desse programa Chernobyl foi construída num local seleccionado, na orla de uma grande floresta. A cerca de um quilómetro foi construída uma cidade ideal de traçado modernista, chamada Pripyat.
Alguns números números da época da revista Vida Soviética publicaram belas fotografias ilustrativas da vida em Pripyat. Belas avenidas arborizadas ladeadas por edifícios modernos, desafogo, luminosidade, uma vida de cidade em contacto directo com a natureza. Não sei se era o socialismo, mas era como que um sonho realizado. O pesadelo chegou depois.
"O acidente nuclear de Chernobil ocorreu dia 26 de Abril de 1986, na Usina Nuclear de Chernobil na Ucrânia (então parte da União Soviética). É considerado o pior acidente nuclear da história da energia nuclear, produzindo uma nuvem de radioactividade que atingiu a União Soviética, Europa Oriental, Escandinávia e Reino Unido, com a liberação de 400 vezes mais contaminação que a bomba que foi lançada sobre Hiroshima. Grandes áreas da Ucrânia, Bielorrússia e Rússia foram muito contaminadas, resultando na evacuação e realojamento de aproximadamente 200 mil pessoas."
Parece que segundo a OMS se verificaram 400 mortos.
400 mortos!? Qual é o grilo então? À volta desse número ocorre todos os anos nas estradas portuguesas. Ocorreu no ano passado, ocorrerá, infelizmente, neste e no próximo e não consta que ninguém tenha proposto que se fechem as estradas.
Como exemplo de outros acidentes podem citar-se os ocorridos em minas e o colapso ou ruptura de barragens sem gerar a mesma controvérsia sobre a necessidade de exploração de minas e a construção de barragens.
Porquê então o problema com as centrais nucleares?
Bah! Chernobyl rebentou, tudo bem, reconstrói-se, fazem-se obras em Prypiat, que ao que parece nem ficou particularmente arrasada, e volta tudo ao mesmo... porque é que não o fazem? Deve ter a ver com a ineficiência soviética, ou com a instabilidade política que se vive na Ucrânia...
O que se passa, no entanto, é que o acidente de Chernobyl, que, felizmente, ocorreu numa região reliativamente despovoada da Ucrânia, teve o mérito de criar uma espécie de gigantesca "reserva natural", o que poderia fazer dele um ícone "ambientalista".
Sobrevivem as árvores, sobrevivem animais, sabe-se que lá com que deficiências e degenerescências, mas relativamente protegidos do ser mais agressivo e predador, o homem.
Esta reserva não necessita de Directivas Europeias, Redes Naturas, planos de ordenamento, regulamentos, não está sujeita à pressão demográfica e aos apetites de especuladores imobiliários.
É que os níveis de radiação são insuportáveis para o homem.
E assim vai continuar. Por centenas ou milhares de anos.
Não podemos ser eterna e sistematicamente pessimistas. Não podemos viver, como uma célebre tribo gaulesa, na permanente preocupação de que o céu nos caia em cima da cabeça .
Todos os dias surgem paranóicos à porta agitando papões: é as profecias de Nostradamus, é o calendário Maia, é o fiorde norueguês que pode cair, é a Montaña Vieja das canárias que pode desabar à próxima erupção provocando uma onda de 900 metros de altura, é o maremoto, é o meteorito, é o colpaso do sistema económico mundial... e ainda por cima, o que é mais provável que aconteça é surgir o chamado "cisne negro", o acidente inesperado de que ninguém estava à espera, como o recente vulcão islandês.
É impossível ter em conta todos os riscos quando decidimos a nossa vida, pessoal e colectiva.
Existem riscos na construção de uma barragem, e por isso se tomam cuidados excepcionais.
Se, excepcionalmente a barragem desabar, pode reconstruir-se.
Existem riscos numa viagem de automóvel.
Um acidente na estrada tem, em geral, consequências graves ou fatais para um número muito restrito de condutores. Numa barragem já não é assim. A devastação em vidas e bens causada pela derrocada de uma barragem obriga a enormes cuidados de segurança.
Mas a derrocada de uma barragem não é o fim da linha para uma região. A recente tragédia que ocorreu na Madeira, um fenómeno natural amplificado pela natureza da ocupação humana no espaço em que ocorreu, equivale a uma pequena barragem. Houve mortos e destruição de património, mas nem sequer foi decretado estado de calamidade e o turismo retoma.
A diferença entre um acidente como Chernobyl e uma barragem que desaba, é que depois do desabamento, a barragem pode ser reconstruída ou, em caso negativo, o território pode ser ordenado ou re-ordenado, e Chernobyl que "só" terá morto 4000 pessoas, é hoje, e será por muito tempo, um não lugar. É uma fava que saiu aos ucranianos e que não queremos que volte a sair em mais lado nenhum. Mais ainda, se os ucranianos têm suficiente território para "ignorar" Chernobyl, o que seria uma coisa dessas em Portugal?
A oposição à construção de centrais nucleares tem pois, a ver, com a excepcional natureza do perigo e a impossibilidade teórica, ontológica, de alguém "assegurar" a "segurança absoluta" sobre o que quer que seja, uma viagem de comboio de Lisboa ao Porto, quanto mais  uma central nuclear. Basta pensar que por muito que se fale em Chernobyl, não é infrequente a ocorrência de acidentes em centrais nucleares. Felizmente, porque as suas consequências têm até agora sido menores, esses acidentes são em geral pouco divulgados junto da opinião pública, o que é errado, porque contribui para a ideia relativamente generalizada de que acidentes nucleares é Chernobyl e, quanto muito, Three Mile Island, e que o resto é só segurança.
Esta realidade tem como consequência que a partir de determinado nível de segurança, os preços disparam, o que motivou a seguinte frase de um observador: Não foram os ambientalistas que travaram o programa nuclear americano, foi Wall Street.
Um exemplo clássico da impossibilidade de prever tudo é o caso do vaivém espacial Columbia/Endeavour.
O vaivém espacial não foi construído nos anos setenta por um regime soviético centralista, desmazelado e ineficiente, prestes a desabar. O Vaivém espacial é uma maravilha tecnológica em que não se poupou para assegurar um novo patamar na conquista do espaço. O processo estava de tal forma desenvolvido a controlado que a NASA abrira o programa a "civis". A bordo estava uma jovem professora do secundário que iria realizar experiências para os seus alunos.
O vôo durou poucos segundos antes de que milhões de dólares e os corpos dos tripulantes se volatilizassem no espaço.
Felizmente que o exemplo apenas serve para ilustrar a incapacidade de se garantir a segurança absoluta mesmo ao mais alto nível. Como o space shuttle não era uma central nuclear, morreram pessoas e perderam-se milhões de dólares mas a vida continuou para o programa espacial americano.

quinta-feira, maio 06, 2010 

Créditos

Duas categorias de pessoas merecem o momento actual:
1- Os saudosistas do antes do 25 de Abril.
É bem possível que em caso de bancarrota, ou de agravamento das medidas do PEC, voltemos ao atraso e miséria que se verificava nessa época pela qual nutrem tanta nostalgia. Só têm que estar satisfeitos.
2- Os irredutíveis que passaram os últimos 35 anos a queixarem-se de que "isto" estava cada vez pior. Agora é possível que "o sistema" lhes faça a vontade expondo de passagem a vacuidade e impotência dos seus "programas" "políticos".

 

VOODOO Crise (A slight return)

O pessoal anda há dois anos a dizer que isto é A crise do "capitalismo".
E que esta crise significa a demolição do sistema "neoliberal".
E que os tempos estão maduros para um sistema "alternativo".
O que parece evidente é:
Que esta é "uma" crise do sistema económico em que todos vivemos.
Que esse sistema, o resultado da "auto-organização" da espécie humana, "gera" crises periódicas.
Que esta crise ameaça destruir a social democracia, ou se se quiser, de forma mais abrangente, o "Estado Social", o que, indirectamente representa o triunfo total do liberalismo.
Que não existe uma alternativa social, política, económica à vista, por muito que muitos sábios se desdobrem em declarações tão grandiloquentes quanto inconsequentes, que remontam mais a um "wishfull thinking" difuso do que a qualquer ideia concreta e aplicável, se  exceptuarmos hipotéticas soluções ditatoriais, para diversos gostos, e com diversas matizes e tonalidades.

sábado, maio 01, 2010 

O raio que o parta e as agências de rating

O título "Autismo e as agências de rating", sugere que Mira Amaral despiu o fato de macaco de esforçado professor do técnico para vestir a bata de especialista em questões de saúde tingida de cinzento ás riscas para lhe acrescentar telegenia, versatilidade e credibilidade como economista.
Afinal a questão é mais prosaica: lendo o texto publicado no Expresso percebe-se como o autismo e as agências de rating são assuntos directamente relacionados com as energias renováveis e o prejuízo que causam ao País. Parece que, tal como as vacinas, causam autismo, fazem parte da grande conspiração mundial gizada por Kissinger e são as grandes responsáveis pela penalização que as agências de rating infligem à nossa economia. Causam a peste e a tosse convulsa, atraem malefícios de toda a ordem e são obra do anti cristo.
Pelo caminho, o homem que se queixa de andar a ser silenciado pelo papão Governo e bítima de ataques ad ominem, responde à crítica demolidora ao Manifesto para a política energética que António Costa Silva escreveu no Expresso há umas semanas atrás, com razões técnicas e cientìficas de peso: trata-se de um "gestor de um grupo que tem interesses económicos na eólica" o que explicaria tudo.
Mas o que dizer de Mira Amaral? Podemos deduzir daqui que se a sua pretensão já assumida publicamente de lançar um investimento nas eólicas off shore tivesse tido êxito, o veríamos hoje, no papel de cidadão, a alertar o País para o seu negócio ruinoso para o Páís, ou, pelo contrário,a defender, pundonoroso, os méritos das eólicas (pelo menos as off shore) com a mesma convicção com que hoje as ataca? Descobriria, com amplo recurso a "estudos" daqui e dacolá e contas e continhas, sucessos e vantagens onde hoje encontra nada mais nada menos do que a ruína do País?
Levaria atrás nesse "desígnio" o Pinto de Sá, refém de Estocolomo (ou Copenhaga), agreste com o nuclear, melífluo com o vento, Clemente Pedro Nunes e o dirigente do CDS que protagonizou a anterior marrada do nuclear preconizando uma, duas centrais? Tudo leva a crer que sim.