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domingo, abril 10, 2011 

Mecanismos seguros

Quando se fala da segurança "cada vez maior" do nuclear, convém recordar que o crash financeiro (e social) de 2008 se deveu ao colapso dos mecanismos de "securitização" do risco inventados ao longo dos últimos quarenta anos pelos mais brilhantes economistas e "gurus" da economia.
Risco.
O discurso oficial papagueado pela "imprensa económica" usa a palavra de forma propositadamente ambígua para criar na opinião pública um "espírito de fronteira" destinado a favorecer os negócios exortando o cidadão comum a assumir "riscos" reais (para lhe atirar isso à cara quando as coisas correm mal...), mas para os investidores e financeiros, o "risco" tem um significado técnico preciso que pouco tem a ver com a noção vagamente empírica e... romântica que tem para o homem comum mais impressionável.
Os financeiros e investidores procuram controlar ou eliminar os riscos, o que passa por "prever o futuro" com recurso a modelos matemáticos e, sobretudo nas últimas décadas, a mecanismos altamente complexos e criativos para ampliar as áreas de investimento de forma perfeitamente controlada.
Foi a afinação desses mecanismos altamente seguros que permitiu a explosão do crédito, a globalização e em grande parte o período de grande desenvolvimento económico que vivemos até há cerca de três anos no Ocidente.
"Mecanismos altamente seguros",  é um conceito que se refere à forma concreta como num determinado momento histórico as mais brilhantes cabeças pensantes (e reconhecidas como tal por todo o establishment), dominando as ferramentas da especialidade, baseando-se na experiência existente e fazendo uso de alguma dose adicional de presciência, conceberam protecções contra todos os riscos do investimento  e mais alguns. A complexidade desses mecanismos ultrapassava a compreensão de todos salvo uma minoria dos famosos "gurus", mas muitos investidores consideraram o facto de os produtos financeiros serem propostos pelos gurus (e gerarem dinheiro fácil) como uma manifestação adicional da sua segurança.
Como hoje sabemos, uma oscilação na base de um sistema intrinsecamente estável provocou a derrocada do sistema.