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sábado, setembro 24, 2011 

Circunstâncias atenuantes

É com alívio que constato, ao ler o Expresso, que até o atento Mário Crespo nos traz palavras contemporizadoras para com Jardim.
Garante-nos o informado jornalista, antiga vítima das cruéis perseguições que a Inquisição socratista  moveu à liberdade de imprensa enquanto na Madeira florescia um regime de "amplas liberdades" que ainda ali perdura, que Jardim terá tido os seus descuidos, mas... fora isso, fez Obra.
Fez Obra...
Crespo é um jornalista perspicaz, mas aqui não dá nenhuma novidade porque a "Obra" de Jardim é mais ou menos o argumento conciliatório de quem sempre tolerou, por cumplicidade efectiva ou cobardia pura e simples, o truculento Kadhaffi da Macaronésia. Como outros o fazem, por exemplo, em relação ao regime angolano...
Aliás, quando acima refiro a cobardia, talvez antes devesse escrever, no caso de alguns dos governantes da República, "responsabilidade política" e "sentido de Estado". É que quem tiver estado minimamente atento à história de Portugal nos últimos 30 anos, sabe perfeitamente que a única forma, digamos "correcta", de lidar com o problema madeirense, seria com o envio de uma força policial. Acto vertical, sim, mas que poderia ter tido como consequência o desencadear de uma guerra civil.
Ao evitar a solução mais coerente, mas também mais arriscada, todos os governantes do país, incluindo aqueles de partidos cujos militantes são desde há décadas enxovalhados na Pérola, são agora encaixotados pelos Crespos e outros observadores imparciais e impolutos, para já não falar nos hipócritas apaniguados continentais do Coronel, na lista dos cúmplices, quiçá tão, ou mais, (de preferência, mais, é claro) culpados.
É que quem critica o seu despesismo, indigna-se Crespo, esquece que quando ele chegou ao Governo da Madeira, os madeirenses viviam em troglodíticas grutas, viviam escravizados, e tal.... como ainda vivem, depreendo eu, por exclusão de partes, os continentais, embora, conceda-se, com auto-estradas a mais... já que o despesismo continental, embora integrando o da Madeira, é imperdoável ...
Crespo esclarece, para quem tenha dúvidas, a real dimensão dos problemas:
Como é que quem aceitou a alteração da delimitação de uma Zona de Protecção Especial que tanto perturbou momentâneamente (diz ele...) uma série de pacatos flamingos na zona de Alcochete (uma ave e uma região pelas quais Crespo parece nutrir particular afeição), pode atrever-se agora a criticar um pequeno desvio de, sei lá, 1,5 ou 5,8 mil milhões de euros, mais coisa menos coisa, ou coisa do género?
Bah!
Quem tem a culpa disto, meus amigos, é o...
Passemos adiante.
Quem tem a culpa disto é o...
Então não foi lá enterrar uma brutalidade de dinheiro aquando das cheias da Madeira, cavando as profundezas do nosso déficite? Desgraçando o País?
Pois...
Para a maioria parlamentar de hoje, e para a opinião dominante nos jornais, o despesismo da Madeira é tolerável, enquanto exclusivamente insular. Quando os seus valores se incorporam no bolo do déficite total português, trasmutam-se num gigantesco "buraco" do qual o principal, o único responsável, já nem vale a pena nomeá-lo, toda a gente sabe quem é...