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quarta-feira, novembro 28, 2007 

Não se esqueçam das bermudas

Pedro Fevereiro, o mais aplicado candidato a Doutor Strangelove dos transgénicos portugueses, publicou no Agroportal uma "Carta aberta contra a asneira" em que ataca os autores da carta aberta "A propósito dos OGM", dirigida ao Ministro da Agricultura, publicada no Expresso e que eu referi ali em baixo.

No meio de uma amálgama de acusações idiotas e pouco imaginativas sobre "os interesses económicos" que levarão os signatários da carta a manifestarem-se contra os OGM, só por si reveladora, Fevereiro debita as gabarolices habituais sobre os resultados brilhantes das monstruosidades que vende.

Habituado a usar tudo o que sirva para impressionar a rapaziada mais "informada" anuncia ao mundo que o cultivo dos OGM poupou à humanidade um valor acumulado de 175.000 milhões de toneladas de pesticidas nos dez anos que decorreram entre 1996 e 2006 :

Ena pá, diz o incauto, cento e setenta e cinco mil milhões de toneladas de pesticidas é um volume do cacete! Alguém terá ideia do que representa?
Aparentemente a fonte destes valores é o Relatório GM Crops - The first Ten Years, naturalmente pró-OGM.
Lendo-o, é fácil ver como a sua leitura por um empenhado "inimigo da asneira" possuído pela da propaganda, pode operar uma nova versão do milagre da multiplicação.
Não a mera duplicação devida à ingestão excessiva de álcool que certamente quase todos já experimentámos com alegria, ou sequer a mais famosa e difícil multiplicação do pão ou dos peixes, mas, como na feira, por milhões.
Dá para lamentar que seja apenas uma miragem porque se as tais 175 mil milhões de toneladas existissem e de para mais nada servissem, pelo menos haveria algures no planeta um aprazível lago do tipo Alqueva cheio de pesticidas onde o Pedro Fevereiro e os seus discípulos poderiam tomar uns bons banhos.

Cumprimento-o, caro Rui, por este post e pelo anterior.

Permito-me deixar alguns comentários.

O primeiro é ralativo às quantidades de pesticidas supostamente poupados. Concordamos que independentemente do número, se usam quantidades obscenas, certo ? Portanto também somos capazes de concordar que se aparecesse uma solução que viabilizasse os cultivos poupando pesticidas e energia, seria excelente, certo ? Se os OGM não são uma boa solução, uma ideia do género sem os riscos daqueles até seria optima, certo ?
...
Está a ver ?
Sem darmos por isso já estamos a discutir remendos para um modelo de sociedade e esse, que está de facto na origem de todas estas questões, passa impune !
Estabelecemos um paradigma de ordenamento social que assenta em dinâmicas demográficas, de uso do espaço, de gestão de recuros, que raiam o absurdo seja qual for a perspectiva em que as observemos, mas não mudamos de paradigma.
Ou seja: discutimos os beneficios ou maleficios do biodiesel como energia alternativa, e não questionamos o paradigma de mobilidade individual implicito na questão.
Até quando ?

Manuel, obrigado pelo seu comentário com cujo "fundo" concordo parcialmente.
Em primeiro lugar, no entanto, já que volta a referir um aspecto que já me tinha chamado a atenção num dos seus comentários no "rerum natura" deixe-me pedir-lhe um pequeno ajuste de prespectiva. É que não estou a ver muitos críticos dos OGM a defenderem o biodiesel, por várias razões, não sendo a menor a que reconhece que será inevitável a curto prazo a ligação OGM- Biodiesel.
Quanto ao post em si, o seu objectivo era apenas chamar a atenção para a forma irresponsável como estes "cientistas" chutam números para aturdir, é claro que secundariza o facto de as quantidades de pesticidas utilizadas na industria agro alimentar serem obscenas como refere.
Com efeito a forma como essa industria trata em geral os solos reveste-se de brutalidade. Nem na gestão dos resíduos criados existe uma atitude "ecológica". Basta passar pelos campos de certas zonas do País após as campanhas e ver os resíduos das redes provisórias de irrigação que ficam no solo após as campanhas.
A questão de fundo, no entanto, não é essa. A questão de fundo reside no "modelo", no paradigma "absurdo" em que vivemos.
Nessa perspectiva, você tem toda a razão, a minha posição reformista é difícil do ponto de vista "teórico", já que não decorre de uma tentativa de estruturação sistemática e coerente dos pressupostos de uma utopia redentora. As minhas posições são fragmentárias, e por vezes contraditórias. No entanto, se reparar bem, a questão dos OGM, parecendo inócua, ou mais ou menos tão nociva como outras técnicas, tem uma série de implicações cruciais quanto ao destino da vida e quanto ao futuro da democracia que representam uma aceleração do sistema absurdo que refere.

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