sábado, janeiro 31, 2009 

Noves fora

O Economist, uma revista que sempre incentivou as políticas económicas do Bush e se notabilizou pela sofisticação dos argumentos "de esquerda" a favor da intervenção no Iraque, faz agora o balanço desse período dourado.

sábado, janeiro 24, 2009 

Template

Aqui está um típico discurso de "oposição".
Não diz rigorosamente nada para além de constatar uns factos e demonstrar alguma criatividade na adjectivação.
Deve haver algures um template disto para fazer download e assinar.
Até admito que deve haver algumas frases ou palavras opcionais. Substituir socialismo por capitalismo, Sócrates por outro qualquer.
Podia ser assinado por personalidades de um "arco" político compreendido entre Portas e Jerónimo Louçã. Podiam fazer fila.
O arco apenas seria quebrado na sua continuidade pelo intervalo criado pelos afectos ao PS. Uns pela natural carneirice. Outros por preferirem outras opções de edição ou momento político.
O euro deputado pode ser intelectualmente sofisticadissimo mas a falar de política não passa desta banalidade.
Este é o verdadeiro problema estrutural de Portugal, não é tanto peso do Estado, que será também um problema, sim, mas a jusante do problema da "mentalidade".

 

Fúria de viver

Para combater a crise.

 

Ainda o problema da crise


 

Crise lucrativa

Mas então onde está a crise do capitalismo?
Estranho capitalismo que passa a vida em crise mas os capitalistas têm sempre mais lucros.

 

Círculos

Uma pessoa passa a vida a levar na cara com a história do "atraso estrutural" português.
Os fabulosos contos de fadas sobre os progressos na China, na Islândia, na Finlândia, na Irlanda, na Polónia...
Em tempos foi o Japão, uma maravilha de país em desenvolvimento em que os trabalhadores eram umas máquinas de competição que pertenciam às companhias apenas pelo período de uma vida inteira.
Já para não falar dos Estados Unidos e da Inglaterra modelos de desenvolvimento a imitar absolutamente sobretudo depois do Thatcher-reaganismo.
Os apelos à aplicação dos "modelos" ...
A Islândia nunca se percebeu bem a que propósito.
Da Finlândia... a urgência de criar uma Nokia portuguesa ali para Alverca.
Da Irlanda, ou da conveniência de nunca se fazerem auto-estradas...
Dos Estados Unidos e da quase total ausência de protecção social dos trabalhadores.
Da Polónia ou do interesse de tentar ser uma jangada de pedra ultra-reaccionária mas a vogar em direcção aos Estados Unidos bushistas.
De outros países do leste europeu, maravilhas de mão de obra qualificada e dócil, baixos salários, corrupção e taxas de desemprego assustadoras...
Organizaram-se visitas ministeriais para "estudar" como enxertar os modelos cá na terra.
Até os teóricos da "liberdade" para quem as coisas "são como são" e a quem repugna "intervir" não se coibiram de reclamar "reformas estruturais".
Agora que toda essa gente está tão pendurada que até os bem dispostos e opulentos islandeses da Bjork que figuravam, apesar da negritude dos dias, do convívio diário com vulcões, do frio de rachar, no topo das listas da "qualidade de vida", já se envolvem em tumultos, pergunto-me o que é que nós temos andado a perder com o nosso laxismo, a nossa alegre bandalheira, o nosso esbanjamento irresponsável. Sobretudo quando um dos indicadores do "progresso" é o consumo e a crítica ao atraso surge de quem se preocupa com a apetência das pessoas para consumir o... supérfluo.
Baralha-me que confrontados com estas minhas reflexões, os que me garantem ser esta uma crise "diferente" e "irreversível", me expliquem com alguma condescendência a vantagem dos países atrás mencionados em relação a nós: vão recuperar mais depressa...

 

Roleta

Pelas razões indicadas abaixo mais me preocupa o caso Freeport.
Se por via dele o Governo cair, e talvez não seja por acaso que este caso, velho de uns poucos de anos, surge agora cheio de novas e oportunas revelações, quem, da seita de imbecis engravatados que diariamente se propõe descobrir a pólvora, vai pegar nas rédeas?
Arriscamo-nos a entrar num jogo da roleta russa com balas mortíferas de nomes bizarros como Portas, Morais Sarmento, Ferreira Leite, Rebelo de Sousa, Passos Coelho ou pior, o de um demagogo qualquer "amigo do povo" ainda desconhecido.

 

Recreio

Tenho seguido de forma algo superficial o debate político dos últimos dias.
Refiro propositadamente que tenho seguido de "forma superficial".
O debate político ou pseudo político chegou a um impasse.
A crise claramente que ultrapassa a capacidade de controle do Governo, assim como ultrapassa a da Oposição. Assim como ultrapassa a dos sábios que diariamente botam bitaites para os jornais. Na blogosfera também, mas a blogosfera é um lugar um pouco à parte, um lugar onde se pode "desabafar" sem excessivo dano.
Ora custa um pouco, é chato ouvir, aquele pessoal que ainda há poucos meses alertava das necessidades de "reformas estruturais" destinadas a aproximar" a "velha europa" da veloz concorrência dos Estados Unidos e da China (países com sistemas díspares, cujos regimes suscitam reflexões diversas aos níveis ético, político e económico, mas que comungam no fascínio mágico que exercem sobre a parolagem as "taxas de crescimento" dessa medida de coisa nenhuma que realmente interesse que é o PIB) grandes paquetes a navegar de vento em popa no mar infinito das "oportunidades" e do "crescimento", andar agora obcecado porque o nosso modesto governo não "previu" a hecatombe, não "alertou" os portugueses, e nos enganou a todos com um "discurso optimista".
Não existindo neste momento uma oposição política séria exceptuando a contestação dos professores e de mais meia dúzia de gatos pingados, a esmagadora maioria destes no café ou ao volante do táxi, resta a conversa de recreio sobre a "recessão".
Entrámos? Não entrámos? O Primeiro Ministro admite-o ou não?
Grande bronca, afinal temos "recessão". Mas como o prazer não está em descobrir a cárie, o prazer está em escarafunchar os dentes até doer, é preciso que o Governo se humilhe e o admita, caso contrário, nunca uma crise será uma crise satisfatória.
É a conversa dos telejornais: analistas, pivots e comentadores...
Claro está que sobre a crise, sobre a essência da coisa, não há uma palavra séria, uma discussão relevante, ninguém tem nada a dizer, ninguém sabe o que dizer.
E não admira, os gurus que o people andou a ler nos últimos quinze anos falharam, a Sonae do oráculo da gestão made in Portugal, o Engenheiro Belmiro de Azevedo a quem os pacóvios empregados bancários encaixotados em fatiotas cinzentas dos saudosos "Armazéns Maconde" se referiam como "O Belmiro" como quem fosse seu parceiro do snooker, está nas vascas do naufrágio com um titânico e inconcebível rombo de sessenta por cento no casco.
O escrutínio da sociedade civil parece exercer-se sobre as capacidades adivinhatórias do Governo, não sobre a confiança que transmite ou sobre a sua capacidade de liderança para superarmos a crise.

sábado, janeiro 03, 2009 

Links úteis

Aqui fica uma lista, por ordem arbitrária, dos blogs que me linkam. Julgo que estão todos, poucos mas bons...
abrasivo, ingenea, calabeiro, O amigo do povo, O Carmo e a Trindade, Dicionário Ilustrado, Meditação na Pastelaria, Geração Rasca, Jugular, O Peso e a Leveza, A-significado, Mala aviada, O Irredutível Gaulês , Nadir dos Tempos, O Quatro, Bolinas, Cine-australopitecus, Ameal, Olissipo, 5dias, DissidenteX, Babilónia, 25 centímetros de neve, Cidadania Cascais

 

Confuso na cauda

Uns casos recentes, comezinhos, mas que me trazem baralhado sobre o nosso atraso estrutural. A ordem cronológica é arbitrária e refere-se a um período de vigência dos dois ou três últimos governos portugueses.
1
Um amigo inglês cuja sogra portuguesa teve recentemente de ser operada num hospital público português, confidencia-me:
- Realmente, em Portugal, os serviços de saúde funcionam de forma fantástica.
- O Quê??? corto abrutamente, quase indignado, Estás a brincar comigo? Impossível, toda a gente sabe que em Portugal temos dos piores serviços públicos de saúde do planeta! E então vocês, em Inglaterra, meu Deus, aquilo sim é que é o National Health Service a valer.
- Não penses nisso, respondeu-me, neste momento Portugal não tem nada a perder no confronto.
2
Um familiar de um amigo americano teve um problema de saúde em Portugal. Amigos comuns encaminharam-na para um Centro de Saúde onde tudo se resolveu a custo praticamente de zero.
Passados uns tempos alguém da família da senhora enviou uma carta a esses amigos agradecendo a ajuda inestimável prestada e oferecendo-se para pagar as despesas por certo altíssimas devidas pela assistência naquela clínica privada tão moderna e bem equipada.
3
Um amigo grego teve um problema de saúde grave. Foi operado na Grécia por um dos melhores cirurgiões de Atenas e aí medicado. Passou a ter de tomar diariamente uns comprimidos para contrariar alguns efeitos colaterais da operação.
Passados uns meses, em Portugal, submeteu-se por acaso a um exame de rotina num posto ambulante do Serviço Nacional de Saúde.
O médico que o examinou disse-lhe: o senhor tem de ir de urgência para o hospital porque está em risco de vida imediato.
No hospital, depois de vários exames, descobriu-se a causa. O caríssimo medicamento comprado numa farmácia de Atenas que ele tomava desde há meses era uma falsificação que, naturalmente, se efeito fazia não era o pretendido.
Com o cirurgião ateniense incomunicável, o meu amigo comprou a versão portuguesa do medicamento, tal como prescrito pelo médico português. A situação estabilizou.
4
Numa apresentação de acções de combate contra incêndio, uma amiga suíça toma notas afincadamente sobre a estrutura operacional.
- Para quê tomar tantas notas, disse eu desdenhoso, isto não serve para nada, toda a gente sabe que o combate aos incêndios em Portugal é uma palhaçada, olha para as estatísticas de área ardida nos últimos anos. Vamos mas é tomar uma bica.
- Não pode ser, respondeu-me ela, na Suíça disseram-me para prestar muita atenção a estas questões porque os portugueses são considerados dos melhores especialistas no combate a incêndios.

 

Mais reféns

Os funcionários do governo israelita que escrevem nos blogs e nos jornais portugueses tentam fazer passar a mensagem de que a população de Gaza e em geral os palestinianos são uma seita de psicopatas fundamentalistas que, mais conversa de "reféns" menos conversa de reféns saída agora da cartola dos serviços de acção psicológica americanos e israelitas para amenizar a sensação de nojo que na Europa ainda vai persistindo relativamente aos crimes de guerra de Israel, não merecem mais do que aquilo que diariamente aturam.
Há poucos anos atrás conheci superficialmente um rapaz palestiniano que estudava em Portugal. Muçulmano que vivia intensamente a sua religião como um qualquer católico praticante, a sua preocupação maior não era a de condenar israelitas ou matar israelitas ou propagar o Corão.
O traço que mais transparecia da sua personalidade era a angústia constante com a situação da sua família permanentemente afectada pelas consequências da ocupação israelitas.
Nós portugueses, que berramos lágrimas de sangue de cada vez que a gasolina sobe dez cêntimos, a taxa Euribor dispara, temos de pagar uma taxa moderadora num hospital para tratar de um torcicolo ou um ignorante qualquer escreve nos jornais que "divergimos" da Europa, não temos noção do que é viver num quotidiano dominado pela total arbitrariedade e onde são organizações sinistras como o Hamas, por trágico que seja admiti-lo, que fazem figura de gente séria que se preocupa minimamente com as condições de vida das pessoas.
A Ester, a Condi e a restante seita sabem perfeitamente disto, mas para eles é "normal" que assim seja, já que sentem que estão a tratar com entes subhumanos.
Quem duvida que analise as razões pelas quais o Hamas domina em Gaza. Uma das mais importantes é a corrupção galopante em que caiu a Fatah que controla a Autoridade Palestiniana. Esssa corrupção galopante, que quando convém é argumento político, foi esquecida pelos ocidentais ao protegerem o actual presidente palestiniano uma vez que este assumiu o compromisso de se portar bem e ser cooperante com Israel.
Ora se os irredutíveis do Hamas são bombardeados por serem uma ameaça para Israel, vejam-se as grandes conquistas do Presidente Mahmoud Abbas com a sua política de "diálogo", isto é, resignação à derrota? Muros e novos colonatos e a manutenção de um quotidiano miserável. A Autoridade Palestiniana transformou-se numa espécie de corpo de cipaios que assegura paz de espírito a Israel para prosseguir com as suas arbitrariedades e o triste Abbas não sabe sequer para onde se virar neste momento . Um dia critica Israel, outro dia condena o Hamas...
A designação de reféns poderia também ser aplicada aos milhares de israelitas que, apesar de viverem o quotidiano de violência imposto pelo conflito conseguem ter opiniões corajosas e independentes do discurso oficial reproduzido pelas correias de transmissão do tipo Dona Ester & companhia, vide alguns dos testemunhos publicados ontem no Público. Vivem reféns dos racistas, militaristas e fanáticos religiosos que dominam em Israel.

 

Previsões

As previsões são tão más que 2009 só pode ser um bom ano.

sexta-feira, janeiro 02, 2009 

Reféns

Reféns. Os habitantes de Gaza estão reféns do Hamas.
É o argumento da repulsiva Condi que, vá lá saber-se a coincidência, ecoa o título de um artigo de Ester Mucznik publicado há dias no Público. Condi, até à última...
E como estão reféns, os bons israelitas, com as Condis e as Esteres de faxina à produção das necessárias justificações piedosas, sentem-se livres que nem passarinhos para os bombardear indiscriminadamente.
Coitadinhos dos reféns, (bumba!) não há nada a fazer... (bumba!), é para bem deles... (bumba!).
Não se trata de um problema de "proporcionalidade da resposta". Se o problema for o da "proporcionalidade da resposta", que Israel se entretenha a abater todos os militantes do Hamas. O que aliás tem procurado fazer com afinco. Não tem é desculpa para abater as centenas de civis à volta. Afinal, não invoca Israel o direito de proteger a sua população civil dos ataques indiscriminados do Hamas? E o que faz Israel para se proteger? Não é fazer os mesmos ataques em larga medida indiscriminados com meios incomensuravelmente mais eficazes?
Como é que uma Ester, como é que uma Condi, podem avançar com argumentos tão reles face às imagens das crianças despedaçadas? O que pensam elas? Coitadinhos dos reféns?
Quanto ao Obama, coitadinho, já deu o que tinha a dar nesta história... nem um pio sobre o assunto atravessou o éter desde o longínquo Havai onde se encontra a banhos.