No fio da navalha
Uma reflexão que tomou como ponto de partida um contexto diferente, mas que julgo pertinente no momento actual em Portugal:
"... - sabíamos, pois, antecipadamente, que a Europa é também o patamar onde podemos esperar o pior no preciso momento em que julgamos poder encontrar nela o melhor. Tratando-se, na Europa, de fronteiras, dizemo-nos que tudo poderá acontecer, como se a supressão de barreiras de um lado tivesse de ser paga pela construção de muros do outro. Com o seu passado cheio de espírito, mas completamente assombrado por fantasmas, com a sua histórica indefinição geográfica e com a incomparável qualidade de vida deste nosso «pequeno cabo», desta amena região que, manta de retalhos de «pequenas diferenças» segrega por vezes tantos azedumes, a Europa não poderia tornar-se de novo uma caixa de Pandora?
Coloco esta questão sem querer dramatizá-la precipitadamente, porque ela interpela doravante a nossa responsabilidade comum enquanto europeus, independentemente da nossa nacionalidade - no momento em que sentimos muito bem que essa possibilidade do pior se tornou o único horizonte possível de um melhor. A Europa é uma oportunidade e, logo em primeiro lugar, a de evitar o pior em que ela também pode transformar-se nestes tempos de precipitações históricas, extremas incertezas e versatilidade generalizada."