Chego a casa com ideia de postar umas coisas que germinaram durante o percurso fermentadas pelo rugido do Metro ou pela visão dos automóveis despudoradamente estacionados em cima do passeio enquanto os donos estão na ginática e dá-me o sono. A net anda a dar-me sono, é o que é.
Faz-me lembrar de há uns anos atrás quando tinha de fazer semanalmente, nas madrugadas das sextas feiras, a viagem de carro entre Lisboa e Olhão .
Ainda não havia auto estrada para lá da Marateca, nem sequer IP1.
Talvez fosse da estrada, talvez fosse do carro, o que é certo é que a partir de certa altura começei a bocejar logo que atravessava a ponte.
A única forma de me manter acordado era arranjar uma distracção estúpida como provocar outro condutor, geralmente montado em equipamento de muito maior cilindrada, fumar um charuto mega, treinar vagas técnicas vocais inspiradas nos cantos dos xamans Tuva.
Invariavelmente acabava por encostar para umas roncadelas numa bomba de gasolina da Shell que havia ali a seguir ao Canal Caveira. Coisas da modernidade (e daquelas coisas todas que conjugadas corporizam grande parte das críticas ao nosso "estilo de vida" e dos maus investimentos do País, etc..), nunca mais lá passei desde que se completou a Auto-estrada. Agora parece que o Canal Caveira vai estar de novo no centro do País, já que a Câmara de Grândola, numa louvável iniciativa se prepara para declarar o sítio como "Capital do Cozido".
Houve noites em que nem sei como cheguei a esse oásis combustível sem adormecer ao volante.
Depois de encostar meia hora, lá seguia de novo estrada abaixo aos esses, só voltava a despertar quando a condução suicida proporcionada pelas curvas da Serra do Algarve e algum eventual picanço com outro viajante da noite me injectavam a adrenalina suficiente para aguentar até Olhão.
Ora é este o meu problema actual.
Sento-me ao computador e começam os bocejos... os posts ficam a meio, a minha caixa de rascunhos parece um daqueles cemitérios de barcos, textos desconjuntados, deixados a meio, meio devorados pelos peixes, por estranhas criaturas marinhas ou pelo sono.
Ainda a única coisa com interesse, que devo mais ao meu espírito do contra do que a outra qualquer disposição especial, é entrar em polémicas em caixas de comentários. As caixas de comentários dos blogs são potencialmente a coisa mais interessante deste meio. Mas hoje em dia é raro o blogger que reage a uma provocação. Há gente, acredite-se ou não mas é verdade, que sinceramente acha o comentador um sujeito "inferior", uma espécie de parasita que habita lá para baixo, para a caixa dos comentários, e frequentemente não se digna responder-lhe.
Por isso não é de estranhar a propensão para a hierarquização que parece enformar o grande oceano da imbecilidade humana. Por isso tem valor um blogger como o
Dissidente-X que é daqueles gajos que só acaba uma discussão se for atingido por uma granada.
Fora estes casos, e pese embora a qualidade dos blogs que normalmente sigo em silêncio e de muitos desconhecidos que ainda não encontrei, ando com um certo tédio.
Há, é certo, os temas políticos. No mercado interno, porém, podemos dizer que o Governo é fraco, mas o que dizer dos
fait divers que marcam a oposição, partidária ou não? Alguém pode levar a sério, comentar, cenas como a do sujeito que funda um movimento para
exigir a demissão do Primeiro Ministro e que entrevistado pela televisão justifica a história com o facto de abrir o jornal ou ligar a televisão e ver notícias contra o Primeiro-Ministro?
Alguém pode levar a sério quem diga que hoje em Portugal se vive numa "democracia ditatorial"? (Só o nome atesta a inteligência de quem profere esta afirmação).
Na política externa, há muita coisa, certamente, mas o que fazer quando o Obama vai fazendo aquilo que se espera dele sem demasiadas ondas nem grandes expectativas?
Nem apetece ser anti-americano primário... só os fachos têm razão para se sobressaltar, sobre se
quem fala por eles é o aborto do
Rush Limbaugh ou um bushista "sério" como o
David Frum... mas com os entusiasmos senis dos fachos posso eu bem.
Por falar de entusiasmos senis, há as declarações do Papa sobre o preservativo, certo, mas o problema é que tecnicamente talvez o Papa tenha alguma razão para alertar para o facto de o preservativo não ser, por si só, automaticamente um remédio para a SIDA como parece depreender-se de alguns discursos mais inflamados, e por outro lado, quem tem mais culpa?
O Papa que está na dele, ou quem o leva a sério?
Tédio.