terça-feira, agosto 22, 2006 

Por uma questão de equilíbrio

Enquanto andei por fora de Lisboa, sem acesso à net, fui lendo por aí como a nova guerra do Líbano e o atentado de Londres têm dado volta à cabeça de tanta gente.
Constança Cunha e Sá escreveu sobre o assunto, no Público, um artigo aflitivo de irrelevância ( e por isso mesmo elogiadissimo por alguns) .
O tema, é ainda, pasme-se, passados cinco anos sobre o 11 de Setembro com as guerras do Iraque e do Afeganistão em curso e o conteúdo do tal roadmap para a paz no Médio Oriente revelado em toda a sua crueza, sobre "a esquerda" e "o anti-americanismo". Dá para acreditar?
É que se ainda fosse a Helena Matos...
Como cassette parece que já nem na Festa do Avante se encontra tão demodé.
Pulido Valente, sem espanto, contribuiu honestamente com a sua quota parte para o festival de bacorada de Verão com um artigueco anódino em que se aproxima das teses da "guerra das civilizações". Já vem atrasado, mas há sempre tempo de aderir ao comboio neo conservador...
O mais perigoso porém, foram os artigos da senhora Ester Mucznik, que ainda por cima parece que desempenha um cargo qualquer na comunidade judaica portuguesa.
Sem ela perceber, a duplicidade patética dos seus textos são um gravissimo caso de propaganda anti-semita que é urgente combater.
Com esse fim, proponho a leitura deste texto do israelita Yitzhak Laor publicado na London Review of Books, para que se tenha consciência de que há um vasto sector da opinião pública israelita que não é constituída por fanáticos irracionais do calibre da senhora Mucznik, do governo de Israel, grande parte da opinião pública desse país, e alguns expoentes da blogosfera portuguesa.
É utópico, sim, mas propõe o que me parece ser a única saída para a crise que não seja a destruição final do estado de Israel numa catástrofe que nos arrastará a nós também.

sexta-feira, agosto 11, 2006 

Cuidado com as palavras

Um Bush patético vem agora falar do "fascismo" islâmico, com claros propósitos propagandísticos.
O "anti-fascismo", tão pelas ruas da amargura, tão "out", afinal parece que sempre vai vendendo nas sargetas ideológicas mais inesperadas.
Ou queres ver que o Bush pretende rivalizar com a generosidade atribuitiva dos "comunas" tugas?
Espero que os Pulidos, os Pachecos e os Ramos estejam atentos, que se ponham nos biquinhos dos pés e telefonem para Washington alertando para a potencial derrapagem na sobre-utilização do termo "fascista" que deve estar reservado para contextos rigorosamente controlados pela hermenêutica.

 

Época do cogumelo

Este Verão parece estar a ser animador para a industria nuclear.
Primeiro foi o acidente na central nuclear de Forsmark no dia 25 de Julho. Durante cerca de 24 minutos, ninguém soube o que se estava a passar no núcleo do reactor. Rebenta? Não rebenta?
Felizmente não rebentou, mas mesmo assim, na super-eficiente Suécia, aconteceu, quem diria, o que é por alguns classificado como o pior acidente nuclear desde Chernobyl.
Em Espanha, fruto de mudanças climáticas que alguns teimam em negar, a central nuclear de Garoña teve de ser temporariamente desligada da rede devido ao aumento de temperatura das águas do rio Ebro.

 

Na calha

Sem ter conseguido matar ninguém até ao momento, a "conspiração de Heathrow", é uma vitória militar do fundamentalismo islâmico, pelo isolacionismo, contra a globalização, pelo medo, contra a liberdade.
Cinco anos depois do início da "Guerra ao Terror", o "Ocidente", de "vitória em vitória", patinha na lama do Iraque, morde o pó no Afeganistão e enterra-se numa cumplicidade criminosa com os acontecimentos no Líbano.
Pode dizer-se que não há receitas para combater o terrorismo, mas é inegável que a estratégia de confronto cego que tem vindo a ser seguida não está a dar, nem vai dar resultados.
Ainda assim, ter-se impedido o massacre de centenas de pessoas foi a vitória possível no campo onde ainda é possível obtê-las: o da eficiência dos sistemas de segurança.
Errando no seu limbo psicopático, também Bush parece ver nisto uma vitória. Pelo menos uma vitória das suas teses da guerra. Resta saber quem vai bombardear já de seguida, com que solicitudes extra vai prendar a voz do dono israelita.
De forma calculada, os fundamentalistas dos dois lados da barricada empurram-no agora para uma confrontação directa com o Irão e a Síria, no delírio de que é possível alcançar hoje algo que não conseguiu no Iraque quando se pensava que a invasão seria pouco mais do que um "passeio".

terça-feira, agosto 08, 2006 

Passeio de Verão pela serra















Foto de Hugo Costa

 

Shah of Shahs

"Revolution must be distinguished from revolt, coup d'état, palace takeover. A coup or a palace takeover may be planned, but a revolution- never. Its outbreak, the hour of that outbreak, takes everyone, even those who have been striving for it, unawares. They stand amazed at the spontaneity that appears suddenly and destroys everything in its path. It demolishes so ruthlessly that in the end it may annihilate the ideals that called it into being."
Num livro curto, Shah of Shahs, Ryszard Kapuscinsky descreve de forma brilhante as circunstâncias e o clima que levaram à queda do Xá, e dá em 152 páginas as pistas mais interessantes para se entender a actual situação no Irão.

 

A voz do dono

Num curioso exercício de objectividade jornalística, José Manuel Fernandes tenta repor no seu editorial da passada sexta-feira no Público, a verdade de alguns factos que segundo ele têm sido distorcidos pelos propagandistas pró-Hezbollah ( em geral, quem não apoia a presente aventura militar israelita no Líbano).
Diz numa dada passagem:
"Ontem, por exemplo, confirmou-se que em Qana morreram menos de metade dos que se anunciara terem sido vítimas de outro "massacre" ( atenção às aspas, que são dele, e nos revelam desde logo as suas dúvidas quanto à classificação a atribuir a assassinatos colectivos perpretados pelos israelitas), só que a notícia não teve o mesmo relevo porque recolocar o drama numa dimensão menos trágica não tem idêntica capacidade de suscitar emoções."
Com efeito, a "propaganda" afirmou inicialmente que as vítimas eram 56 pessoas, entre as quais 34 crianças para depois rever este número "em baixa" para 28 vítimas das quais 16 crianças.
Este tipo de contabilidade tem, é claro, tanto interesse para o essencial que está em jogo, que faz lembrar o título de um célebre panfleto de um escritor anti-semita francês: Bagatelles pour un massacre.
O interessante, é que ninguém ouviu JMF ou outro qualquer dos habituais propagandistas sionistas indignar-se com nenhuma das versões do caso:
"Oh Pah! 56 pessoas sendo 34 das quais crianças?? Ó israelitas, pá isto foi demais, tenham lá cuidado, caramba!"
Se isto se tivesse passado, ficariamos pelo menos a ter uma noção da bitola de violência capaz de acordar as suas consciências:
"Caramba, sejamos razoáveis, 28 vítimas das quais 16 crianças, ainda vá que não vá..., 56-34 é que já não..."
Infelizmente JMF não se pronunciou quanto aos primeiros números (os mais altos), quem se fez ouvir foi a habitual e atroz lenga-lenga do "temos de ser fortes", "tem de ser", "Israel não pode ceder", "a culpa é dos terroristas", ou mesmo "se foram atingidos é porque eram terroristas".
Porém, quando os números do massacre foram revistos em baixa, lá surge o JMF, pregar uma "objectividade" que dadas as circunstâncias se poderia também designar como "abjectividade".
Uma abjectividade que não é mais do que propaganda barata ( é perturbante a forma como ele no mesmo editorial se delicia com o facto de os israelitas "terem o cuidado" de telefonarem às pessoas para abandonarem as suas casas, uma vez que estas irão ser bombardeadas por... albergarem terroristas - estará este gajo bom dos cornos? Achará ele que isto é "normal" ou sequer "verosímil"? Assistiu ele a algum destes telefonemas? Viveu-o ele do ponto de vista do "informado"? ) e onde não se faz mais do que hipocritamente tentar aplicar a golpada da "virgem ultrajada":
" Malvados, tentaram enganar-me. Eu indignado, quase a condenar Israel por abater 56-34, quando na realidade se tratou de uns meros 28-16 ! Isto não há limites para a capacidade dos terroristas para mentir!".
Mas já se percebeu que tanto se lhe dá como se lhe deu, a ele como aos restantes propagandistas pró-sionistas, quer os israelitas abatam 20 como 500, uma ou cem ou mil crianças, o que é preciso é "não dar armas ao inimigo".

 

O regresso do Messias

Num prodígio de prestidigitação que tem tanto de mágico como de místico, o exército israelita e os seus propagandistas transformam pacatos civis e crianças, autocarros e ambulâncias em terroristas ou transportes de terroristas.
Para tal, basta que os felizes contemplados sejam atingidos pelas bombas inteligentes dos israelitas.

segunda-feira, agosto 07, 2006 

Abrir os olhos

"Nuclear? Sim, obrigado"?
Põe aqui os olhos...