Politicamente, a única hipótese de fazer sair Lisboa da crise que atravessa seria uma lista única de esquerda que englobasse o PS, o PC e o BE, sob a direcção de uma personalidade independente abrangente e motivadora.
Essa hipótese apenas seria viável se a personalidade em questão tivesse o apoio inequívoco dos partidos e algo que faltou a Carmona, a sageza política necessária para entender o significado de "independente" no contexto de uma aliança que depende do eleitorado indiferenciado mas TAMBÉM dos partidos que a suportam com as suas máquinas partidárias englobando meios anímicos materiais e humanos fundamentais .
À esquerda, apenas vejo neste momento e nestas eleições
Helena Roseta com essa capacidade e com perfil galvanizador capaz de fazer o pleno da esquerda e conquistar votos de eleitores não alinhados politicamente.
Os primeiros sinais não são positivos.
O PS apresenta mais uma hipótese absurda, uma personalidade politica de peso mas que não tem qualquer curriculo prévio nas autarquias.
É a partidarite mais acabada que poderá até ser sentida pelo eleitorado como provocação.
O PS já deveria ter percebido que o eleitorado não vota de cruz pelo partido independentemente do prato que lhe queiram servir.
Melhor, neste momento politico , deveria perceber que o eleitorado não tolera este tipo de jogos em que o partido se tem recreado desde a maioria absoluta apenas para recolher derrotas desnecessárias, como por exemplo nas anteriores eleições autárquicas em Lisboa.
O PC apresenta um candidato competente mas que não tem qualquer hipótese. Pode ser bom para o PC apresentar um candidato puro e duro, mas o eleitorado apenas voltará a acreditar em candidatos do PC puro e duro quando as galinhas tiverem dentes, a tendência natural é o esvaziamento do partido, o caminho francês, apenas adiado por epifenómenos como a "simpatia" do seu actual secretário geral, que se tornou queque gabar da Direita à Esquerda e que apenas reflecte a sua crescente irrelevância.
A máxima de que o PC é bom a gerir autarquias funciona em Juntas de freguesia, aldeolas e uma ou outra cidade da periferia ou da província mas não funciona de todo na maior autarquia do País. Não porque o candidato não seja capaz, mas porque POLITICAMENTE é inaceitável para os eleitores.
O BE apresenta um candidato que não tem nem nunca terá qualquer hipóteses de vencer sobretudo depois da recente queimadela (embora parcialmente injusta) que representou o claro sucesso da abertura do túnel do Marquês junto da chamada "classe média", a população suburbana que se desloca de carro diariamente para Lisboa e que tem um peso significativo na formação da opinião pública.
É bom que a esquerda perceba que a persistir a pulverização que se esboça, independentemente de se poder prever igual fenómeno à direita, terá tempo e espaço para propagandear altos princípios, mas o que realmente importa, a gestão da cidade, pode ir parar às mãos de qualquer um, as eleições tornar-se-ão num totoloto que até o candidato do PSD ou uma avantesma do tipo Ferreira Leite, Carmona, ou Nogueira Pinto pode ganhar e depois é só fazer as alianças "naturais" independentemente das "diferenças" e rupturas pessoais.
É claro que o principal responsável por uma solução unitária aqui será o PS, cabendo apenas aos restantes partidos pressionarem no sentido da unidade. Eles e Lisboa ganhariam com isso.
Caso os diferentes partidos de esquerda persistam em agarrar-se cada um aos seus candidatos, cada um pelo seu lado a remoer protestos de "unidade", penso que Helena Roseta deverá desde logo abandonar a corrida e deixar os cães a morder no cadáver.
Uma vitória nessas condições, ainda que teoricamente possivel, seria terrível pois significaria apenas o prolongar do caos - olhem para o livro aberto que é caso Carmona - e para queimar sem qualquer beneficio de ninguém as suas possibilidades de futura candidata presidencial.