Aperta o preço da gasolina e crescem como fungos os adeptos do grande cogumelo.
É ponto assente que em teoria o pessoal é todo "verde", mas como aguentar o aperto?
Nada melhor do que agarrar-se à primeira miragem e convertê-la num milagre. Se nuclear não vai ao verde porque não vai o verde ao nuclear?
Pondo a questão de outra forma, aperta o calor e o pessoal quer que chova, mesmo que seja esterco.
É, assim, tempo de mais um round do famigerado "debate" sobre o nuclear e as últimas semanas trouxeram-nos uma série de movimentações e tomadas de posição públicas nesse sentido incluindo as do
Governador do Banco de Portugal .
Os argumentos dos defensores do nuclear no programa foram surpreendentemente frágeis:
Mira Amaral referiu generalidades:
que o mundo de hoje não é o mesmo de há vinte anos, grande novidade, e que provavelmente as contas a fazer hoje, seriam diferentes. Inexplicavelmente, não as fez, limitou-se a apresentar um número do "insuspeito", segundo ele,
Financial Times... o que tranquiliza quanto ao alto gabarito das preferências jornalisticas do ex-Ministro mas é revelador da seriedade com que se pretende debater uma questão tão séria para Portugal.
O Bastonário da Ordem dos Engenheiros, esse, pelo seu lado, está preocupado em manter as cabeças dos engenheiros portugueses ocupados em projectos desafiantes, e chamou à colação o caso da experiência portuguesa em barragens que arrancou do zero em 1950, se tornou relevante em termos internacionais a partir do final dessa década e é uma escola que está hoje em vias de se perder porque Portugal deixou de construir barragens, pelo menos no nosso território.
Independentemente de se lembrar que a escola portuguesa de barragens foi criada a partir do zero quando houve necessidade de construir barragens e não cinco, dez ou quinze anos antes e que não foi isso que impediu que se tornasse notável, convenhamos que a ideia de apadrinhar o nuclear para que os engenheiros portugueses se mantenham informados sobre o tema é algo peregrina.
No fim ficou-se sem perceber o que realmente pretendem. Acossados pelas avassaladoras evidências de insegurança e de falta de viabilidade económica que os oponentes do nuclear apresentaram, em vez de as negarem, defenderam-se com a
4.ª geração de reactores que estará a ser estudada nos Estados Unidos e na África do Sul para implementação sabe-se lá quando. Pois se essa 4.ª geração, alegadamente mais segura e mais sustentável (como se sabe no nuclear a segurança é uma das componentes que mais afecta a sustentabilidade económica da aplicação dessa tecnologia) ainda está a ser estudada, qual é o objecto do debate?
Se o "concreto" é o descalabro que se sabe com os acidentes a sucederem-se por todo o lado, que espécie de "debate" se pretende "relançar", qual o enquadramento possível da inclusão do tema na agenda política do actual Governo?
Ok, deixem vir o futuro, deixem vir a tal quarta geração e depois logo se verá.
Mas neste momento há algo mais objectivo do que concluir de forma desapaixonada "Nuclear não, obrigado"?
É que podemos comer muitos cogumelos mas bsta um cogumelo venenoso para nos dar cabo do canastro.