Tal qual o tempo quente, a
silly season teima em prolongar-se.
Frutos exóticos como o editorial de hoje de José Manuel Fernandes (1), caem de podres. A baralhação total.
Fernandes merece elogio por querer fazer honestamente o seu trabalho que é bater no Sócrates enquanto engraxa metodicamente o Cavaco, mas tendo lá a trabalhar uma plêiade de colaboradores de luxo mais competentes, porque se não se concentra nas ingénuas redacções sobre as suas leituras de interessantes livrecos de propaganda conservadora?
O Primeiro Ministro aprestar-se a convocar um Referendo para a ratificação do Tratado de Lisboa sem dar cavaco ao carismático jornalista! Reconheça-se a desfaçatez, valha Deus...
Mas tem-se batido tanto no Governo por causa da previsível (até hoje) intenção de ratificar sem Referendo, que se suporia que os críticos rejubilariam por esta manifestação de apreço pela opinião do pagode.
Mas ao Fernandes ninguém engana, especialmente um primeiro ministro que lhe não passa cartuxo. O hipotético reconhecimento de uma reinvindicação supostamente popular não interessa, o que interessa é a personalidade de quem reconhece.
Faz lembrar um antigo panfleto:
"quando um oportunista propõe uma acção correcta, não devemos aceitar o que o oportunista propõe, como positivo, temos de analisar a proposta à luz dos princípios e da estratégia do oportunista e desmascará-lo".
José Manuel Fernandes ainda tem, felizmente, estes princípios bem presentes, sinal de boa memória e saúde.
Quase no fim do delírio, um último fôlego transporta o autor para um patamar superior do ridículo.
Depois de tanta retórica sobre a possibilidade de ser convocado o Referendo, com base em "informações que o Público recolheu ontem, em Bruxelas...", o jornalista desmarca-se nos últimos parágrafos, protege a retaguarda, não vá o diabo tecê-las e as fontes estarem enganadas. E sai isto:
"Mas podíamos não estar a discutir nada se, com clareza e frontalidade, José Sócrates tivesse aberto o jogo quando devia, tal como fizeram quase todos os líderes europeus. Não fez, e assim especulamos sobre o que terá decidido. E até pode ser que nos enganemos, que Sócrates não anuncie o referendo, se bem que há muito o devesse ter dito...."
Quer dizer: ele NÃO SABE o que, e se, decidiu ou não o Sócrates, mas faz uma crónica baseada numa hipótese de decisão ( a hipótese errada, ao que tudo indica...). Mas, pelo sim pelo não, avisa desde já que até pode estar enganado...
Acabo por quase lhe dar razão: podemos, de facto, não estar a discutir nada...melhor, não estamos a discutir nada, é rigorosamente só fumaça.
(1) Parece que é problema pessoal meu com o josé manuel fernandes esta insistência recente em referi-lo nos meus posts. Nada disso, o que acontece é que ando diariamente cerca de 40 minutos a pé até ao trabalho e o Público é o meu entretém.
Há muita coisa interessante no jornal, por exemplo, a brilhante carta do leitor José António Pinto, um texto que orgulharia qualquer jornalista com opinião e minimamente decente, publicada logo abaixo do editorial do JMF. Mas com o barulho do trânsito é sabido como acabamos por dar atenção às coisas mais estúpidas. É a natureza humana.