quarta-feira, abril 30, 2008 

Surge

o "surge" foi a fuga para a frente inevitável para a seita do Bush.
O corolário das vitórias parciais festivamente assinaladas com regularidade diária e dos objectivos parciais cumpridos com a precisão de um cronómetro ao longo de vários anos de presença no Iraque.
É que se tornou impossível uma encenação de vitória mais retumbante do que pôr Bush a fingir que ia comer um peru estragado a bordo de um porta-aviões estacionado no Golfo Pérsico...
Essa impossibilidade persistirá pelo menos enquanto não for assegurado o total controlo dos media ou enquanto não for desencadeada uma devastadora operação de bombardeamentos maciços com carácter de genocídio em total contradição com os apregoados fins.
Uma retirada, por outro lado, seria impensável e um absurdo.
Depois do fracasso de gestores civis como Rumsfeld, obcecados pelo schock and awe e iludidos quanto ao poder da superioridade tecnológica sem outros pressupostos, a guerra teve de passar a ser conduzida de forma mais responsável pelos militares especializados nesse tipo específico de gestão de conflitos.
O general David Petraeus, responsável pelas novas orientações estratégicas, foi promovido a grande doutrinário por adaptar à intervenção americana no Iraque novidades já conhecidas há quarenta anos pelos comandos militares portugueses que fizeram a Guerra Colonial.
É uma revisitação, com mais meios à disposição, dos princípios que Spínola tentou pôr em prática na Guiné.
No Iraque isto passa simultaneamente por maior presença militar, pelo suborno e armamento de chefes de clã que se opõem à al-Qaeda, por uma maior sensibilidade aos problemas das populações nas zonas mais ou menos controladas e pela brutalidade mais indiscriminada contra as zonas onde se suspeita que se acoitem os rebeldes, longe da vista da imprensa acantonada na zona verde.
A ferro e fogo, na boa tradição torcionária dos franceses na Argélia, dos israelitas na Palestina ou dos russos na Tchetchénia.
O problema das soluções militares é que elas, por mais sensíveis que sejam aos múltiplos aspectos de que se reveste a situação no terreno, são incapazes de inverter a realidade. Ou seja, se é um absurdo deixar os políticos gerir a guerra, é também uma ilusão julgar que ela se resolve exclusivamente pelos militares e sem a coordenação do poder político.
Foi assim na Guerra Colonial, será assim no Iraque.
Tal como a Guerra Colonial acabou da melhor forma que poderia ter acabado, pesem os ressentimentos justos de muitos refugiados das ex-colónias e as histerias tardias dos reaças da blogosfera, o surge, como não poderia deixar de ser, vê-se confrontado com o atascanço.
É assim que na sequência dos excelentes progressos que foram sendo anunciados, Abril foi o mês mais mortífero para os soldados americanos desde há sete meses.
Como MacCain é um Bush de rosto humano, o pide bom da história, e Clinton e Obama são também reféns do lobby pró-israelita, torna-se indiferente para o resultado da aventura iraquiana o resultado das próximas eleições americanas.
Qualquer que seja o vencedor, será em breve confrontado com a necessidade de um surge ao quadrado.
Algum dia há-de dar resultado?

 

A "prova"

Só como (singelo) tributoà liberdade de informação, junto um link para a famosa carta de Rosa Coutinho.
É bom dar uma olhadela para se perceber onde tem de se estar com a cabeça para lhe atribuir alguma credibilidade.
Expressões como "plutocracia", revelações bombásticas que envolvem Praga, Moscovo, o PC e o PCUS, conselhos do mais barbaresco assim enviados por cartinha em papel timbrado a transmitir uma determinação táctica.
Um pouco pela blogosfera, posts e comentários, análises e indignações alucinadas mostram como este caso serviu de válvula de escape para frustrações, pretexto para insultos ao 25A e sobretudo ao Rosa Coutinho.
A carta, de resto, é um mero catalisador. A evidência de que se trata de um embuste não fez quase ninguém mudar de opinião. O próprio António Barreto limita-se a pedir umas desculpas lacónicas no final da sua última crónica como se se tivesse tratado de uma gralha.
E volta-se a Ferreira Fernandes. O caso, se fosse verídico seria de uma ignomínia sem nome que mereceria debate nacional, mas se um cronista tido como responsável comete um erro infantil sobre uma questão gravíssima e se desculpa porque o "criminoso" o desmente na Visão e é como se não fosse nada, estamos à espera que o "povo português" discuta o quê? É o "povo" que está doente, ou as "elites"?

 

A plausibilidade que se come

Ferreira Fernandes interroga-se sobre como é possível que tenha passado sem um sobressalto a publicação no Público, citado numa crónica do António Barreto, o sisudo cronista d'o rigor e d'o trabalho, como se fosse a descoberta da pólvora, do seguinte excerto de uma falsa carta de Rosa Coutinho:
Após a última reunião secreta que tivemos com os camaradas do PCP, resolvemos aconselhar-vos a dar execução imediata à segunda fase do plano. Não dizia Fanon que o complexo de inferioridade só se vence matando o colonizador? Camarada Agostinho Neto, dá, por isso, instruções secretas aos militantes do MPLA para aterrorizarem por todos os meios os brancos, matando, pilhando e incendiando, a fim de provocar a sua debandada de Angola. Sede cruéis sobretudo com as crianças, as mulheres e os velhos para desanimar os mais corajosos. Tão arreigados estão à terra esses cães exploradores brancos que só o terror os fará fugir. A FNLA e a UNITA deixarão assim de contar com o apoio dos brancos, de seus capitais e da sua experiência militar. Desenraízem-nos de tal maneira que com a queda dos brancos se arruíne toda a estrutura capitalista e se possa instaurar a nova sociedade socialista ou pelo menos se dificulte a reconstrução daquela
Eis algumas razões:
1- O relativo desenvolvimento recente do País que deslocou o interesse das pessoas para a fruição imediata dos bens de consumo e a afastarem-se da política e da religião.
2- Ninguém ignora hoje a natureza de Agostinho Neto, do MPLA, dos restantes movimentos e do regime que se implantou com o apoio entusiástico da esquerda portuguesa (e incluo-me nesse número). Nos últimos anos publicaram-se discretamente em Portugal diversos livros sobre Angola e o período pós independência que deixam estarrecido qualquer leitor, mas qualquer pacóvio que tenha a mínima noção de procedimentos ( a carta, que refere uma reunião secreta com o PC, é escrita em papel timbrado...) e de estilos de fraseologia política da época percebe que o texto cheira a provocação por todos os poros e não é sequer assunto com que valha a pena perder tempo. Quando muito poderia embaraçar o António Barreto por enfiar este barrete por preconceito ideológico e ódio pessoal. Barrete que provavelmente se estenderá a grande parte do conteúdo do livro "de memórias" onde foi reproduzida a carta.
3- O ódio da extrema direita ao Rosa Coutinho é, esse sim, imorredouro. O problema é que ninguém passa cartuxo à extrema direita.
Felizmente que Barreto sobreviverá a esta crise.
A torpe urdidura dos comunistas fabricando uma carta idiota que lhe apresentaram como isco para descredibilizá-lo será desmontada a seu tempo.

terça-feira, abril 29, 2008 

Sair daqui

Quero lá saber dos choques petrolíferos.
Já estou à tanto tempo nesta cidade que estou a passar-me, farto de sedentarismo, quero sair daqui para fora.

 

Megalomania

A legitimidade pode ser posta em causa de muitas maneiras e por muitas razões, algumas das quais inteiramente certas. Mas parece evidente que o problema de Alcântara só poderá ser resolvido com uma obra megalómana e de regime. Caso contrário vamos continuar a assistir ao apodrecimento da situação: intervenções privadas viradas exclusivamente para si próprias e naturalmente procurando rentabilizar ao máximo as suas parcelas, deixando o osso, o essencial para resolver, o mesmo agravando-o.

 

A cidade falhada

Até que ponto será saudável a permanência dos modelos da cidade pombalina ou mesmo das extensões de Lisboa do final do séc. XIX princípios do séc. XX como referência de uma Lisboa "ideal"?
Não haverá oportunidade para se construir uma cidade contemporânea, sofisticada e cosmopolita fruto do respirar da vida económica do século XXI, alheia a saudosismos e independente do voyeurismo turístico?
Infelizmente, os indícios que existem são pouco animadores. A renovação da cidade que poderia veicular essa hipotética visão alternativa reduz-se aos grandes centros comerciais, à ocupação dos antigos quarteirões por condomínios privados ou a intervenções esparsas que se poderiam acusar de produto do narcisismo mórbido de alguns arquitectos não fora a sua invariavelmente crassa fealdade.
Dessas intervenções recentes, pode talvez exceptuar-se o Picoas Plazza, e muito pouco mais. Outro empreendimento com potencialidades no cimo da rua D. João V antes do cruzamento com a Silva Carvalho, sóbrio apesar das suas linhas modernas e volumetria sensata que não agride as ruas com que se confronta, perde por demasiado periférico e por ter falhado o espaço comercial (mais um...) em torno do qual se desenvolve.
Em nenhum local da cidade se observa a ausência total de ideias dos arquitectos, promotores e decisores públicos quanto ao que poderá ser a expansão da cidade como na famigerada avenida Malhoa.
Ali não podem os arquitectos queixar-se de "limitações à sua liberdade criativa", os promotores de "insensibilidade" camarária quanto aos indices de ocupação.
Foram deixados à vontade. E o resultado é uma acumulação de experiências cada uma delas a mais espalhafatosa cujo resultado de conjunto é um pastel de pastiches pretensiosos onde não sabe bem passear, para não dizer, não se pode passear.
Seguindo um zonamento que não sei se foi imposto por algum plano ou resulta da natural acção das "forças do mercado", as habitações encontram-se concentradas nas "torres gémeas", hino à especulação imobiliária montado no centro comercial da ordem, localizadas no topo da avenida e dela separadas por via rápida, cercadas por terrenos abandonados onde o lixo campeia, com vista para a catastrófica visão do final da rua de Campolide e de Sete Rios, tendo à mistura a pacóvia exibição de high tech da Brandoa tristemente patente no desenho da "pele" da estação de comboios.
Uma avenida inteiramente ocupada por edifícios de escritórios, bancos, serviços e hotéis, durante o dia uma colmeia que se agita nas horas de chegada e partida e durante a hora do almoço dos funcionários, um deserto sinistro à noite. Um local neurótico onde apenas convém passar de carro e depressa.
Nem a Câmara nem os promotores privados se interessam minimamente pela qualidade do espaço público dessa avenida. Desleixado, não medra uma árvore que dê notícia da presença de humanos no local.
Alguns teóricos parecem por vezes fascinados por estes espaços desarticulados e recorrem a lugares comuns como "caos criativo" e "potencialidades emergentes" para os caracterizar e piscar o olho a potenciais clientes ambiciosos de aproveitar as "potencialidades".
Passar pela Avenida Malhoa dá uma imagem da vacuidade que se esconde por detrás dessas fórmulas.

 

Doce parasita


Não é assim que deveriam ser todos os parasitas?
Deixar-nos vogar...

 

Lutinha de classes

Uma passagem da crónica de Henrique Raposo no Expresso desta semana (primeiro caderno, pág. 37, "10 Mandamentos para o PSD"), tipifica a forma expedita como a direita se habituou a vender os seus produtos de maquilhagem.
É outra vez a malfadada história das garantias que a lei portuguesa ainda concede a quem tem um vínculo laboral a uma empresa. Ao que parece um terrível atentado contra a liberdade.
Se o Raposo fosse honesto diria pura e simplesmente:
"Eu defendo os interesses dos empresários e é no seu interesse poderem admitir e despedir quem quiserem sem formalidades nem responsabilidades. Porquê? Porque sim, adoro empresários". E estava no seu pleno direito.
Como seria impossível que uma posição destas "vendesse" a mais do que à minoria de empresários e seus apóstolos e avençados na imprensa e a meia dúzia de profissionais liberais do fundo da escala da imbecilidade ou mesmo assalariados em nome de uma qualquer obscura convicção ideológica, o produto teve de ser embrulhado de outra maneira mais apelativa. Foi para arranjar soluções para este tipo de charada que os think tanks conservadores americanos gastaram milhões ao longo das três últimas décadas. Henrique, valha Deus, é um patético sucedâneo destas fabulosas fábricas de chouriços ideológicos.
Como proceder?
Travestizando o vilipendiado conceito da "luta de classes" em "luta de gerações".
Os "jovens", diz Raposo, são crucificados em nome dos "privilégios" dos mais antigos.
O "jovem" que for nesta léria esquece que a defesa da precaridade do trabalho que interessa a alguns empresários vulnerabilizará também, a curto prazo, a sua própria posição no mercado de trabalho. É que com tiradas do Raposo ou sem elas, o afamado privilégio dos mais antigos redunda na prática, hoje, em Portugal, que um indivíduo com quarenta e poucos anos é um trapo velho que se deita para o caixote do lixo sem pestanejar em nome precisamente da necessidade de "renovar". Um tipo com cinquenta anos, por muito "acomodado" que seja, tem certamente alguma experiência profissional. No entanto, se cair no desemprego, o mais provável é que nunca mais de lá saia a não ser para engrossar as fileiras dos taxistas de Lisboa. Mais uma vez em nome da "renovação".
O que torna ainda mais sinistro o passe de mágica do argumento de Raposo, a subtil introdução do argumento da competência quase como imperativo "moral" assistindo ao "dever" de anular os tais "privilégios" dos mais antigos.
Assim, na matemática dos liberais,
jovem (barrado por causa dos privilégios dos mais antigos) = competência
antigo ("acomodado" e entrincheirado nos privilégios) = incompetência
Tudo isto cheira a argumento congeminado a la minuta. Se se lerem as crónicas do Raposo no Expresso, não faltam as críticas ao que os portugueses não trabalham (exceptuando ele próprio, em especial quando se entretém a escrever as suas crónicas) sem distinguir entre os jovens e os outros.
Os nossos liberais, que já tentaram apoderar-se do "franchising" do pró-americanismo mais fanático, pretendem agora tornar-se numa espécie de polícias, capatazes de uma putativa meritocracia.
Qualquer dia andam por aí a pregar o corporativismo e a desfilar pelas ruas com camisinhas de uma qualquer cor sugestiva .




domingo, abril 27, 2008 

O fim do equívoco

O candidato "unificador" do PSD é fácil de encontrar.
Como se tem observado nos recentes congressos desse partido, é o candidato que ganha.
Uniões recentes, totais e entusiásticas em torno de Barroso, Santana, Mendes e Meneses, o que interessa é a união em torno do "leader". Não é assim também no PP e no PS?.
Desde as suas origens que o PSD é uma federação de "interesses", ou seja, de pequenos partidos de ideologia suficientemente difusa para se chamarem "tendências" pragmaticamente designadas pelo nome das suas figuras de proa evitando o trabalho de arranjar um programa ou sequer um nome. Uma federação de interesses que apenas se constituiu como resposta mais ou menos improvisada a um dos momentos da vida política portuguesa que o PSD gosta de hostilizar: o PREC.
Uma coisa fortalece a sua unidade: a proximidade do Poder. Queixam-se do Estado, mas é o terem-se habituado a ser o partido do Poder que lhes alimenta as expectativas e a chama da unidade.
A actual crise do PSD tem mais a ver com a seca dos canais redistributivos e clientelares ( apesar de uma parte do PSD se fundir com alguns sectores do PS na gestão de muitos dos mais lucrativos negócios) provocada pela ocupação do centro pelo PS do que com alguma situação específica na vida de um partido que desde sempre foi um equívoco disfarçado com um verniz tecnocrático e vagamente "apolítico", vocacionado para a gestão do País.
Jardim tem talvez alguma razão.
Manuela Ferreira Leite poderá ser o porta voz do PSD "sério", herdeiro do "cavaquismo" de boa memória para o PSD.
Mas só se os portugueses, que se queixam do "liberalismo" e "insensibilidade para as questões sociais" do governo Sócrates, forem atingidos pela doença das vacas loucas é que ignoram o que significa a "imagem de rigor" associada a Ferreira Leite, e só se forem suicidas ou masoquistas é que votam nela. Injusto que seja compará-la à odiosa Thatcher, não deixará de ser implacável na aplicação das reformas estruturais, lá onde o governo do PS tem tergiversado para não afrontar, agredir e alienar ainda mais os sectores mais desfavorecidos da população.
O problema é que sendo assim o que resta?
O regresso ao caos de Santana Lopes?
A sintomática tentativa de ruptura com a lógica dos "barões" personificada por Pedro Passos Coelho, potencialmente catastrófica quando se tratar de dirigir um governo?
Talvez que o mais saudável para a vida política portuguesa seja a desintegração do PSD e a reconfiguração do mapa político com reverberações no PP e nos sectores do PS que atrairia para a sua órbita, contribuindo para dissolver a lógica do centrão de que tanta gente se queixa. Favoreceria a expressão e a discussão de ideias políticas normalmente abafadas e teria provavelmente como consequência a médio prazo a deslocação do centro político para a direita.
A situação inquinada vai provavelmente prolongar-se se persistir no PSD a psicose clubística da révanche sobre o principal adversário, agora que a lógica da batata sugere que dentro de um ou dois anos regressará a bonança, não por qualquer mérito do partido, mas graças às vitudes mágicas da "alternância democrática".
Não era a primeira vez que assim sucedia.
Talvez alguém se lembre do totoloto que saiu ao PSD há seis anos com a estranha fuga de Guterres, numa época em que o PSD já andava à deriva dirigido por um líder medíocre, sem grande peso e a prazo como Durão Barroso.
Não sei se Guterres ( e depois dele, Sampaio) agiram com maquiavelismo. Mas passados estes anos o PSD enfrenta de uma forma ainda mais brutal o problema da sua identidade.

 

Cadê?

Alguns analistas chilreiam pelo aparecimento de um líder unificador que salve o PSD da desagregação.
Mas não se conhecem já os nomes de meia dúzia de candidatos?
Se nenhum destes é unificador, onde vão eles arranjar um nesta fase do campeonato?

 

Ó tio, Ó tio

Aquilo que eu referi aqui, agravou-se.
Em parte graças ao laxismo com que a situação tem sido tratada por todos os intervenientes a catástrofe está já na zona centro do País e a partir daí será o caos, ou seja a floresta nacional de pinheiro bravo vai à vida. Se calhar o mais prático é mesmo deixá-la arder.
Para ser contida, esta praga necessitaria de uma revolução de mentalidades da parte dos proprietários ( as principais vítimas), técnicos e empreiteiros florestais.
Se alguém quer fazer alguma coisa tem de o fazer a sério.
Não basta marcar a madeira afectada, não basta mandar cortá-la e retirá-la, há que fazer face à despesa de retirar todos os resíduos e assegurar que isso assim sucede, há que estabelecer zonas tampão suficientemente dimensionadas para impedir a propagação.
E é necessário controlar e perseguir judicialmente os irresponsáveis que transportarem madeira de zonas afectadas para outras zonas.

sábado, abril 26, 2008 

A bola de cristal do bruxo

Palpita-me que um dos próximos escritores a causar furor em Portugal é o do escritor chileno Roberto Bolaño.
Por isto, isto, e sobretudo isto.

 

Arquitectura vivíssima

Acerca da intervenção referida abaixo, apercebi-me agora de que o a-significado já tinha postado sobre o mesmo tema uma foto do Tiago Mota muito melhor do que a minha, já que dá uma melhor visão do conjunto e permite avaliar o esplendor das vistas das traseiras de que disfrutarão os compradores quando for levantado o embargo.

sexta-feira, abril 25, 2008 

Arquitectura viva

Na próspera freguesia de Alcântara medra este inovador projecto de renovação de um edifício de sóbrias linhas tradicionais com recurso ao moderno conceito de arquitectura biomórfica, neste caso inspirada em dois dos mais graciosos e fascinantes animaizinhos existentes na natureza, o flamingo e a centopeia.
Por enquanto ainda tem as patinhas todas no chão.
Quando algumas delas vergarem, logo se verá, talvez tenhamos direito a um grande momento de metamorfose arquitectónica.

 

Abril indomável

O calor do sol e da festa não impediu alguns militantes mais radicais de levantaram bem alto a sua indignação vermelha contra o estado caótico do País causado pela traição do 25 de Novembro.

 

Todo o cuidado é pouco

A administração do Tivoli quiz contribuir para as comemorações com uma singela homenagem ao PREC, e construiu na entrada do Hotel uma paliçada protectora em pladur primorosamente disfarçada com verduras do seu afamado buffet.
Como se esperasse que alguma horda de comunas tentasse fazer uma ocupação selvagem do esplendoroso edifício.

 

O que ainda mexe connosco

"Compre-me um autocolante, camarada" disse a senhora de meia idade ao rapaz que seguia na manifestação próximo da frente do Bloco.
"Você é comunista não é?", insistiu.
"Sou comunista sim", disse o rapaz, "mas apoio o Bloco de Esquerda".
"Não faz mal" disse a senhora," então não queremos todos o mesmo?"
Sem argumentos o rapaz levou a mão ao bolso e entregou as moedas para pagar o auto-colante.

Comemorar uma data como o 25 de Abril é hoje em dia, dizem, uma manifestação da mais serôdia nostalgia e propaganda barata orquestrada pelo PCP.
É uma arbitrariedade herdada do PREC, um feriado supérfluo que tanto prejuízo faz à produtividade do País.
Cada vez mais uma data esvaziada de sentido, pretexto para sensaboronas cerimónias oficiais e discursos de circunstância.
Certo é que a maioria dos que se queixam dos feriados que quebram a competividade à nossa economia são os primeiros a arrancar de carro com a família gozar o dia de sol longe de Lisboa.
Mesmo com o preço da gasolina, mesmo com a crise económica e a falta de produtividade.
A maioria das pessoas que vão à manifestação do 25 de Abril não o faz pelo PC.
O PC e os outros partidos e movimentos que se manifestam com bandeiras e cartazes são hoje apenas espectáculo.
Quem lá vai, com excepção de uma minoria organizada, vai pelo seu pé, não é arrebanhada pelos partidos em camionetas.
Alguns esquecem que o desenvolvimento económico trazido pela democracia tornou inútil a participação em rábulas políticas como condição para que os campónios descessem à capital.
Isso era um problema logístico para as manifestações "de apoio" ao antigo regime.
Hoje quase não há campónios e as pessoas da província se quiserem metem-se nos seus carros e vão mas é para a praia.
A maioria das pessoas, e são tantas ou mais do que as que descem a avenida, não desfilam atrás de nenhum cartaz, ficam nos passeios a ver passar o cortejo, o que traduz a pouca vontade em estabelecer compromissos políticos, disso está o pessoal escaldado.
A única coisa que as leva lá é uma certa ideia, um certo sentimento de liberdade que se sente no ar.
O prazer de fruir de uma liberdade política difusa, sem stress da luta ou do perigo da repressão.
E isto, por muito que os seus patéticos detractores se esganicem, é ainda do melhor a que se pode aspirar numa vivência democrática. E não significa vassalagem nem tributo nenhum ao PCP.

quarta-feira, abril 23, 2008 

O princípio da Nostalgia

Todos ou quase todos os discípulos, asseclas, admiradores e seguidores do profeta o abandonaram.
Era impossível continuar pelo caminho pedregoso, e é a lógica interna das vanguardas. Cada vez mais vanguardas até se reduzirem à expressão mais simples do individualismo obstinado.
É, talvez, a saída saudável para um homem em cheio, pese a retórica impotente dos "sonhos não concretizados" ou traídos.
Quando assim não sucede e as vanguardas se tornam poder, o caminho é o do totalitarismo, o profeta muta-se em tirano encarnando os objectivos de uma "classe" ou "nação".
A despedida do profeta, a despedida do "maior marxista leninista vivo no hemisfério ocidental" na passada 4.ª feira no Alto de São João, foi assim um acenar nostálgico ao mito onde não faltou o discurso militante para compor o décor.
Muitos, certamente a maioria, acenaram a uma parte do seu passado.
Disseram adeus à figura mitificada encerrada para a vida nas prisões fascistas e de quem se bebiam os escritos, ao momento electrizante da sua entrada com os outros dois magníficos na manifestação do 1.º de Maio de 74, não ao que o profeta significava agora na vida deles ou na de alguém.
Pelo que ele significou um dia das nossas vidas.
Foi a primeira concessão à Nostalgia, um princípio a que o curso do tempo tenderá a conferir abundantes oportunidades para se manifestar.

domingo, abril 13, 2008 

Amnésia

Na New York Review of Books, Tony Judt faz a pergunta oportuna:
O que é que aprendemos, se é que aprendemos alguma coisa?
Na minha opinião, as sociedades humanas dificilmente aprendem alguma coisa com a experiência.
A memória é demasiado curta.

 

Tinha de acabar assim

Intrigante a necessidade de se organizarem eleições em certas ditaduras.
Não serve para nada e de vez em quando é isto, o tiro pela culatra.
Impossível fazê-lo em eleições.
De resto, cabe também perguntar: substituir Mugabe, para quê?
Que fará, que credibilidade tem quem vier a seguir "governar" um estado na banca rota?
Há anos já tivemos o duvidoso privilégio de assitir ao lento deslizar da Guiné-Bissau para o pântano (é dizer pouco) em que se encontra actualmente, entre golpes e eleições mais ou menos democráticas.
Tornou-se há muito claro que Mugabe levou o seu país para a inviabilidade com o seu racismo e, porque não dizê-lo, com a sua estupidez, e agora quer levá-lo para a guerra civil que não se travará entre fazendeiros brancos e ricos e a população negra como num romance histórico de propaganda. Os fazendeiros brancos e ricos estão fora deste combate.
Uma herança do beco sem saída a que se chegou com as pretensões de legitimidade superior do partido único que dirigiu a luta pela independência e a manipulação dos "antigos combatentes" como tropa de choque.
O pecado original de muitos países africanos.

sábado, abril 12, 2008 

Ensaio geral

Treinei esta anestesia geral como um ensaio geral da morte.
Aliás, suponho que uma das razões pelas quais enfrentei as circunstâncias que levaram à necessidade da anestesia com alguma expectativa positiva e até impaciência, foi o facto de me facultarem de forma relativamente benigna a possibilidade do teste.
Quando me levavam do quarto, já vestido com aquela túnica azul do condenado, um outro paciente, um missionário vitima de uma bárbara agressão algures nos confins de Moçambique há cerca de um mês, que o deixou cego, encetou oportunamente uma ladainha sobre as cerimónias fúnebres e falou da luz resplandescente como não existe na Terra, que espera do "outro lado" aqueles que acreditam nela neste "vale de lágrimas".
Nada melhor para incitar à meditação.
O ateu vacilou por momentos. Há coisas que não acontecem por acaso.
Onde estavam Dawkins, Hitchens, Harris, a Palmira?
Não seria altura de fazer um acto de contriçãozinho? Não se perde nada e sempre é uma segurança...
Uma médica, uma senhora com o ar mais tranquilo deste mundo espetou-me qualquer coisa na veia e falou-me com voz calma, quase maternal.
A minha cama estava estacionada num corredor em torno do qual se desenvolvia uma actividade febril, fabril, assustadora nas circunstâncias, porque actividades fabris com carne à mistura lembra sempre um matadouro, em especial a um cordeiro prestes a ser intervencionado pela mão segura do cirurgião.
Entrei para o ambiente sinistro do "bloco" e vi-me rodeado por pessoas mascaradas que, parecia, aguardavam um sinal qualquer.
Eu estava muito consciente disto tudo, atento às conversas, aos gestos, aos sinais.
Esperava a todo o momento que a médica anestesista, sempre ao meu lado, pronunciasse uns passes de mágica ou executasse uns malabarismos para eu ver como reagia.
Esperava no fundo uma progressão, em pingue pongue até chegar ao "outro lado".
E é assim que se passa para o "outro lado".
Simples.
O que nos angustia é o facto de pensarmos que na morte "real" não voltamos a acordar. Que chatice, adormecemos, OK, mas cadê o regresso para contar?
Se pensarmos bem não faz exactamente diferença nenhuma.
Que consciência temos do que se passa à nossa volta quando estamos a dormir profundamente? Acordar, nessa altura, não faz falta nenhuma, torna-se quase um capricho supérfluo da natureza.
O que nos angustia é pura curiosidade, saber o que se passa a seguir mesmo que o filme seja pouco agradável.
Desta vez voltei de novo a "este" mundo estrebuchando como que à saída de um pesadelo. Fixei com algum espanto o belissimo rosto de uma jovem debruçada sobre mim.
A touca que lhe envolvia os cabelos negros tomava a forma mística de uma crisálida, oblonga como uma coifa tal qual figura de retábulo medieval.
Talvez afinal fosse o Paraíso, a pronúncia espanhola do anjo reforçava a sensação. A luz?
As dores no corpo fizeram-me cair na "real". Estava na sala de recuperação vigiado por uma atenta enfermeira, imerso numa penumbra repousante.
Na minha cabeça ficou a zoar durante umas horas o bip bip contínuo da máquina que media a tensão arterial anunciando que o meu coração batia e eu ainda estava vivo.
No Inferno não deve ser tão difícil.

 

Ar fresco

Para uma certa direita habitualmente tão atenta ao mais leve assomo de populismo em Portugal (continental) é com certeza motivo de inspiração a frescura desinibida e decididamente "anti politicamente correcto" dos sucessos eleitorais de Berlusconi.
De Chavez, queixam-se que "compra" o eleitorado das barracas à custa de recursos "nacionais" como o petróleo.
A Sócrates, acusam de "ditador" e se preciso "fascista" pelo controlo eficaz dos meios de comunicação.
Já o domínio de Berlusconi sobre os media, em particular a televisão, é "natural", porque ele "honestamente" a comprou, pura e simplesmente.
Ao Berlusconi ninguém diz "callate".