domingo, setembro 30, 2007 

Tal e Qual

No meio da excitação causada pela bofetada de luva branca dada pelo Santana aos media personificados pela atarantada Ana Lourenço, e não custando adivinhar que o gimmick "o País está doido" será matraqueado durante as próximas semanas até à náusea em miríades de crónicas, assistiu-se num dos últimos dias a um outro acontecimento pesado de significados.
Acabou o Tal & Qual.
Vi uma reportagem num noticiário televisivo qualquer.
Uma jornalista dizia para as câmaras com um ar resignado qualquer coisa como isto: os trabalhadores do jornal, incluindo os seus jornalistas ficaram "muito surpreendidos porque não estavam à espera ...".
Tal qual. Em casa de ferreiro, espeto de pau.
Os furibundos jornalistas que se prestam ao trabalho de dar a cara pela face mais odiosa dos media, os ferrabrazes que dão corpo ao temível "poder dos media" correndo como enxames, atropelando-se atrás de "casos" cujo "interesse público" se manifesta pela presença das suas hordas numa agitação que por um lado repugna mas por outro mete dó e faz vergonha, são afinal uma massa desgarrada que é mandada para o desemprego de um dia para o outro com um mínimo de justificações e sem qualquer reacção.
Não foi para eles, sequer, notícia de interesse o facto se alguém se preparar para os pôr na rua...
Não souberam de nada...
E bastou uma decisão de um concelho de administração.
Não está a "justificar" o investimento, fecha, é normal, papalvos para a rua.
Este sim, é que é o "poder dos media".
Ninguém protestou, ninguém disse nada. Os fundadores "tiveram pena" e contaram umas histórias curiosas dos primórdios, há quase três décadas atrás.
Ui! Se ao menos tivesse sido o Chavez a mandar encerrar o jornal com um pretexto qualquer...
Aí sim, ter-se-ia assistido a belas demonstrações declarando "sagrada" a liberdade de informação.
Assim, resta-nos perceber qual é o sentido com que normalmente se usam os conceitos de "liberdade" e "liberdade de informação".

sábado, setembro 29, 2007 

Rentrée

O especialista do espectáculo deu espectáculo ao subverter as regras da informação/ espectáculo.
Tanto bastou para que o País se solidarizasse com ele, correndo o risco de o iludir com perspectivas de um "renascimento".

Na realidade, Santana Lopes interpretou o sentimento de parte da população farta da grosseria e dos abusos dos media. Saltou-lhe e muito bem, a tampa, para gáudio instantâneo e generalizado de muitos dos que não imaginam e menos querem saber que espécie de opiniões ele terá quanto ao problema PSD ou outros.
São, convenhamos, uma ínfima minoria no universo dos espectadores de televisão, mas não gostaram de ver o programa interrompido com um fait divers sem interesse nenhum.
Mesmo que a combinação Santana/problemas do PSD seja tão irrelevante quanto a chegada do Mourinho ou outra qualquer pessoa ao aeroporto, e mesmo sabendo a que ponto se chegou na espectacularização ( num sentido literal) da informação, de que é indício nauseante o estilo gráfico d'o "jornal de referência" sobrecarregado de ruído visual emulando toscamente o dinamismo histérico da linguagem televisiva, não custa admitir que "é demais" e que Santana interpretou a "Voz do Povo".

Intrigante, só o apoio dado a esta pequena "revolta" por pessoas que persistentemente têm teorizado ao longo dos últimos anos sobre os "direitos soberanos" da "liberdade de informação" e dos "direitos dos consumidores", significando com isto que deve ser "o mercado" a determinar o conteúdo da informação, e não o que classificam como meia dúzia de "iluminados".

Para essas pessoas, quem questiona essa realidade, seja por moralismo lamecha e retrógrado, seja por uma noção centralista e manipulatória da "cultura", revela um desejo de "controle" ilegítimo e de raiz vanguardista e totalitária.

Se as pessoas estão ávidas por saber detalhes do Mourinho, em nome de quem e de que princípios é que uma televisão as pode "privar" dessa "informação" quando isso se reflecte nas audiências e nas performances exigidas pelos anunciantes, apenas porque meia dúzia de "intelectuais" "bem pensantes" dos verberados numa patética crónica de glorificação ao Mourinho publicada recentemente, se obstina por dever profissional ou mania em assistir a uma conversa ininteligível?

Dizem que a direcção de informação da Sic Notícias "não percebeu nada", mas é ao contrário, percebeu muito bem, a indignação que essas pessoas agora exibem é apenas o cuspo que atiraram para o ar a bater-lhes na cara.

quinta-feira, setembro 27, 2007 

Elementos de Estudo (IV)

Da leitura de um artigo de Becky Price, investigadora de GeneWatch UK publicado no Guardian:
Decorre neste momento em Inglaterra o processo de transposição de uma directiva europeia que responsabiliza o poluidor pelos prejuízos causados à biodiversidade.
Como é natural, a discussão centra-se em torno da definição de prejuízo ambiental e das circunstâncias em que o poluidor deve ser responsabilizado e obrigado a pagar pelos prejuízos.
As companhias de OGM, que passaram os últimos dez anos organizando centenas de meetings pela Inglaterra fora ( a propósito, gostava de saber quantas sessões públicas de esclarecimento se realizaram neste período em Portugal) garantindo que as colheitas de produtos geneticamente modificados são seguras, pretendem agora pôr-se de fora quanto a eventuais problemas futuros argumentando que:
1- As colheitas que eventualmente criarem problemas terão sido autorizadas (ou seja, quem os autorizou, um funcionário qualquer de um ministério, isto é, o público, é quem pagará as favas).
2- O estado actual da ciência não permite prever eventuais impactos negativos futuros.

Querem assim que os autorizem a plantar, com base numa garantia que eles dão, porque é seguro, mas recusam assumir eventuais responsabilidades ( que à partida garantem que são inexistentes) porque a ciência em que fundamentam essa garantia de segurança, afinal não lhes permite assumir riscos futuros quando está em cima da mesa a possibilidade de abrirem os cordões à bolsa.
Confuso? Claro que é.
Mas dá para perceber porque é que os vendedores de OGM defendem que "a sociedade deve correr riscos".

quarta-feira, setembro 26, 2007 

26 já era

26 passou e eu nem dei por isso.
Já lá vai no escuro, calcificado pela ferrugem e pela posterização, carcomido pelo sal e pelo olhar, definitivamente abaixo da tona de água, "Full fathom five, thy father lies...".
Arrancámo-lo do fundo do mar, e levámo-lo a um planeta vermelho, onde lhe gravámos a ácido escarificações e vestígios de veios, signos a decifrar noutra noite.
Que o BlogGod me perdoe o atraso na oferenda.

 

O nosso futuro biotecnológico

Uma grande revista, um grande cientista, um artigo brilhante, uma ideia lunática (1):

terça-feira, setembro 25, 2007 

Elementos de Estudo (III)

"Sur les OGM, tout le monde est d'accord : on ne peut pas contrôler la dissémination. Donc on ne va pas prendre le risque."
Atrevo-me a traduzir ( sobre os OGM está todo o mundo de acordo: não se pode controlar a sua disseminação e portanto não vamos correr riscos) declarações de Jean-Louis Borloo, Ministro francês de "l'écologie, du développement et del'aménagement durable" ao Le Monde depois de um encontro com um grupo de parlamentares da maioria no passado dia 17 de Setembro de 2007 e referidas num artigo de Christophe Jakubyszyn et Hervé Kempf do dia 20 de Setembro de 2007.
Aos mais distraídos lembra-se que Borloo, que integra o temível governo de Sarkozy, pronuncia-se sobre o tema apesar de saber que o seu país se encontra infestado de tenebrosos terroristas e eco-fascistas, o inimigo principal a abater.
Talvez esteja maduro para uma lavagem ao cérebro ministrada pelo sinistro Dr. Canhoto sobre a Teoria dos Riscos que devem ser assumidos pelas sociedades.

 

Elementos de Estudo (II)

«Não há nenhum milho OGM semeado às escondidas», sublinhou, indicando que estas plantações «são obrigatoriamente comunicadas aos vizinhos», proprietários de outras parcelas de terreno na área.
Todavia, segundo o especialista, uma parte importante das produções tradicionais de milho acaba por ser contaminada pela «polinização cruzada», sendo assim difícil encontrar milho que não contenha mais ou menos genes dos OGM.
(Excerto de uma entrevista a um representante da Unicentro publicada aqui no Diário de Coimbra a propósito de uma visita a campos de milho transgénicos realizada por deputados em em 14 de Setembro de 2007.)

 

Elementos de estudo (I)

Um exemplo do tipo de aulinha de biologia a la minute que deve ser dada pelos vendedores de transgénicos aos agricultores com dúvidas :
Tentativa de transcrição de parte do programa Sociedade Civil apresentado na RTP2 no dia 10 de Setembro às 14:00.
A entrevistadora, Fernanda Freitas (dirigindo-se ao representante da Confagri e defensor do cultivo de transgénicos) - Como é que é então essa coexistência? Pacífica ou nem por isso? Porque eu acredito que um agricultor em Portugal também pode decidir fazer uma produção totalmente isenta de transgénicos.

Mr. Confagri- Pode e é possível.

FF- Há de facto essa garantia? Porque muitas das acusações e parecem-me bastante válidas é que há uma contaminação.

Mr. Confagri-
Há uma relação de um óvulo para vinte mil grãos de pólen. Esta polinização, isto é, o pólen vai descendo, vai descendo, e entretanto, 85% dos grãos de pólen produzidos por uma planta vão cair a menos de um metro e só 4% atinge 8 metros, só 1% do pólen produzido é que pode chegar a 60 metros. Ora isto são indicadores da deslocação dos grãos de pólen. Então levando em consideração digamos toda a fisiologia das plantas e da forma de polinização é que foi criado zonas, regras bem definidas de forma a que esta contaminação seja reduzida, e então foram definidas regras de produção para os milhos de agricultura biológica, foram criadas regras para os chamados milhos de produção contratada e regras para os milhos chamados convencionais.

segunda-feira, setembro 24, 2007 

Credibilidade ao pacote

Que não, que bastava uma distânciazita de prevenção aí de uns 20 metros e nem um grãozinho de pólen conseguiria voar de uma maçaroca e polinizar outra sementezinha qualquer.
Garantido.
Quando foi preciso para convencer algumas autoridades, os vendedores de transgénicos (OGM) apresentaram todas (enfim, algumas...) “provas” e “estudos”, demonstrando o reduzido ou mesmo nulo perigo de contaminação de outras culturas.
Agora que pensam ter vencido a guerra contra os “terroristas”, “guedelhudos” e “malcheirosos” com a obtenção de autorizações de cultivo (que de qualquer modo já faziam antes dessas autorizações) deixaram de ter problemas em admitir a evidência inescapável de que na prática o que acontece é o inverso, é IMPOSSÍVEL evitar a contaminação.
No que respeita a contaminações e respectivos estudos estamos conversados, eram assumidamente poeira para os olhos.
Quanto aos efeitos dos OGM na saúde humana e dos animais, qual a credibilidade que resta aos estudos rigorosíssimos de independenticissimos cientistas jurando por A+B que no pasa nada?

domingo, setembro 23, 2007 

Um tirano é um tirano é um tirano

O primeiro ministro inglês tem razão em recusar-se a palhaçadas que incluam o Robert Mugabe.
Podemos criticá-lo talvez por incoerência, mas não podemos ficar por aqui.
Pode argumentar-se com a questão "institucional", mas há limites para tudo.
Uma coisa é discutirem-se os motivos dos políticos. Outra é o nosso caso.
Recusarmos o papel desagregador que a seita do Bush teve nos últimos sete anos na política internacional, não nos obriga à passividade total perante criminosos.
Por que princípios ou cálculos estamos dispostos a aturar a presença de um celerado como o Sr. Mugabe? Só porque os ingleses ou outros "sabem muito"?
O mesmo raciocínio se aplica aos países africanos.
Porque princípios ou cálculos estão dispostos a aceitar que os Sr. Mugabe os represente?
O mesmo raciocínio se aplica ao Robert Mugabe.
Não terá vergonha na cara de aparecer em conferências de líderes como representante de um país reduzido à mais abjecta miséria graças ao seu esforçado contributo?

 

Revista

O Público de hoje traz um artigo que avalia uma série de potenciais candidatos ao estatuto de futuro líder do PSD. Não é dispiciendo, porque talvez mais do que outro partido português, o problema do PSD é um problema "de líder". É uma carneirada muito "individualista" e "liberal" e "independente", mas sem líder começam a patinar e a descarrilar.
O artigo apresenta diversos hipotéticos futuros candidatos com a respectiva fotografia ilustrada pela qualidade que supostamente os define.
Ora isto fez-me lembrar um livro sobre o teatro da revista escrito pelo antigo crítico de teatro do desaparecido semanário O Jornal, Vítor Pavão dos Santos, em que as fotografias de artistas da revista que tinham ficado para a história eram ilustradas de forma semelhante. Contaram-me uma vez que o número de artistas e a necessidade de não repetir adjectivações obrigou a um certo esforço para encontrar qualidades elegíveis, muitas delas sinónimo de outras já "esgotadas".
Parece ter sido agora também o caso.
Por outro lado há que assinalar que este exercício é feito quando se aproximam as eleições internas para a direcção do PSD e nenhum dos concorrentes é referenciado. Isto diz tudo das expectativas quanto ao futuro próximo do PSD.

 

Bravos Polacos

Perante o inexorável avanço do ateismo internacional, nem tudo está perdido para os ultra conservadores, existe um cantinho que resiste, qual aldeia gaulesa.
Terra de devotos e de Papas, última fronteira perante o Império do Mal.
Interessa meditar um pouco sobre isto porque talvez seja necessário usar um pouco de relativismo.
Voltando aos posts do José sobre a preponderância de gente da esquerda no panorama mediático dos últimos quarenta anos em Portugal, alguém se lembrou de pensar porque é assim?
E sendo em Portugal as coisas como são ( deixando de lado, aquilo que considero os exageros da opinião manifestada pelo José), custará muito reflectir sobre as razões pelas quais um número muito significativo de cidadãos dos países do Leste europeu reagem com alguma brusquidão quando um português inadvertidamente menciona a palavra socialismo?
Como é possível se aquela gente beneficiou durante quase cinquenta anos da protecção do manto benfazejo da "pátria do socialismo"?
Podemos arranjar todos os subterfúgios argumentativos que quisermos, agarrar-nos às explicações mais elaboradas mas, seja porque razão seja, aquela gente tem aversão à palavra "esquerda". E porquê? Intoxicados pela "propaganda ocidental"? Talvez, mas só se admitirmos que essa propaganda foi transmitida por veia intra venosa nos excelentes e gabados serviços de saúde universais e gratuitos prodigalizados pelo Estado nos defuntos países socialistas.
Na realidade, tirando umas emissoras fanhosas e meia dúzia de folhetos clandestinos, aquele pessoal estava provavelmente mais protegido da propaganda ocidental do que os portugueses antes do 25A, o que nos permitia, ainda assim, uma certa capacidade de escolha e em função disso escolhermos ser esquerdistas, enquanto eles vegetavam sem grande alternativa senão quererem ver-se livres de qualquer maneira do sistema em que viviam.
Que referências lhes restavam se a ideologia que em todo o mundo influenciou mudanças dramáticas nas relações de trabalho era a religião oficial dos estados em que viviam, o instrumento que servia para supervisionar o estado mais ou menos miserável das suas vidas?
Elocubrações sobre o "capitalismo de Estado tomado por dentro pela burocracia", o "social fascismo" ? Para quê, se ali à mão estavam a visão do paraíso proposta por uma igreja católica obrigada, para sobreviver, a cristalizar-se no tradicionalismo e a receita do antisemitismo mais brutal?
Talvez por isso tenhamos de ser um bocadinho indulgentes em relação aos polacos. Deixá-los assentar.
É que ainda por cima o estado actual da sociedade polaca parece bastante elucidativo acerca do que resulta da mistura gangrenosa entre moralismo rançoso, fanatismo religioso e "liberdade económica" .
Estamos mal habituados. Os nossos políticos de direita e a generalidade dos seus propagandistas incluindo muitos dos bloggers neocon são gente "fashion" e informada que nos divertem com interessantes teorias onde a realidade é substituída pela miragem do sucesso enquanto partilham connosco o gosto pelas novidades estéticas mais sofisticadas.
Quase que parecem apresentáveis.
Pelo seu lado a elite política polaca ostenta um conservadorismo saudável e genuíno em que as discussões estéticas andam à volta da forma de dizer a missa, e os dirigentes supremos apresentam o ar tranquilizador de grunhos abrutalhados, gente séria, honesta e trabalhadora do tipo pão pão queijo queijo que é o arquétipo do "povo" para todo o reaccionário preocupado com quem tente "mandar nele".
Com a gente certa no poder nenhum conservador português se lembraria de chamar "asfixiante" à situação na Polónia e todas as tropelias cometidas nos últimos tempos pelo Governo, passíveis de explicação lógica e "serena".
Até na economia, em que um PIB em crescimento acelerado convive com astronómicas taxas de desemprego a Polónia é interessante de observar para que se perceba o que vale avaliar estes indicadores separadamente.
Por outro lado há que reconhecer à Polónia o mérito de saber "bater o pé".
Eles podem ser os únicos a pensarem uma determinada coisa, mas não abdicam em questões humanistas e de princípios de indefectível defesa do valor supremo da vida como tentativas espúrias de posições colectivas contra a pena de morte.
Para todos os que se insurgem contra a "burocracia" de Bruxelas é algo de muito animador.

segunda-feira, setembro 17, 2007 

Guantanamo Já!

Um conhecido activista do Bloco de Esquerda, de seu nome Alan Greenspan, publicou hoje mais uma revoltante calúnia que se inscreve claramente no anti-americanismo de alguma esquerda: publicou um livro em que defende que o móbil principal da guerra do Iraque foi o petróleo.
É claramente uma facada nas costas de todos aqueles que lutam pela verdadeira liberdade e pela expansão da democracia liberal.
Um caso de polícia a ser examinado ao abrigo do Patriotic Act.

domingo, setembro 16, 2007 

Apocalípticos e Messiânicos

Continuo sem perceber bem por que fronteiras subtis se destrinçam na mente dos cépticos os tipos de vanguardas de acordo com o seu potencial totalitário.
Falhos de outras referências lexicais, pessoal com mais em que pensar e muita areia para enterrar a cabeça não tem dúvidas em classificar quem recuse a contaminação pelos organismos transgénicos na gaveta dos "neoluditas" e dos "apocalípticos".
Este meme deve ter-se propagado a partir de um número qualquer do Almanaque Borda d'Água e agora temos de aguentar todo o pacóvio que se arraste do mais remoto buraco da Serra da Lapa até ao teclado do computador mais próximo a repeti-lo mecanicamente até à exaustão.
O defeito, ao que parece, é não haver nenhuma multinacional ou político americano mediático a dar caução à luta anti-OGM.
Se alguém disser que a actual capacidade de produção de alimentos daria para acabar com a fome no mundo desde que fossem postos em prática os mecanismos de regulação e distribuição adequados, tratavam-no como perigoso inimigo do mercado e logo da liberdade.
E nem é sequer pela exequibilidade da proposta, mais ou menos lunática. É pelo programa.
Por outro lado, acha-se natural que os defensores dos OGM os apresentem como "os alimentos humanos mais controlados", "correctores dos defeitos da natureza", e até a "solução para resolver o problema da fome no mundo" a ser adoptada "urgentemente", antes que seja tarde.
A demência destas pretensões messiânicas passa aparentemente despercebida aos mais acérrimos defensores da "liberdade" e "da vida", aos mais refractários a "controles" e aos mais cépticos quanto à "natureza humana" apesar de implicar a sujeição da humanidade aos ditames de um reduzido número de multinacionais que eufemisticamente se diz que são "controladas" pelos seus accionistas, gente e pobre e desvalida, já se vê.
Apesar de ser um evidente atentado à liberdade de quem quer produzir e consumir alimentos não contaminados e uma destruição irreversível da biodiversidade à escala planetária.
A única explicação é que os OGM não são propostos à força de manifestações por justiceiros que pretendem "decidir por nós". São introduzidos sem "jacobinismos", à socapa, à nossa revelia e sem necessidade de nos chatear a pedir-nos a nossa opinião, por Drs. Strangelove de colarinho branco e postura mansa.
O único dinamismo envolvido é o empresarial e a busca de lucro e controlo por uma minoria irresponsável, mas respeitável. E como o dinamismo empresarial parece ter-se tornado em mais um "valor sagrado" independentemente das suas consequências, é isso que conta.

 

Ponta por onde se lhe pegue

Não entendo grande coisa dos problemas da educação.
A pedagogia não é o meu forte.
Passam-me ao lado as questões das reformas do ensino, das carreiras docentes e dos rankings das escolas.
No entanto alguns indícios recentes têm-me dado uma ideia da podridão que grassa em todo o "sector".
1- Acho esquisito que na lista de livros da adolescente que desestabiliza e arruina o meu pequeno mundo familiar, não apareçam mencionados clássicos da literatura, da história ou da filosofia e apareça um livro de Educação Física.
Deve ser uma manifestação de sentido de humor, mas mesmo assim...
2- A adolescente em causa foi tentar encomendar os livros constantes na lista e na papelaria exigiram-lhe uma caução de 20€ por livro. Dá cerca de 180 aéreos só para "cauções", incluindo, claro está, a do livro de Educação Física. Se há quem ache que não vivemos num sistema onde o mercado dita as suas regras...
3- Uma pessoa de família que tem um rebento a estudar numa instituição privada de ensino superior teve de pagar por inteiro as propinas mensais relativas ao mês de Setembro, a módica quantia de cerca de quatrocentos euros. As aulas começam a 28 de Setembro...( isto deve dar uma ideia do que alguns entendem pela "liberdade de escolha" supostamente trazida pelo ensino privado) .

 

Um Vietnam sem glamour

A guerra do Vietnam foi um momento definidor da cultura dos anos 60.
Visto de fora foi o acontecimento que adicionou à lenda dos anos sessenta do "peace and love", o toque adicional de perigo associado à experiência extrema da "fronteira".
Emprestando-lhe um certo glamour.
Uma guerra em que se misturou o horror dos sofrimentos infligidos aos civis de ambos os lados, a morte frequente dos soldados, o rock psicadélico e a sensação de liberdade total de andar à boleia no instrumento lúdico por excelência dos repórteres de guerra, o helicóptero, cujo ruído hipnótico inspirou Karl Heinz Stockausen.
Um mundo estranho, imortalizado em Dispatches de Michael Herr e em cenas dos filmes Apocalipse Now e The Deer Hunter.
Não foi por acaso que Herr foi consultor de Coppola na elaboração do guião do Apocalipse, e foi sintomática a sinergia poderosa gerada entre um filme alucinogéneo, o ruído dos helicópteros, suporte material que o sustém nas nossas cabeças muito após a sua visualização e a música vulcânica dos Doors, ícone da afirmação de individualismo radical e brutal tatuado de misticismo e pacifismo que definiu essa época.
Apesar das garantias que nos deram os seus sábios defensores, num misto de complacência e impaciência, a Guerra do Iraque começa a parecer-se, sim, com a do Vietname, mas para pior.
Não há glamour. Os jornalistas embedded são na prática membros dos departamentos de "acção psicológica" do exército e contam o que convém ou o que lhes autorizam, ou o que lhes dita o "dever patriótico".
Fala-se dos "sucessos" na pacificação (temporária) de algumas zonas, mas nada nos é dito (só acontecerá quando os pesos de algumas consciências se tornarem insuportáveis) à custa de que monstruosidades cometidas contra a população se têm verificado os "progressos".
Onde as imagens são mais familiares é nas manifestações que começam a surgir nos Estados Unidos.
Mas ainda assim, longe do vigor, do sentido de festa, do impulso transformador de outras eras. Talvez seja porque ainda está tudo no princípio.

sábado, setembro 15, 2007 

Alvissaras

O 25centimetros de neve linka para uma notícia no site Earthtimes sobre uma série de estudos científicos que contrariam diversos aspectos das teorias que valorizam a acção do homem como factor importante no aquecimento global.
Embora aparentemente esses estudos não estejam a atrair a atracção mediática devida, há mecenas que velam para que os autores sejam recompensados.
Ao que parece em Fevereiro de 2007, o Guardian divulgou que o American Enterprise Institute oferecia 10.000 dólares a cientistas e economistas que apresentassem estudos contraditórios com diversos aspectos do relatório das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas.
É bom saber como estes think-tanks investem nos relatórios apropriados.
Francamente não entendo muito de meteorologia, mas até estou tentado a telefonar-lhes.
Este Verão pareceu-me um bocado fresco e húmido demais.

 

O Bom Pastor

Para além das cogitações sobre o PSD, a revista Atlântico de Setembro, vale a pena pelo esforço quase detectivesco de alguns dos seus colaboradores em busca de personagens obscuras a quem a humanidade muito deve no seu caminho para a felicidade.
Foi este o caso de Nuno Martins que, sabe-se lá porque perigos e guerras esforçados, foi descobrir "no seu gabinete de uma das principais artérias da capital belga", um tal Emanuele Ottolenghi.
Em boa hora o fez porque temos feito mal em ignorar Ottolenghi, um homem que já foi, entre outras coisas, "Scholar do American Enterprise Institute, em Washington".
Homem de bem, "dirige, desde Setembro de 2006, o Transatlantic Institute, um think-tank sedeado em Bruxelas e cujo objectivo é o de fortalecer as relações entre a Europa e os Estados Unidos da América".
Óptimo, exclama o leitor... que causa nobre, finalmente vai acabar esta rivalidade estúpida entre a Europa e os Estados Unidos, agudizada pela forma como a Administração Bush decidiu unilateralmente invadir o Iraque com os resultados que se conhecem.
Ora Ottolenghi, informa-nos o jornalista, é "autor do livro Auto da Fé, em que se critica a Europa de hoje e as suas dificuldades em lidar com Israel e com o sionismo existente no Velho Continente".
Bom, parece que afinal tudo isto faz um (certo) sentido: um think-tank que pretende "reforçar as relações entre a Europa e os Estados Unidos", não tem mais nenhum sítio por onde começar do que"criticar a Europa"... à cause de... Israel.
Afinal o "reforço" significa convencer o rebanho europeu a confinar-se ao redil do pensamento único dos neocons.

 

O regresso ao campo dos melros

Teresa de Sousa escreveu no Público que a Europa deve mostrar-se capaz de resolver o problema do Kosovo.
O problema é que todos querem resolver o problema do Kosovo mas ninguém se atreve a formular claramente a forma como quer que se resolva o problema do Kosovo.
Ora se nem a Teresa de Sousa, que é uma jornalista habituada à estratosfera das estruturas dirigentes não se atreve ou não sabe, ou não pode formular claramente uma solução, são completamente ocas e até um pouco ridículas as afirmações do tipo "O Kosovo não é um problema dos EUA ou da Rússia, é um problema da Europa".
Bravata oca porque ainda por cima quem agudizou o problema foi uma certa Europa.
Há uns anos atrás, as circunstâncias históricas fizeram com que um país fosse esmagado e praticamente espoliado de um território que é central para a sua identidade.
Foi uma espécie de estocada final precipitada na derrota do antigo Bloco de Leste: uma geração de líderes Europeus inconscientes e incapazes militarmente chamaram o polícia grande para uma aplicação prática e bem sucedida do ponto de vista militar, das teorias que propunham a intervenção humanitária baseada na supremacia aérea esmagadora.
O País em questão, a Sérvia, teve o azar de ter dirigentes com mau aspecto com quem o "Ocidente" ardia de desejo de ajustar contas, num momento histórico em que o seu aliado histórico, a Rússia, se encontrava em total confusão, mais ocupado em reconverter-se de capitalismo de estado ineficiente em cleptocracia criminosa encapotada de "liberalização".
Ao menos que a aventura tivesse servido de lição. Ao invés criou o mito de um método milagroso de resolução de questões políticas.
Se a vitória militar no Kosovo não deixou dúvidas ( na realidade, soube-se no fim da guerra, o exército sérvio escapou largamente ileso aos bombardeamentos e a vitória apenas foi conseguida porque o sinistro Milosevic, perante uma situação em que a Nato e aliados empreenderam a inevitável campanha maciça de destruição das infra-estruturas de um País europeu relativamente desenvolvido, teve a decência última de se render), o problema político persistiu.
O que se pretende fazer agora é dar o golpe final:
Promover a independência do Kosovo e arranjar forma de correr com os últimos sérvios residentes formalizando temporariamente a existência dos guettos onde estes já sobrevivem.
Não sei como, a troco de quê, pretende-se agora que as partes em confronto, vivendo há quase uma década numa situação artificial em que só não se esganam de vez devido à presença das forças de interposição, com os ódios mútuos tão intactos como no primeiro dia da guerra, cheguem "por si" a uma solução.
Isto é, acredita-se na miragem da razoabilidade da parte dos albaneses vitoriosos, e dos derrotados sérvios, contando-se para domar estes, com líderes políticos democráticos ansiosos por fazer o caminho da adesão à CEE.
Infelizmente, porém, já desapareceram alguns dos pressupostos que levaram à presente situação.
Os Estados Unidos perderam a áurea de infalíveis na resolução de problemas e estão descredibilizados politicamente, a Europa já não é o bilhete para a prosperidade de há uns anos atrás, capaz de amaciar o patriotismo sérvio com a expectativa de dinheiro oferecida a quem apostasse na democracia e a Rússia recompôs uma classe dirigente agressiva de quem a Europa começa a ficar refém do ponto de vista energético e não teme já mostrar os dentes.
A prova foi a reacção espalhafatosa de Putin a uma provocação estúpida e desnecessária dos americanos a pretexo da Guerra ao Terror.
Quer isto dizer que "resolver o problema" do Kosovo, por muito voluntarismo que exista na necessidade de se falar a uma só voz é, neste momento, um jogo de poker muito perigoso.
Até onde é que o "Ocidente" poderá esticar a corda da arrogância perante a Rússia?
A única forma predominantemente pacífica, seria com aquilo que é normalmente considerado um desperdício em tempos de paz, e "normal" ou nem sequer discutido desde que se entra em guerra : dinheiro, muito dinheiro.

quinta-feira, setembro 13, 2007 

pluff

É nessas alturas

quarta-feira, setembro 12, 2007 

Os tipos que sabiam tudo (e não aprendem)

Num post intitulado por nítido esgotamento intelectual "A nova esquerda", Bernardo Pires de Lima acusa o Daniel Oliveira de em 2003 saber que não existiam armas de destruição maciça e não existiam ligações entre Saddam e a al-Qaeda.
Estranho queixume quando em 2003 o Bernardo e a restante seita "sabiam tudo".
Sabiam de fonte segura que existiam armas de destruição maciça no Iraque. Sabiam das ligações entre o Saddam e a al-Qaeda e garantiam que sem a invasão do Iraque iríamos assistir a terríveis ataques terroristas.

terça-feira, setembro 11, 2007 

Ils sont partout

O José da Grande Loja, levou-nos nos últimos dias numa interessante viagem através dos últimos quarenta anos.
Escrito por alguém que se assume como não de esquerda, defendendo que esta é sempre portadora de uma "matriz" totalitária que se manifesta sob várias matizes através da história, a série de textos surpeeende porque ao contrário de outras tentativas de caracterização da vida intelectual portuguesa do mesmo período que negam à esquerda qualquer influência cultural, esta atribui-lhe uma quase total e asfixiante preponderância.
A mim parece-me que esta análise peca por um certo exagero, embora os exemplos alinhados (e scanerizados) para suportar a argumentação se possam considerar como bastante representativos. É um trabalho muito bem feito que envergonharia facilmente a maioria dos sujeitos que se dedicam a este tipo de análise nos jornais.
Claro que o José faz um bocadinho de batota quando até o PSD pretende meter no caixote da esquerda. Tem a mesma raiz do PS. Ora o PS, está, segundo ele entranhado das mais entranhadas ideias ( e personagens) maximalistas. Tem a mesma matriz do PC... não só nas pessoas como também nas ideias... e por aí adiante.
A determinada altura quase que parece que vamos assistir a um jogo do empurra:
O Jerónimo de Sousa a empurrar o PS para "a direita", o José a empurrá-lo para próximo do PC.
A questão que parece interessante, no entanto, é a de saber o "porquê".
Porque é que a esquerda assumiu tal preponderância?
Por causa do PC?
Como reacção ao antigo regime? Mas como se ao que parece o antigo regime nem era tão mau como o Pintam, tanto que permitia que nos seus últimos anos e apesar da censura, que se afirmasse nos meios de comunicação essa predominância?
Por uma espécie de controle totalitário? É certo que a partir de determinada altura era impossível pensar em entrar em certos nichos sem se ser simpatizante ou militante do PC. Mas era isto verdadeiramente efectivo para a generalidade da imprensa? Não era até perigoso para os "habitantes" dos tais nichos?
Porquê? Apesar dos crimes, das purgas... várias gerações de portugueses cada uma à sua maneira, cada uma com as suas manias e contradições próprias, "sente-se" à esquerda.
Eu poderia tentar responder a isto, mas duvido que seja capaz de fazê-lo de uma forma desapaixonada.

 

Fait divers

Acho que o Dalai Lama, como qualquer outro líder religioso, é bem vindo a Portugal.
Mais, até aceito que o Dalai Lama será um personagem mais recomendável do que o líder da Igreja Maná ou o Reverendo Moon.
Aceito e entendo que o Governo receba o Dalai Lama ou qualquer outro líder religioso nas circunstâncias que julgar apropriadas .
O que não percebo é a insistência com que alguns "exigem" que ele seja recebido pelo Governo.
Porquê? Para quê?
Para dar satisfações à vasta comunidade budista portuguesa?
Para embaraçar a próxima visita do Sócrates à China?
Mas afinal o Dalai Lama está cá como líder religioso ou na qualidade de líder político?
Tirando alguns para quem esta será uma oportunidade boa para fazerem "oposição", intrigam-me este tipo de pressões dos admiradores do Dalai Lama.
Não porque não tenham legitimidade para fazê-las do ponto de vista "mundano", mas porque indiciam uma estranha valorização das "aparências".
Parece-me que neste aspecto é sensato esperar que o Dalai Lama tenha de voltar cá muitas mais vezes. Há muitos ensinamentos a dispensar.
Talvez que ao fim de algum tempo essa acção meritória mereça uma condecoração com direito à almejada recepção .

 

Chora que a mãezinha compra

Uma alarmante notícia informa-nos que Bush "confessou" ao autor de um livro sobre a sua presidência que "chora muito" no exercício da sua profissão.
Faz lembrar uma célebre anedota sobre as hienas.

segunda-feira, setembro 10, 2007 

A propriedade é o vôo

A propósito do "direito sagrado" à propriedade privada que tem posto em transe místico tudo quanto é cabecinha aqui no burgo, ocorreu-me esta historieta passada com um colega de trabalho.
O sujeito em causa tem uma casita sossegada para os lados da laboriosa, pacata, ordeira e progressiva Alverca. Ali logo pertinho da auto-estrada.
Tem, quer dizer, tinha...
Um dia destes, sem que se tivesse previamente detectado na casa actividade singular que motivasse a intervenção de cidadãos desejosos de fazer justiça pelas suas próprias mãos, do tipo móveis a arrastar de noite, portas a ranger, gente suspeita de pele esverdeada e olhos em branco babando-se abundantemente e cambaleando como zombies a entrar e a sair altas horas ou gemidos suspeitos, fizeram-se ouvir nas imediações os rugidos típicos de uma retroescavadora em fúria.
Mais terra para ali, mais terra para acolá, a retroescavadora em delírios de testosterona e diesel num ápice cavou um buraco nos limites exteriores da propriedade do rapaz.
Andavam a "nivelar" o terreno para um "empreendimento" terá dito um encarregado. Não houve invasões de propriedade, atenção.
O certo é que não foram precisos mascarados atacando pela calada com foices e martelos. Em poucos dias, os estranhos estalidos que se começaram a fazer ouvir com epicentro indefinido, materializaram-se em rachas de todo o tamanho, cabia lá tudo, até latas de spray, que em breve colocaram o outrora amável abrigo em riscos de ruína, inabitável.
As paredes comportavam-se como casais desavindos, deitavam-se uma para cada lado.
Bom, chegados aqui, pergunta o incauto:

O Pacheco bateu umas palmas e ouviu-se o conhecido trovão que anuncia a chegada do Capitão América? O blog do Pacheco agitou-se estertórico e as reverberações escarlates propagaram-se pela blogosfera fundindo caracteres em graxa preta em loas à legalidade "democrática" em blogs da esquerda à direita, aqueles numa indignação mitigada pelo secreto júbilo de por uma vez poderem "assumir" que estavam de acordo com o mestre?

Os programas de tv do Pacheco, os programas de rádio do Pacheco, as crónicas femininas do Pacheco, a fábrica de papel higiénico impresso com posts ready made do Pacheco, o País Pacheco soergueu-se?
O Vasco Graça Moura recolheu-se numa sombra e em poucos segundos abriram-se fulgurantes as asas do homem morcego?
O editorial do Expresso regurgitou caracteres compondo a denúncia do eco de um fascismo qualquer?
Um Ministro engravatado lá foi avaliar os estragos e oferecer apoio jurídico?
Não. É que infelizmente o piloto da retroescavadora não era um ambientalista qualquer em revolta, nenhum esquerdista ou contestatário, nenhum moralista totalitário arrogando-se o direito de decidir "por nós". Não consta que tenha sido visto na Festa do Avante, que tenha T-shirt do Che ou faça raids ao camarão tigre de Moçambique do Ramiro em convívio ruidoso com os delegados das FARC.
O homem, sempre a fazer pela vida, tinha um patrão, um dedicado empreiteiro, um honesto self made man daqueles que existem para ser exaltados nas crónicas mais lacrimejantes da bondosa Helena Matos.
Não havia aqui, pois, atentado, não havia excepcionalmente o dedo do Governo, demissões a exigir, dividendos políticos a extrair, estava tudo normal e ordeiro.
O rapaz que se amanhasse no pântano dos advogados, dos seguros, das vistorias da câmara, hoje falta o delegado de saúde, amanhã o primo, depois a atroz dificuldade da autarquia em emitir certidão do estado da duvidosa legalidade da licença de obra, provavelmente inexistente...
Nada disto escandaliza o País. Até porque continua tudo na mesma.
E ainda bem, já nos explica o extraordinário Miranda que a especulação é uma coisa positiva, que ao fim e ao cabo até é bem capaz de fazer prosperar as suas vítimas, é para bem delas, para conseguir tão puro desígnio, as noites de trabalho, o que sofrem os especuladores imobiliários... uns heróis, enfim...
E na realidade a justiça tem os seus caminhos, os seus pequenos heróis das grandes histórias: não é que o rapaz de Alverca se indignou mais com os mascarados de Silves do que com o empreiteiro que lhe deitou a casa abaixo?

 

Tudo dito

Afinal não houve debate sobre os transgénicos.
Percebi finalmente porque é que o sr. Canhoto, biólogo, escreveu um dos textos mais imbecis que se publicaram durante a "crise".
Aliás, até percebi porque é que chamaram o sr. Canhoto para escrever aquele arremedo de guião de "stand up comedy" intitulado "os cereal killers". É que o sr. Canhoto tem o suficiente treino de comediante para dizer as bacoradas mais aberrantes com o ar anódino de quem bebe um copo de água.
Para o investigador Canhoto a coisa resume-se a isto:
A comissão europeia aprovou os transgénicos, e a partir daí deixa de haver necessidade de investigar seja o que for. Era o último parágrafo dos "cereal killers" e percebe-se porquê, não havia mais argumentos.
Não mais necessidade das tangas sobre as "poucas probabilidades" de contaminação, não mais necessidade de tangas sobre rotulagens, não mais necessidade de pézinhos de lã... tudo isso que se dane. E porquê? Porque a Autoridade Alimentar Europeia aprovou...
Mas afinal as entidades reguladoras não são um crime contra a humanidade, impedindo-a de prosseguir na sua paz sossego e liberdade regulada pelo mercado?
Sem dúvida sempre que se mostrem incómodas.
Mas o que sucede se chegam a uma decisão a que foram levadas por um funcionário qualquer agindo em causa própria e das multinacionais do ramo para quem se dispõe a fazer um frete?
Aí são lei, e lei que não se discute.
Adquirem imediatamente um novo estatuto, o de produto "mais saudável" uma vez que os produtos fetiche do Sr. Canhoto até têm vantagens sobre os produtos naturais, naturalmente imperfeitos (é como a natureza humana... há que transgenitalizá-la por certo).
Aí tornam-se a panaceia que vai cabar com os insecticidas e pesticidas, vão, inclusivamente, ACABAR COM A FOME! É desta.
Espero que acabem com a fome, pelo menos, do Canhoto. Ponham-no a uma dieta de palha transgénica, talvez lhe surjam novas ideias brilhantes.

domingo, setembro 09, 2007 

Transgénicos de novo na TV

Na próxima edição do programa Sociedade Civil, amanhã dia 10 de Setembro às 14h na RTP2 debater-se-á o problema dos transgénicos na saúde e no ambiente.
O programa é moderado por Fernanda Freitas e contará com a presença de vários participantes entre os quais Margarida Silva da Plataforma Transgénicos Fora do Prato.
Pode participar-se no programa através do blog
telefonando para o 21 751 11 17 ou escrevendo para sociedade-civil@rtp.pt .

O programa pode ser também visto em diferido em no site:
(Procurar pela data de 10 de Setembro, seguido pelo nome do programa)

Outras informações sobre a questão dos transgénicos:
http://groups.yahoo.com/group/InfoNature-Portugues/message/806

Documentários a não perder sobre organismos geneticamente modificados:
FUTURE OF FOOD:
GMOs-PANACEA orPOISON:
Life running out of control:
Tudo o que é pacóvio obscurantista, da direita à esquerda, já armou a tenda do insulto roskoff e gastou os foguetes do moralismo autoritário para abafar a priori qualquer hipótese possível de discussão a pretexto da destruição de meia dúzia de maçarocas.
Muita gente, mesmo investigadores, já deram opiniões muito divergentes sobre os perigos reais dos transgénicos, defendendo nalguns casos que ninguém com credibilidade científica se preocupa com o problema. Será realmente esse o caso? Temos o dever de nos informar.

 

O demiurgo

Prosseguindo a descrição do seu sonho lindo, Sofia Galvão confessa esperar por "um líder afirmativo e forte" para o PSD.
Até aqui tudo bem, são caracteristicas tradicionais dos lideres do PSD e raros serão os simpatizantes, militantes e dirigentes do PSD que não se consideram afirmativos e fortes e com grande capacidade de liderança.
O pior é a lista de características que Sofia exige de seguida.
Parece uma daquelas listas de casamentos. Só falta a máquina de lavar roupa.
O leque de candidatos, por muito que seja elevada a auto-estima dos dirigentes do PSD, restringe-se.
Drasticamente.
Talvez resista o Alberto João Jardim, equipado pelos electrodomésticos do generoso Valentim Loureiro.
Será ele capaz de "densificar um objectivo de crescimento e de lhe dar lastro político- na charneira entre uma quantificação rigorosa e lúcida da meta a atingir e a demonstração prática das múltiplas implicações concretas da sua transposição na vida de todos e de cada um."?
Logo após o lastro, as quantificações, as múltiplas implicações e transposições, a incansável cronista exige ao candidato a líder resposta a um interrogatório que deverá ter semelhança com os que fazem no tibete os doutos monges a certas crianças para se certificarem de que são re-encarnações de grandes mestres já desaparecidos.
Surpreendentemente, poupa-o à revelação da chave do euromilhões, um assunto que contribuiria, a meu ver decisivamente, para densificar objectivos de crescimento de muito boa gente.
É esta a chave da renovação: o PSD precisa para começar de um líder que seja muito forte, muito líder, e acima de tudo que seja bruxo.

 

Crónica desportiva

A selecção não anda bem.
Felizmente Pulido Valente, Rui Ramos, Helena Matos e companhia já encontraram dois culpados:
O estado providência e o estado social.
Se queremos ser alguém no Europeu, Scolari tem de ver-se livre destes dois.

 

Homenagem sentida

Alguns ressaibiados acusam as nossas elites, em particular a empresarial, de falta de rasgo criador. Inócua vingançazinha de falhados.
Claramente insuspeito, o Bidão insurge-se contra uma acusação cruelmente injusta para com as elites de um País que em simultâneo com a total ausência de contestação social pode orgulhar-se de ser na Europa aquele com maiores desigualdades entre os que mais e os que menos rendimentos auferem, e ainda assim conseguem trazer diariamente os media empapados com queixumes acompanhados pelo zumbido incessante de uma legião de cronistas arregimentados exigindo "mais reformas" "estruturais".
Isto, meus senhores, não é falta de rasgo, isto é brilhantismo.

 

Ideias concretas

Habituado ao tom condescendente e definitivo de tudo o que é publicado na constelação de blogs direitistas que incontestavelmente domina a blogosfera portuguesa, tive curiosidade em folhear o número de Setembro da revista Atlântico, à procura das receitas propostas pela seita para reanimar o corpo moribundo do tal partido social-democrata.
A expectativa é lícita, uma vez que a ser exequível esta empresa, se tornaria num case study à escala mundial de concretização de exportação da democracia tal como ela é entendida nos abastados think tanks neoconservadores americanos.
E ainda por cima, ao contrário do que é habitual, sem ser, em princípio, à bomba.
E é nesta linha ambiciosa que Sofia Galvão abre o jogo e expõe a receita para o sucesso:
"Sonho com um País diferente", começa o seu artigo.
Está assim traçado o caminho para a salvação do PSD.
Reconverter-se em agência turística e organizar para os seus dirigentes, viagens para locais remotos.

sábado, setembro 08, 2007 

Entrismo

Há uma geração de direita que chegou tarde ao mercado da política.
Vítima da moda ultraliberal que pegou sobretudo nos Estados Unidos nos últimos 20 anos, esta rapaziada cheia de estudos e ideias criativas encontrou o caminho para o estrelato barrado por uma geração que nunca mais morre de ex-esquerdistas que ocupam os lugares mais mediáticos, ainda por cima com o discurso reciclado e a papaguear com credibilidade q.b. o politicamente correcto neocon da moda. Como ainda não teve a capacidade necessária para criar um partido, anda por aí aos caídos a tentar encontrar um ninho que os acolha.
Umas vezes é o CDS.
Outras, como no momento presente, é o PSD.
O grande partido populista vegeta como uma grande carcaça vazia à deriva com a grossa pele tatuada de simbolos alaranjados.
Abandonado de surpresa por um lider que consciente da forma perfeitamente fortuita como foi disparado sem saber ler nem escrever para primeiro ministro de Portugal soube aproveitar uma oportunidade única na vida para se pôr a milhas desta confusão, o partido vê-se obrigado à tortura de fazer "oposição" a um Governo que em traços gerais aplica um programa consensual entre os ideólogos dos chamados "partidos do regime", mas com natural desiquilibrio na proporção do exercício do poder e acesso às benesses inerentes.
Talvez em homenagem às tácticas entristas aprendidas pelos seus mentores ideológicos neocons de quem se murmura que terão frequentado na juventude exóticos grupúsculos de inspiração trotskista, a seita que meteu na cabeça a ideia aberrante de que um sistema político democrático em Portugal ou em qualquer buraco nas Ilhas Fidji, para existir, terá de tentar macaquear a grande nação americana incluindo na devoção sem limites pelas alucinações mais inverosíveis do Grande Pai Branco de Washington, parece achar que o cadáver está pronto para ser ocupado, comido por dentro, cheio articialmente. É talvez esta a razão pela qual no número de Setembro da revista Atlântico se encontra tanta gente cheia de ideias concretas para insuflar nova vida no velho partido.

 

Os defraudados

Alguma imprensa parece sentir-se defraudada pelas aparentes reviravoltas do caso McCann.
Parece que a credibilidade da PJ está em jogo...
Pensam talvez que a credibilidade da imprensa, que a respeito deste caso ( para não falar de mais) mais não tem sido do que uma câmara de eco de todos os boatos, juízos de valor, teorias e hipóteses capazes de emergir das tortuosas ramificações dos neuróneos da mais fútil dona de casa, está em alta.

terça-feira, setembro 04, 2007 

Oásis

Ao chegar a casa, um daqueles raros momentos que justificam a presença da televisão.
O Discovery Channel passava o documentário Jaglavak filmado entre os Mofus, uma tribo que habita numa região remota algures ao norte dos Camarões.
Como não tenho muito talento para descrições poéticas apenas posso dizer que acabei grudado ( já é assim como que uma liberdade um tanto excessiva, eu sei) ao ecrã.
Lembrei-me de uma outra Tribo muito especial.

domingo, setembro 02, 2007 

Panaceia

Numa discussão no blog ambio sobre o movimento verde-eufémia, o ambientalista António Eloy que se tem destacado pela crítica violentamente não violenta aos activistas de Silves, afirmou num comentário que: "ainda ontem vários agricultores , claro grandes agrários!, me disseram que não fora a minha tomada de posição e iriam converter-se aos transgénicos!".
Parece-me esta uma boa novidade porque mostra um caminho seguro para a resolução de vários problemas ambientais, como por exemplo o nuclear.
Por exemplo, era o António Eloy, activista não violento até nas palavras "tomar posição" contra alguém que insultasse publicamente o Patrick Monteiro de Barros e estava resolvido o problema do nuclear no nosso País.
Em última análise, talvez a solução mais segura para sensibilizar muitos cépticos para os problemas ambientais com que se debate o planeta Terra, seria, ainda antes de se lhes distribuir "An inconvenient truth", solicitar ao António Eloy que se recusasse a discutir esses temas ou abandonasse o planeta.

 

Alô, alô

São muito preocupantes as críticas que têm vindo a público quer de magistrados quer de jornalistas ao novo Código de Processo Penal que entrará em vigor no próximo dia 15 de Setembro.
Há, no entanto uma que eu não entendo, apesar de naturalmente admitir o contraditório:
Como é que pode ser considerada restrição à liberdade de informação a proibição da divulgação pública de escutas telefónicas autorizadas por juízes no âmbito de processos criminais, quer os processos estejam ou não em segredo de justiça?
Não é um princípio básico da defesa da liberdade (da liberdade tout court...) que apenas em circunstâncias excepcionais se autorizem escutas, sob a responsabilidade de um juiz ?
Com que direito então é que causa estranheza que seja proibida a divulgação de escutas telefónicas obtidas com recurso a perrogativas excepcionais atribuidas pela lei aos magistrados no âmbito de determinadas investigações?
Não são as escutas telefónicas um crime quando efectuadas sem esse enquadramento legal, apesar de tenderem para a banalização?
Uma coisa é aceitarmos ser necessário dar aos juizes e à polícia meios tecnológicos adequados para combater em determinadas condições certo tipo de crimes graves e de grande impacto público, algo que deveria ser totalmente ilegal.
Outra é permitir a sua banalização.
Outra ainda é permitir que a coberto do conceito da liberdade de imprensa, essencial para a democracia, se insinue a liberdade de delação e a devassa da vida privada das pessoas. Seja através da reprodução de escutas seja através da respectiva transcrição.
Lembrar a este propósito como a imprensa ( certa imprensa, eu sei, mas acabou por tornar-se um "facto" em TODOS os media, sérios ou não, comentado à saciedade e com a profundidade do costume pela generalidade dos criadores de graçolas) lidou com as "fugas" de informação durante o processo Casa Pia. Foi "liberdade de informação", aquilo? Ou foi manipulação descarada?
Alguns, mais voluntariosos, estão já a ver os coitados dos jornalistas a serem privados de efectuarem aquelas grandes reportagens de risco em que se insinuam entre grupos de criminosos munidos de câmaras e escutas.
Julgo que não é disso que se trata. Trata-se apenas de proteger o direito de privacidade, essencial em democracia e liberdade.

sábado, setembro 01, 2007 

O silêncio dos indecentes

Esther Mucznick escreveu no público um textozinho pungente sobre o rapto a 26 de Junho de 2006 do soldado Guilad Shalit, ao serviço do exército israelita em Gaza.
Um jovem, de 21 anos... quem não se preocupará com a sorte do soldado Shalit?
Que verme ficará indiferente à sorte de inocentes?
Israel não ficou, como bem sabem os libaneses, indiferente. Nem as ambulâncias escaparam...
Estranha coincidência, os media reportaram que no dia 28 de Agosto passado, o exército israelita talvez para manifestar também a sua preocupação, abateu (mais) duas crianças palestinianas algures nos territórios ocupados.
Jovens de 10 de 12 anos...
Os palestinianos, como sabemos, talvez por não terem muito apego às suas crianças, não costumam ter grandes possibilidades de fazer os israelitas lembrarem-se destes pequenos efeitos colaterais grandemente exagerados pelos média (talvez tivesse sido apenas criança e meia que foi morta e um deles já tinha sido morto várias vezes e portanto não vale, os militares israelitas tiveram o cuidado de informar previamente que os iam abater, costumam informar-nos os sensatos funcionários, encartados ou não, do estado israelita em Portugal).
Destas crianças, não é referido para já o nome em crónica nenhuma de Esther Mucznick.
Essa crónica estará programada, talvez, para daqui a um ano e tal.
Pois que verme ficará assim, indiferente à sorte de inocentes?